Opinião: Portuguesa deixa escapar vitória no Paulistão em empate doloroso com São Bernardo FC – Análise completa

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Opinião: um Paulistão de amargos e dolorosos pontos perdidos pela Portuguesa

Empate com o São Bernardo FC, com pênalti nos acréscimos do segundo tempo, embaralha as contas da Lusa na busca pela classificação para as quartas de final. Livre do rebaixamento no Paulistão e com vaga garantida na Série D do Campeonato Brasileiro de 2026, caso não suba para a Série C ainda neste ano. Os resultados do dia anterior fizeram com que a Portuguesa recebesse o São Bernardo FC no Pacaembu pensando única e exclusivamente na classificação às quartas de final.

A inexistência desse peso seria fundamental para enfrentar um dos adversários mais difíceis no campeonato. A equipe do ABC tem a segunda melhor campanha do estadual, atrás apenas do Corinthians, e viria com força máxima, precisando do resultado para se assegurar na próxima fase em um grupo embolado com Ponte Preta e Palmeiras. Talvez esse cenário tenha sido primordial para a Lusa entrar em campo concentrada, focada, ligada, acesa, mas não afobada. Foi, sem dúvidas, uma das atuações mais sólidas e consistentes da equipe rubro-verde desde o início do campeonato.

O técnico Cauan de Almeida só fez uma alteração em relação à escalação titular que vinha adotando: a entrada do volante Barba na vaga de Hudson, que sentiu desconforto muscular. Barba, portanto, faria companhia a Tauã na contenção do meio-campo. A Portuguesa foi de Rafael Santos no gol; Talles na lateral direita e Lucas Hipólito na esquerda; Gustavo Henrique e Eduardo Biazus no miolo de zaga; Tauã e Barba como os volantes, com Cristiano com a 10; na frente, Jajá, Renan Peixoto e Maceió.

O que se viu foi o que se esperava. Um jogo aberto, franco, de duas equipes buscando ter o domínio de jogo, o controle da bola, a iniciativa ofensiva. Nesse cenário, sobretudo no primeiro tempo, a Lusa conseguiu ser superior. Uma equipe encaixada. Até pela organização tática e pela qualidade técnica do São Bernardo FC, não foram tantas assim as chances efetivas de gol. Destacam-se dois chutes de Jajá, um aos 3 e outro aos 32 minutos, e uma finalização de Talles invadindo a área pela direita, que tirou tinta do travessão do goleiro Alex Alves, aos 35 minutos.

Do outro lado, o goleiro Rafael Santos praticamente não trabalhou. Quando veio o intervalo, com o placar zerado, estava nítido que o jogo caminhava para ser definido nos detalhes. Uma preocupação do lado da Portuguesa era a saída do meia Cristiano para a entrada de Rildo, no meio do primeiro tempo, ao sentir o posterior da coxa esquerda.

Veio a etapa final e a Portuguesa entrou no mesmo ritmo, até adiantando um pouco mais a marcação e arriscando mais de fora da área. Foi assim que, aos 16 minutos, Rildo recebeu de Barba na intermediária, girou, ajeitou para a perna esquerda e disparou. Um golaço, no ângulo direito do goleiro Alex Alves, sem qualquer chance de defesa. Parecia ser o detalhe que decidiria o jogo. O gol do desafogo. A fagulha que faltava para a Lusa se colocar em vantagem, conquistar a vitória e ir para a última rodada com foco total na classificação para as quartas de final. Só que o panorama mudou.

O São Bernardo FC, precisando de pelo menos um empate para já se garantir nas quartas de final matematicamente, foi para o tudo ou nada. Já a Portuguesa, até pelo ritmo intenso da partida, foi nitidamente cansando e tendo o ritmo reduzido. Aí começam os problemas. Quem acompanha a Lusa sabe que o técnico Cauan de Almeida não tem um banco de reservas qualificado. Esse elenco tem, no máximo, um time titular competitivo. Não há posição em que o nível não caia ao alterar.

