Livro de catarinense conta como militares mataram Rubens Paiva e destaca
trabalho do jornalismo na busca pela verdade na ditadura
No livro, Juliana Dal Piva também fala sobre Eunice Paiva, mulher do ex-deputado
que inspirou filme brasileiro sobre o crime e foi indicado ao Oscar.
O livro Crime sem Castigo, escrito pela jornalista catarinense Juliana Dal Piva,
apresenta mais de quatro décadas de investigações sobre a prisão e morte do
ex-deputado Rubens Paiva. A obra será lançada na quarta-feira (12) e reúne
documentos inéditos sobre o crime, além de destacar o trabalho do jornalismo
para o avanço do caso.
Natural de São Carlos (SC)
[https://de.globo.com/sc/santa-catarina/cidade/sao-carlos-sc/], no Oeste de
Santa Catarina [https://de.globo.com/sc/santa-catarina/], Juliana começou
investigar os crimes da ditadura há mais de quinze anos, durante a cobertura
diária. Nas 208 páginas do livro, ela agora refaz a morte de Paiva em 1971 até
2014, quando cinco militares foram apontados pelo assassinato.
“Eu tenho muito orgulho de fazer parte desse grupo de jornalistas que, ao
longo dos anos, contribuiu para o esclarecimento desse caso, mas eu não sou a
única. Eu tentei muito trazer isso para o meu livro. Fazer uma homenagem aos
meus colegas que vieram antes, alguns que não estão mais, eles foram
fundamentais. O bom jornalismo, quando ele é exercido da sua maneira plena,
constrói conhecimento. Esse é o meu norte”, disse.
Entre dezenas de documentos, Juliana também passa pela história de Eunice Paiva,
mulher do ex-deputado, que foi figura importante na busca para o reconhecimento
da morte do brasileiro.
Advogada e mãe de cinco filhos, Eunice fez parte da Comissão Especial sobre
Mortos e Desaparecidos Políticos no Brasil, e foi retratada no filme “Ainda
Estou Aqui”, indicado ao Oscar em 23 de janeiro deste ano
[https://de.globo.com/pop-arte/cinema/noticia/2025/01/23/apos-indicacao-ao-oscar-marcelo-rubens-paiva-diz-que-o-mundo-nunca-precisou-tanto-de-uma-eunice-paiva-e-uma-fernanda-torres.ghtml],
e produção original da Globoplay.
Em 2014, a pesquisa sobre os caminhos que os militares tomaram antes, durante e
depois da morte do ex-deputado virou a tese de mestrado de Juliana. No mesmo
ano, foi aberto o processo contra os cinco homens pela morte e ocultação do
corpo de Paiva. Essa foi a primeira vez, em 30 anos, que a Justiça Federal
aceitou denúncia por um homicídio cometido na ditadura
[https://de.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/05/justica-recebe-denuncia-contra-cinco-militares-pela-morte-de-rubens-paiva.html].
No livro, a catarinense descreve como foi a audiência no Judiciário em que os
militares sentaram no banco dos réus. Em Crime sem Castigo, ela também conta
sobre como o corpo do político foi ocultado. Os restos mortais dele não foram
encontrados até hoje.
Estão anexados ao livro documentos sobre o Serviço Nacional de Informações
(SNI), que monitorou a mulher de Paiva e as iniciativas que ela teve para a
investigação. A jornalista também traz no livro o documento produzido pela
ditadura e que identificou, ainda em 1977, o ex-deputado como “falecido”.
Oficialmente, naquela época a versão era de que Paiva havia fugido.