Pesquisadoras da USP conquistam R$ 1,2 milhão para projeto de incentivo às mulheres na ciência
Nesta terça-feira (11) é celebrado o Dia Internacional das Mulheres na Ciência. São Carlos (SP) é polo de incentivo à participação de mulheres em ciências exatas e tecnologia.
Dia Internacional das Mulheres na Ciência é celebrado nesta terça (11)
Dia Internacional das Mulheres na Ciência é celebrado nesta terça (11)
São Carlos (SP) é reconhecida como capital da tecnologia no país, mas a cidade é também um polo inspirador e irradiador de iniciativas voltadas a promover mais diversidade e inclusão de mulheres nas ciências exatas Brasil afora.
Nesta terça-feira (11) é celebrado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, e para comemorar a data, a EPTV, afiliada da TV Globo, mostrou a determinação das pesquisadoras Lina Maria Garcés Rodriguez e Léo Ribeiro, do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da Universidade de São Paulo (USP), para incentivar o ingresso de mulheres na área.
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Juntas, elas conquistaram mais de R$ 1,270 milhões para coordenar dois projetos de alcance nacional com o objetivo de incentivar a formação, a permanência e a ascensão de meninas e mulheres em uma área ainda predominantemente masculina.
> “A tecnologia não pode ficar só na mão de um grupo social. Para ajudar a transformar democraticamente a sociedade e encontrar melhores soluções para os problemas complexos do mundo atual, necessitamos das vivências e experiências de quem se identifica com o gênero feminino. Esperamos mais representatividade nas universidade e nas empresas de tecnologia”, disse Lina.
Léo Ribeiro e Lina Rodriguez são pesquisadoras da ICMC da USP de São
Carlos — Foto: Ely Venâncio/ EPTV
Léo Ribeiro e Lina Rodriguez são pesquisadoras da ICMC da USP de São Carlos — Foto: Ely Venâncio/ EPTV
Os projetos foram selecionados em uma chamada especial do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e fazem parte de um conjunto de 36 propostas de instituições de ensino e pesquisa de todo o Brasil.
As iniciativas contam com uma ampla rede de parcerias, tanto no país quanto no exterior, incluindo projetos que já fazem parte do programa Meninas Digitais, da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), além de instituições como a Universidade Federal de Juiz de Fora e o Instituto Federal do Paraná.
Lina Rodriguez se formou em Engenharia de Sistemas na Colômbia e veio fazer doutorado na USP. Hoje, ela é professora do ICMC. “A universidade é um segundo lar para mim”, disse.
A professora Léo Ribeiro é de Bebedouro (SP) e fez faculdade em Ciências da Computação na USP de São Carlos. Léo é uma mulher trans e será a primeira professora trans do ICMC, quebrando mais uma barreira.
> “Sempre fui apaixonada por ciências exatas e acho que mais especificamente em como fazer ciência. É uma posição política, mesmo que a gente não fale de política durante as aulas, porque é um lugar onde as pessoas estão olhando
> para você para aprender coisas novas e elas vão aprender também com a sua história de vida. Espero que a gente ocupe esses lugares na ciência, na
> tecnologia e que as mulheres tenham cada vez mais impacto em como toda a
> humanidade vive, melhora, cresce e se desenvolve”, comentou Léo.
Léo Ribeiro (esq) será a primeira professora trans do ICMC da USP de São
Carlos — Foto: Ely Venâncio/ EPTV
Léo Ribeiro (esq) será a primeira professora trans do ICMC da USP de São Carlos
— Foto: Ely Venâncio/ EPTV
A dupla conduz o projeto “Escola de Verão para Meninas” e leva esse conhecimento e paixão pela tecnologia para um grupo formado por garotas de 8 a 18 anos. O objetivo é que cada grupo tenha uma ideia sobre um aplicativo para solução de problemas sociais.
> “A área de tecnologia, de engenharia e ciências exatas é uma área que está
> evoluindo muito rápido e está abrindo muitas oportunidades de carreira e
> queremos que as meninas venham ser parte de toda essa evolução”, disse Lina.
Diversos estudos ao redor do mundo demonstram que equipes mais diversas são capazes de produzir melhores resultados, até porque conseguem levar em conta múltiplas perspectivas na busca por soluções.
As pesquisadoras vão destinar a verba para bolsas e ações ao longo dos próximos três anos em quatro regiões do país para atrair meninas para as ciências exatas através de parcerias com universidade federais, institutos federais e escolas técnicas.
Um dos projetos foca na expansão dos cursos meninas programadoras e professoras programadoras, iniciativas que já certificaram mais de 1,1 mil estudantes da educação básica e 118 educadoras.
A proposta prevê o desenvolvimento de material didático e a oferta de processos formativos, com temas relacionados a questões étnico-raciais e à saúde da mulher.
Permanência de mulheres nas áreas de ciências exatas é um desafio — Foto: Ely Venâncio/ EPTV
Permanência de mulheres nas áreas de ciências exatas é um desafio — Foto: Ely Venâncio/ EPTV
Um dos principais desafios da inclusão de mulheres no ambiente acadêmico das ciências exatas é a permanência. Hoje, estima-se que a taxa de evasão de alunas em cursos de tecnologia, matemática e engenharia, durante a graduação, esteja em torno de 80%. Por isso a relevância de realizar ações para promover também a permanência estudantil.
No Brasil, o Censo da Educação Superior do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), realizado em 2022, mostrou que apenas 15,3% dos concluintes dos cursos de graduação em Computação e Tecnologia da Informação eram mulheres, sendo a área com menor representação feminina.
Nos cursos de Engenharia, Produção e Construção a realidade é parecida: 64,9% de homens e 35,1% mulheres. Já na educação a área é inversa, 78,3 % é de mulheres e 21,7% de homens.
O cenário é desafiador já que é observada uma redução constante no número de mulheres ingressantes nesses cursos em todo o mundo, o que se reflete na baixa presença feminina no mercado de trabalho de computação e tecnologia.
Em 2020, de acordo com a plataforma digital de recursos humanos, somente 12% das vagas de emprego na área eram ocupadas por mulheres, com a representatividade sendo ainda menor nos cargos de liderança.
> “As profissões dessa área, atualmente, têm os maiores salários. Então, a gente quer que as mulheres consigam ter acesso a essas vagas e que possam crescer profissionalmente, ter cargos de liderança, ser partícipes da inovação, e das mudanças sociais que toda a tecnologia traz”, finalizou Lina.