Subsecretária que montou blitz contra Lula: “Menos votos no 9”
“Precisa reforçar PF. “Menos 25.000 votos no 9 [nine, em referência a Lula]”, escreveu a ex-subsecretária em uma mensagem relatada pela PGR.
Diversas mensagens da delegada Marília Ferreira Alencar, ex-subsecretária de Segurança Pública do Distrito Federal, serviram como provas para que ela fosse denunciada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por organizar diversas blitze e impedir que eleitores do PT chegassem às seções de votação em 2022. A mulher apontava os locais onde o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha maiores votações: “[Em] Belford Roxo (RJ), o prefeito é vermelho. Precisa reforçar PF. “Menos 25.000 votos no 9 [nine, como se referiam a Lula]”.
De acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR), a delegada da Polícia Federal (PF) agiu em uma organização criminosa para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder. Antes de alçar à alta cúpula da SSP no DF, Marília era diretora de Inteligência do Ministério da Justiça durante a gestão de Anderson Torres e, em 2022, foi uma das responsáveis por articular a organização de blitze pelo país.
Segundo a PGR, as intenções de interferir no voto popular ficaram mais claras em um grupo formado por Fernando de Souza e o coordenador de operações Leo Garrido, que apesar de citado não foi denunciado neste momento pela PGR.
Com o nome “Em off” no grupo, Marília comenta sobre o levantamento solicitado apontando redutos lulistas do país. Em conversas com outros denunciados, a delegada também demonstrou o interesse em dificultar o acesso dos eleitores petistas às zonas eleitorais.
“Pelotas (RS) Pelotas foi 52×36 [%] pro Lula. 202 mil habitantes”, enviou. “Os caras têm que rodar essas bases”. Em resposta, Fernando falou para enviar equipes ao Rio Grande do Sul, que conta com eleitores do PT no estado.
Em 16 de outubro de 2022 – 15 dias antes do segundo turno – Garrido anunciou no grupo que finalizou os planos para a Bahia, Ceará e Pernambuco. Estados nordestinos que concentravam grande número de votos no candidato do PT.
Em mais de uma situação, mensagens foram trocadas demonstrando o interesse em intervir nas eleições, conforme consta em denúncia da PGR.
Ainda no dia do primeiro turno das eleições, em 2 de outubro, Marília Alencar envia uma mensagem para o delegado da PF e colega no Ministério da Justiça, à época, Fernando de Souza, dizendo que deviam pensar em uma ofensiva quanto às pesquisas. Fernando era, na época, diretor de operações do MJ.
“Está claro o desvio de finalidade das ações policiais do grupo, orientadas ao propósito comum dos integrantes da organização criminosa de impedir, também mediante o emprego de atitudes de força, que o candidato agora denunciado fosse afastado do Poder”, informou a PGR.
As planilhas analisadas pelos grupos forneceram dados sobre o número de votos recebidos por candidatos no primeiro turno das eleições presidenciais de 2022 em cada Município do Brasil. “Essas informações foram essenciais para a criação do painel de Business Intelligence (BI) solicitado por Marília Alencar”.
De acordo com a PGR, “as diretrizes manifestamente ilícitas construídas pelos denunciados foram acolhidas por Silvinei Vasques [diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal à época], que direcionou os recursos da PRF para o objetivo de inviabilizar ilicitamente que Jair Bolsonaro perdesse o Poder”.
Apesar dos intensos esforços dos denunciados para sabotar que eleitores de Lula votassem, o resultado do pleito não foi favorável a Bolsonaro. A partir disso, as tentativas para manter o ex-capitão do Exército Brasileiro no poder assumiram outra configuração, como o ato antidemocrático de 8 de janeiro, conforme denúncia.
Nessa época, tanto Marília quanto Fernando estavam lotados na Secretaria de Segurança Pública do DF, que tinha como responsabilidade monitorar as ações naquela data. Os dois foram levados pelo ex-secretário da SSP Anderson Torres, que também foi denunciado pela PGR.