Extorsões de traficantes e milicianos na Grande Jacarepaguá: Taxa de Barricada e pedágio para estacionar assombram moradores

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‘Taxa de Barricada’ e ‘pedágio’ para estacionar: moradores denunciam extorsões de traficantes na Grande Jacarepaguá

A Rua Araticum, antes uma das mais pacatas da região, virou alvo de disputa entre o tráfico e a milícia. Com recordes de assassinatos, hoje é conhecida como a ‘Rua da Morte’. Moradores da Grande Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, denunciam que traficantes cobram para estacionar e para manter barricadas.

O Comando Vermelho invadiu áreas que eram controladas por milicianos ou que não estavam sob domínio de criminosos e adotou práticas como a extorsão para acesso a serviços básicos. O avanço do crime organizado sobre a região de Jacarepaguá aconteceu em menos de 2 anos. A Rua Araticum, no Anil, é um exemplo da velocidade com que quadrilhas dominaram a região.

Até meados de 2022, era uma rua conhecida na vizinhança pela tranquilidade. Parte dela é uma área de casas e condomínios, nos pés da Floresta da Tijuca, com trilhas que levam a cachoeiras, como a do Quitite, no alto da rua. Hoje, justamente essas características geográficas fazem dessa rua um ponto de disputa entre o tráfico e a milícia — sobretudo na região conhecida como sertão, que dá acesso a pontos de interesse das quadrilhas, como Rio das Pedras e Muzema.

“Foram botando ponto de venda de drogas ali. Essa região foi uma região que teve muitos mortos, porque tinham vítimas tanto do tráfico quanto da milícia. Como é uma região de fronteira, por vezes os traficantes matavam gente envolvida com a milícia, e milicianos matavam pessoas envolvidas com o tráfico. Então, estourou o número de homicídios naquela região. Então a Araticum ficou, inclusive, conhecida como a Rua da Morte”, explica o delegado adjunto da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC), Leandro Costa.

Só em 2023, foram registradas 15 mortes na Araticum, de acordo com o Instituto Fogo Cruzado — quantidade que deixou a rua em 2º lugar no ranking de vítimas na região, ficando atrás apenas da Cidade de Deus, com 22. Rio das Pedras vem em seguida e é outra localidade que sofre com as disputas entre tráfico e milícia, com 13 mortes.

Quando o tráfico se instalou na Grande Jacarepaguá, adotou práticas que eram usadas pelas milícias que já dominavam partes dessa região. A venda de drogas continuou, mas o que ajudou a alavancar as receitas do Comando Vermelho foram as extorsões a moradores e comerciantes. Serviços públicos e particulares, como água, luz, gás e internet, são taxados pelos criminosos. Moradores precisam pagar mensalidade até para estacionar na rua.

Há poucos meses, traficantes criaram uma outra tarifa: a chamada “Taxa de Barricada”. Comerciantes são obrigados a pagar para ajudar o tráfico a colocar obstáculos nas ruas. Em outra conversa, um traficante relata ao chefe que pegou homens furtando cabos de energia e pede orientação sobre o que fazer.

Com mais dinheiro entrando, os traficantes compram mais armas e fortalecem a quadrilha como um todo. É o que mostra uma conversa entre um dos responsáveis pelo tráfico em Jacarepaguá, Juan Breno Malta Rodrigues, o BMW, e um integrante da cúpula do Comando Vermelho, do Complexo da Penha, Edgar Alves de Andrade, o Doca. Eles falam sobre compra de munição para fuzis.

O secretário de Segurança Pública do Rio considera que a situação está estancada na região de Jacarepaguá desde o ano passado. “O crescimento imobiliário em Jacarepaguá cresceu muito nos últimos 10 anos. Quanto mais pessoas, mais possibilidade de receita. E o que a Segurança Pública fez em 2024? Primeiro, estancar esse processo. Tiveram guerras? Sim, várias delas, mas não houve a tomada ou retomada de territórios por qualquer facção”, disse Victor Santos.

Ao longo das investigações, foi evidenciado o papel nefasto das quadrilhas na vida dos moradores de Jacarepaguá, que agora vivem sob a sombra da extorsão e da violência. A atuação criminosa tem impactos diretos na segurança e na rotina dessas comunidades, evidenciando a urgência de ações efetivas para combater o avanço do crime organizado na região.

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