Jovem confronta homem após racismo em MG: ‘acha que tá bonita com esse bombril?’

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Jovem grava vídeo após ser ofendida pelo cabelo crespo em MG: ‘acha que tá
bonita com esse bombril?’

Caso aconteceu em Governador Valadares, no Leste de Minas Gerais. Mariana Leão,
estudante de moda e social media de 26 anos, havia saído do trabalho para
comprar flores para a tia quando foi surpreendida com comentários racistas.

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra o momento em que uma jovem
confronta um homem após ser vítima de injúria racial em Governador Valadares,
no Leste de Minas Gerais. Nas imagens, Mariana Leão, de 26 anos, questiona o agressor sobre
o comentário ofensivo que ele fez em relação ao seu cabelo crespo, comparando-o
a um “bombril”. O caso ocorreu nesta quarta-feira (19).

Mariana, que é social media, estudante de moda e ex-Miss Afro Governador
Valadares, contou ao Diário do Estado que estava a caminho de uma floricultura, durante uma
pausa no trabalho, quando foi abordada pelo homem.

> “Eu estava realmente só existindo, como qualquer outra pessoa, andando, e
> tomei um susto porque ele parou na minha frente. Ele estava de óculos de sol,
> mas eu conseguia sentir a repulsa dele pelo meu cabelo”, relatou.

De acordo com a estudante, o homem fez um comentário ofensivo, dizendo: “Você
acha que você tá bonita com esse bombril? Como é que você tem coragem de usar um
cabelo horroroso desse?”. Mariana, que já enfrentou situações semelhantes ao
longo da vida, disse que a cena a fez reviver um trauma de infância.

> “Lembrei de quando eu tinha 4 anos e fui dama de honra em um casamento. Minha
> mãe me deixou no salão para fazer um penteado, e as cabeleireiras riram do meu
> cabelo, penteando com violência e alisando meus cachos sem permissão.”
> desabafou.

Apesar de inicialmente não pretender registrar um boletim de ocorrência, Mariana
mudou de ideia após receber mensagens de apoio nas redes sociais.

> “Uma mulher me disse que o que eu estou fazendo é corajoso e que as pessoas
> precisam se sentir constrangidas com atitudes como essa. Isso me fez perceber
> que não podemos mais nos calar”, afirmou.

Mariana deixou um recado para quem já passou ou passa por situações semelhantes.

> “Não devemos mais nos calar ou nos contentar. Não estou dizendo para sermos
> violentos, mas não podemos aceitar o racismo. Temos que constranger o agressor
> e mostrar que essa forma de agir é errada […] Ninguém deve ser julgado ou
> sofrer por uma característica que não pode mudar”.

DIFERENÇA ENTRE INJÚRIA RACIAL E RACISMO

Marcos André, advogado presidente da Comissão Nacional de Promoção da Igualdade
(CPIR) da OAB de Governador Valadares, explicou a diferença entre injúria racial
e racismo.

> “Os dois tipos penais se fundam no mesmo elemento, que é a ofensa em função da
> raça, ou desse elemento discriminador. A diferença entre os dois delitos se dá
> em função de quem atinge. No racismo, nós temos uma coletividade de pessoas, é
> todo o grupo que é atingido por aquela ofensa ou ação que é fundada na
> discriminação. No caso da injúria racial, que estamos falando aqui, prevista
> no artigo 140 do Código Penal, a ofensa se fundamenta na pessoa específica
> daquela pessoa ofendida. Então, em um, a gente tá ofendendo apenas uma pessoa,
> e no outro, estamos ofendendo uma coletividade. Esse é o elemento
> diferenciador entre os dois delitos”, afirmou.

A pena prevista para quem comete injúria racial é de 2 a 5 anos de restrição de
liberdade.

Ele ainda orientou as vítimas sobre os passos a serem tomados após sofrerem
injúria racial ou racismo.

> “O primeiro passo é fazer a denúncia. A vítima pode procurar a polícia, o
> Ministério Público, a Defensoria Pública ou um advogado de confiança para mais
> instruções”, disse.

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