Jajá e Renan estavam exaustos. Era claríssimo. A opção do treinador foi por repor as posições com Igor Torres e Henrique Almeida. O primeiro até entrou ligado, correu, tentou, mas deixou a desejar. O segundo foi a decepção que tem sido desde que chegou: totalmente desconectado da importância e do ritmo da partida, um jogador a menos. Pouco depois, sacou o atacante Maceió e o meia Rildo para colocar o lateral esquerdo Pedro Henrique e o volante Matheus Nunes. Desta vez, parecendo querer dar sangue novo à contenção, nos minutos finais. Mais dois que derrubaram a intensidade do time.

A Portuguesa foi ficando cada vez menos com a bola, conseguindo cada vez menos fazer a transição para o campo de ataque, incomodando cada vez menos o adversário. O São Bernardo FC foi ganhando espaço e bola, enfim se aproximando da área. Aos 41 minutos, o lance de maior perigo. Descida pela esquerda, cruzamento à área, atacante totalmente livre, goleiro absolutamente batido. Por capricho, a bola passou rente à trave direita defendida por Rafael Santos. Ali quase a vitória foi pelos ares. Mas iria pouco tempo mais tarde, já nos acréscimos, quando Léo Jabá cabeceou para o centro da área e a bola bateu no braço de Eduardo Biazus. O árbitro Lucas Bellote não deu pênalti na hora, mas foi chamado pelo VAR e, na revisão, mudou de ideia.

Nos dias atuais, em que não se leva mais em conta a intenção do atleta, em que as jogadas são analisadas em câmera lenta, sem considerar o movimento natural do corpo, é lance pródigo de pênalti. Se justo ou injusto, é o que se tem marcado atualmente. O que se pode discutir é a variedade imensa de critérios, no próprio Paulistão. Léo Jabá foi para a cobrança e fez: 1 a 1. Ali já não havia mais o que fazer. Poucos minutos e uma chance irrisória de criar alguma coisa. Ficou, do lado lusitano, aquela sensação de empate doloroso, de sabor amargo, de que dava para ser diferente.

É inegável a evolução da Portuguesa ao longo do Paulistão. Também é honesto reconhecer que o técnico Cauan de Almeida tem mandado a campo uma equipe extremamente organizada e competitiva. E que esse jogo, em específico, foi muito bom. Mas também é preciso destacar que o elenco é limitado, que as trocas derrubam o nível técnico, em um cenário já visto e repetido nesse campeonato. Quando falta fôlego, o que não é raro em um Paulistão de calendário tão apertado, a Lusa vira um Deus nos acuda.

Sem contar que Cauan, muitas vezes na competição, demorou a mexer. Com alterações que, não só técnica, mas taticamente, tiveram resultado positivo em poucos momentos. Esse empate com o São Bernardo FC foi mais uma mostra de tudo isso. A percepção geral, ao final da partida, foi de que para ter feito essas alterações era melhor ter deixado a equipe desgastada, mas encaixada. É uma conclusão de “engenheiro de obra pronta”? Bem provável. Mas as alterações baquearam mesmo. A classificação ainda é possível, apesar de ter ficado bem mais difícil. A Portuguesa precisa, de qualquer forma, vencer em Bauru um Noroeste desesperado contra o rebaixamento e torcer para que o Guarani não vença o Corinthians na Neo Química Arena e que o RB Bragantino não pontue contra a Ponte Preta em Campinas.

Se não rolar, não terá sido exatamente por esse empate com o São Bernardo FC. Apesar das circunstâncias, não é um resultado catastrófico ou fora da curva. Essa sensação de que dava para fazer mais vem de várias rodadas. Pontos foram sendo desperdiçados. Sejam aqueles pontos perdidos quando havia vantagem no placar, como contra o Novorizontino, o São Paulo e o Corinthians, sejam jogos em que a Portuguesa tinha todas as condições de ganhar e se complicou sozinha, como Velo Clube e Água Santa. A obrigação é acreditar e lutar. Ir para Bauru em busca da vitória, custe o que custar. Para tentar fazer o merecimento enfim se converter em três pontos e talvez ter como recompensa a classificação. Ou um aprendizado e tanto, com humildade e profissionalismo, do que corrigir e melhorar para a Série D do Campeonato Brasileiro. *Luiz Nascimento, 32, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da Bola e escreve sobre a Portuguesa há 15 anos, sendo a maior parte deles no ge. As opiniões aqui contidas não necessariamente refletem as do site.

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