Controvérsia nas ruas: trégua entre PCC e CV em xeque

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Trégua de líderes do PCC e CV gera controvérsia nas ruas e presídios

Levantamento feito por forças de segurança aponta que os faccionados dizem que a guerra já foi longe demais para ser encerrada por um acordo. A tentativa de trégua entre as duas maiores facções criminosas do Brasil, Primeiro Comando da Capital (PCC) e Comando Vermelho (CV), está longe de ser um consenso. Apesar da articulação entre as lideranças para um cessar-fogo histórico, fontes da segurança pública indicam que parte significativa da base das facções rejeita a aliança. A resistência se dá principalmente por dois motivos: a disputa acirrada pelo controle das rotas do tráfico e o sentimento de vingança que domina os grupos após anos de guerra e muitas mortes. A insatisfação pode colocar em risco a efetivação do plano.

Conforme a coluna revelou com exclusividade, a movimentação para um acordo entre as facções começou no ano passado e tem como objetivo flexibilizar as regras do Sistema Penitenciário Federal (SPF). As unidades de segurança máxima abrigam os principais chefes das organizações criminosas, que enfrentam restrições rigorosas, como a proibição de visitas íntimas e contatos limitados com advogados e familiares. Advogados das facções têm atuado como intermediários, articulando um plano jurídico para enfraquecer as normas rígidas do sistema. Relatórios de inteligência já captaram comunicações codificadas e movimentações suspeitas entre os advogados do PCC e do CV, indicando que uma força-tarefa está sendo montada para pressionar o governo.

A aliança também vem sendo monitorada nos presídios estaduais, incluindo o Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, onde detentos discutem a possível trégua. Apesar dos esforços de algumas lideranças para consolidar a trégua, a resistência interna dentro das próprias facções é um grande obstáculo. Muitos criminosos – tanto na cadeia quanto nas ruas – não aceitam esquecer a guerra sangrenta que já matou centenas de seus integrantes. Fontes ligadas à segurança pública revelam que há um grande descontentamento na base das duas facções, principalmente entre aqueles que perderam aliados e familiares durante o conflito. Para esses integrantes, “a guerra já foi longe demais para simplesmente ser encerrada por um acordo de cúpula.”

Além disso, a disputa territorial segue intensa em várias regiões do Brasil, com células do PCC e do CV brigando pelo domínio do tráfico em pelo menos nove estados, incluindo Acre, Amapá, Alagoas, Ceará, Pará, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima e Tocantins. O Comando Vermelho, fundado em 1979 no presídio da Ilha Grande (RJ), e o PCC, criado em 1993 na Casa de Custódia de Taubaté (SP), já foram aliados no passado. Juntas, as facções controlavam o narcotráfico nacional e internacional, operando como uma multinacional do crime. A ruptura ocorreu em 2016, quando as facções começaram a disputar territórios nos presídios e no tráfico de drogas. O PCC, que até então respeitava a hegemonia do CV no Rio de Janeiro e em algumas regiões do Norte e Nordeste, passou a conquistar territórios e desafiar o domínio da facção carioca. O estopim da guerra veio com um “salve” enviado pelos líderes do PCC ao CV, exigindo explicações sobre alianças com facções rivais.

Um dos momentos mais brutais dessa guerra foi o massacre de Manaus, em 2017, quando 56 detentos – sendo 26 do PCC – foram brutalmente assassinados pela facção Família do Norte (FDN), aliada do Comando Vermelho. Desde então, os confrontos entre as facções se intensificaram, e milhares de faccionados foram mortos ao longo dos anos em rebeliões carcerárias, execuções e confrontos armados pelo controle do tráfico. Já leu todas as notas e reportagens da coluna hoje? Acesse a coluna do DE.

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