DE “lamenta” saída do Panamá de projeto após pressão de Trump
Na condição de segundo maior usuário do canal depois dos Estados Unidos, a China
esperava obter condições favoráveis para seus negócios
DE “lamenta profundamente” a retirada do Panamá do projeto Novas Estradas da Seda.
A decisão foi tomada sob pressão de Donald Trump, que alega que o Canal do Panamá está sob o controle de Pequim. O chefe da Casa
Branca acredita que seu país deveria se beneficiar de melhores condições comerciais.
Uma reunião telefônica entre o presidente panamenho e Donald Trump está agendada
para esta sexta-feira (7/2). No domingo, após sua reunião com o Secretário de
Estado dos EUA, Marco Rubio, o presidente do Panamá, José Raul Mulino, anunciou
que não daria continuidade à cooperação com a China no projeto de infraestrutura
Novas Estradas da Seda, que é fundamental para a estratégia chinesa de aumentar
sua influência no exterior e garantir seus suprimentos.
Pequim disse nesta sexta-feira (7/2) que “lamenta profundamente” essa retirada.
“A China se opõe firmemente ao uso de pressão e coerção pelos Estados Unidos
para denegrir e minar a cooperação” nesse projeto, disse Lin Jian, porta-voz do
Ministério das Relações Exteriores da China.
DE ESTREITAMENTO PARA PEQUIM
O Panamá está, de fato, infligindo um revés estratégico à China, que fez dessa porta de
entrada para a América Latina um ponto crucial em sua expansão. Desde 2017,
Pequim tem investido pesadamente no Panamá, especialmente em portos e logística,
buscando facilitar seu comércio. Na condição de segundo maior usuário do canal
depois dos Estados Unidos, a China esperava obter condições mais favoráveis para seus negócios.
Embora Pequim não controle o canal, sua presença na infraestrutura lhe garantiu
uma influência crescente em uma região historicamente sob o domínio
norte-americano. Mas essa saída do Panamá do projeto chinês muda completamente a
situação. Os investimentos chineses no país poderão passar pelo crivo dos EUA, ou até mesmo serem reduzidos, e
Pequim poderá se voltar para outros parceiros, como o Brasil ou a Argentina.
PRESSÃO DOS EUA
Essa é uma vitória diplomática para Washington, que teme a crescente influência
de Pequim, especialmente sobre esta infraestrutura estratégica, vista pelos EUA
como um risco à segurança. Como o Canal do Panamá é ponto central para o
comércio mundial, o afastamento de Pequim fortalece a influência norte-americana na região. Um
desenvolvimento que poderia remodelar o equilíbrio de poder na América Latina.
O acordo com o Panamá, renovado a cada três anos, deveria expirar em 2026. Mas
Donald Trump quer que as coisas andem rapidamente. Assim, na segunda-feira, ele
expressou sua insatisfação, e o Panamá finalmente exercerá sua cláusula de
exclusão agora do projeto chinês – para uma retirada efetiva em 90 dias.
Mas essa saída não parece ser uma grande concessão para Mulino, uma vez que ele
já havia expressado suas reservas sobre os resultados dessa parceria, que
começou em 2017 com poucos resultados tangíveis.
No entanto, essa retirada das Novas Rotas da Seda pode não ser suficiente aos
olhos do governo dos EUA. O presidente panamenho deve manter discussões com seu
homólogo norte-americano nesta sexta-feira, que pode muito bem expressar outras
exigências.
A China continua presente por meio de uma empresa de Hong Kong que opera dois dos portos
da Zona do Canal, Balboa e Cristobal. Mas uma auditoria está em andamento, por
iniciativa das autoridades panamenhas, sobre as condições da concessão. O
presidente Mulino advertiu que o contrato só será rescindido se houver um motivo
válido para isso ao final desse processo.
Outro ponto de atrito com Washington são os direitos de passagem pelo canal. O
Departamento de Estado dos EUA alegou que havia obtido passagem livre para a
frota militar norte-americana no canal, uma alegação que foi negada pelas
autoridades locais pouco tempo depois.