Médica vira ré por falsos diagnósticos de câncer de pele: Justiça aceita denúncia no Paraná

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Justiça aceita denúncia e médica vira ré por dar falsos diagnósticos de câncer
de pele no Paraná

Carolina Biscaia responde por estelionato, falsificação de documentos e lesão
corporal. Defesa diz que comprovará “enorme injustiça que sofreu a cliente”.

1 de 3 Médica Carolina Fernandes Biscaia Carminatti, de Pato Branco — Foto:
Redes sociais Médica Carolina Fernandes Biscaia Carminatti, de Pato Branco — Foto: Redes
sociais

A médica Carolina Fernandes Biscaia, de Pato Branco [https://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/cidade/pato-branco/], no
sudoeste do Paraná, virou ré na Justiça por emitir laudos falsos de câncer de
pele e realizar procedimentos desnecessários em pacientes. Ela foi denunciada
pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) [https://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2024/10/30/medica-e-indiciada-por-falsos-diagnosticos-de-cancer-de-pele-no-parana-forte-pressao-psicologica-nos-pacientes-diz-delegado.ghtml] em outubro de 2023 por lesão corporal, estelionato, falsidade ideológica e por
exercer atividade ou anunciar que a exerce sem os requisitos necessários.

Carolina começou a ser investigada em março de 2024, quando pacientes
suspeitaram de procedimentos cirúrgicos solicitados [https://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2024/03/25/medica-suspeita-de-enganar-pacientes-com-diagnosticos-de-cancer-foi-gravada-por-paciente-comemorando-retirada-de-falso-melanoma-ouca.ghtml] por
ela. Pelo menos 31 pessoas formalizaram denúncia [https://g1.globo.com/pr/oeste-sudoeste/noticia/2024/02/29/medica-suspeita-de-emitir-falsos-laudos-de-cancer-passou-a-ser-investigada-apos-paciente-exigir-copia-de-resultado-de-exame-diz-delegado.ghtml] à Polícia Civil (PC-PR). Relembre abaixo.

A denúncia foi aceita pela Justiça em 31 de janeiro, referente a casos narrados
por 38 vítimas. Em sete casos, o juiz Eduardo Faoro não reconheceu parte dos
crimes atribuídos à médica na denúncia do MP.

“Em relação aos demais delitos narrados na denúncia, os elementos de cognição
até então produzidos traduzem indícios das suas existências e das suas autorias
pela acusada”, diz trecho.

A defesa de Carolina foi notificada na última segunda-feira (3) e tem prazo de
10 dias para responder.

De acionou a defesa da médica, que
informou que “com o recebimento da denúncia pela vara criminal da comarca de
Pato Branco, a Justiça começa a ser feita pois o magistrado rejeitou diversos
crimes dos quais ela encontrava-se acusada”, disse o advogado Valmor Antonio
Weissheimer ao DE.

O advogado disse ainda que a defesa comprovará “a enorme injustiça que sofreu a
sua cliente”.

Mais sobre o caso:

Relatos: vítimas gastaram mais de R$ 130 mil com a médica
Trauma: Paciente que fez cirurgia desnecessária diz que ‘maior cicatriz foi psicológica’

O INQUÉRITO QUE LEVOU À DENÚNCIA DO MP

O delegado Helder Lauria, responsável pela investigação que indiciou a médica em
21 de outubro de 2024, afirmou que a conclusão do inquérito expôs como a médica enganava os pacientes. Conforme o delegado, a investigação revelou
que Biscaia agiu sozinha.

> “Todas as vítimas relataram uma forte pressão psicológica feita pela médica
> durante a consulta para que fossem realizados os procedimentos tão logo ali no
> consultório, logo depois que ela dava o diagnóstico”, afirmou o delegado.

Delegado fala sobre conclusão de inquérito contra médica que falsificava laudos
falsos

Conforme o delegado, as investigações identificaram que a médica examinava
pintas e manchas dos pacientes e afirmava que algumas poderiam ser cancerígenas.
Ela, então, fazia retirada de material e encaminhava para laboratório.

De acordo com a polícia, na reconsulta, ela apresentava ao paciente um laudo
falso com diagnóstico de câncer de pele. Segundo o delegado, a perícia em exames
que estavam no consultório, bem como entregues pela médica à pacientes mostrou
que a falsificação era feita com máquina de xerox, no próprio consultório.

Além disso, a investigação apurou que documentos falsos eram colocados sobre os
verdadeiros e, com a ajuda do equipamento, eram criadas novas versões de laudos.

MÉDICA FOI IMPEDIDA DE EXERCER A PROFISSÃO

2 de 3 Registro da profissional no Conselho Federal de Medicina — Foto: CRM

Registro da profissional no Conselho Federal de Medicina — Foto: CRM

Em março de 2024, o Conselho Regional de Medicina de Paraná (CRM-PR) puniu a
médica com a chamada “censura pública” por anunciar ter especialidades que não possui.

Desde maio, uma Interdição Cautelar Total de 180 dias determinada pelo CRM-PR e
aprovada pelo Conselho Federal de Medicina impede a médica de exercer a
profissão.

Em consulta ao site do conselho, através dos números de registro profissional da
médica no Paraná e em São Paulo, não são encontradas especialidades atribuídas à
Biscaia. Nas redes sociais, a médica afirmava ser dermatologista.

O DE questionou o CRM se a médica continua
impedida de exercer a profissão e aguarda retorno.

ÁUDIO REVELA MÉDICA COMEMORANDO RETIRADA DE FALSO MELANOMA

Um áudio obtido com exclusividade pelo DE em março de 2024, e que consta
no inquérito encaminhado à Justiça, mostra o momento em que a médica Carolina
Fernandes Biscaia Carminatti comemorou a retirada de um falso melanoma de uma paciente. A conversa foi
gravada pela vítima em janeiro de 2024. Ouça o áudio acima.

> “Não sei se você é católica ou não, mas passa na igreja agradece a Deus, tem
> coisas assim que a gente tem que agradecer, sabe? Tem que agradecer, porque,
> como eu disse, a chance de pegar assim (melanoma), nesse estágio de que a
> gente só amplia a margem e está curada, é uma dádiva […]. Não precisa se
> preocupar com metástase”, afirmou a médica.

No início da investigação, o delegado explicou que o áudio da consulta “ajuda a
comprovar o alegado pela vítima, pois confirma as palavras ditas pela médica”.

À polícia, a vítima contou que fez a gravação por precaução, pensando em repassar
o material aos familiares, uma vez que ela teve melanoma em 2013 e este se
tornou um tópico de preocupação.

A vítima descobriu o falso diagnóstico após encontrar inconsistências
no laudo apresentado por Carolina, comparando com o documento retirado por ela
diretamente no laboratório.

Depois da descoberta, a gravação passou a ser prova para investigação.

A pedido da médica, ela passou pelo procedimento chamado de ampliação de
margens. No caso dela, a falsa doença foi identificada na perna esquerda. A
vítima gastou mais de R$ 5 mil e leva uma cicatriz desnecessária na perna.

3 de 3 Mulher passou por retirada de possível material cancerígeno após
apresentação de falso laudo médico — Foto: Arquivo pessoal

Mulher passou por retirada de possível material cancerígeno após apresentação de
falso laudo médico — Foto: Arquivo pessoal

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