O calor extremo no Rio de Janeiro faz cariocas trocarem o dia pela noite, lotando praias até a madrugada. Temperaturas acima de 40°C e fenômenos climáticos como a Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS) influenciam essa mudança.
Veranico extremo e mudanças de rotina
O verão de temperaturas extremas no Rio de Janeiro tem levado os cariocas a mudar suas rotinas, trocando o dia pela noite em busca de refresco. Com termômetros frequentemente ultrapassando os 40°C, muitas pessoas optam por frequentar as praias nas primeiras horas da manhã ou ao anoitecer, quando as temperaturas são mais amenas. Isso tem gerado uma mudança significativa no comportamento habitual, especialmente nas praias do Arpoador, Ipanema e Copacabana, que costumam atrair um grande número de visitantes durante todo o dia.
Atividades nas praias ao amanhecer
Nas primeiras horas do dia, é comum ver barracas sendo montadas e as pessoas se dirigindo à areia para aproveitar a tranquilidade do amanhecer. A prática de esportes também começa mais cedo, como no caso do futevôlei, que é jogado ao ar livre nas praias, ou ainda a prática de atividades como caminhada e corrida no calçadão. Nos horários mais quentes, entre 10h e 15h, muitas dessas atividades diminuem, já que o calor se torna insuportável. No entanto, à medida que o sol se põe, uma nova onda de frequentadores invade a orla, movimentando as praias durante a noite.
A noite nas praias cariocas
Esse comportamento tem sido cada vez mais frequente, especialmente no fim de semana e durante feriados, quando a busca por refresco nas praias é ainda maior. A mudança no padrão de movimento nas praias também se reflete no número de pessoas que optam por passar a noite na areia, uma prática que tem se popularizado durante esse verão. Muitos grupos se reúnem para socializar, ouvir música e até acampar nas praias, aproveitando a brisa do mar e o fim do calor intenso. O Rio de Janeiro virou palco diário de lua cheia pelo calor.
Centro de convivência nas noites de calor
As praias de Ipanema, Arpoador e Recreio dos Bandeirantes, entre outras, se tornam centros de convivência ao anoitecer, com quiosques funcionando até mais tarde e pessoas se reunindo para curtir o tempo menos quente. Em alguns casos, a movimentação se estende até a madrugada, com algumas barracas e grupos de pessoas permanecendo na areia, criando uma atmosfera única de praia durante a noite. O stand up paddle, que já era uma prática popular no Rio de Janeiro, tem atraído ainda mais adeptos devido ao calor.
Alterações na rotina alimentar e de exercícios
As primeiras horas da manhã, especialmente nas praias de Copacabana, têm sido tomadas por centenas de pranchas, com o mar calmo e as temperaturas mais amenas favorecendo a prática. A mudança na rotina nas praias também reflete alterações no comportamento alimentar e nas atividades diárias. Com o calor excessivo, muitas pessoas passaram a consumir alimentos mais leves, como frutas e saladas, para evitar desconforto.
Além disso, a prática de exercícios também foi ajustada: as academias e outros centros de atividade física estão mais vazios no período da tarde, enquanto a frequência é maior pela manhã e no fim da tarde. Este mês de fevereiro tem sido excepcionalmente quente no Rio de Janeiro. O calor intenso está associado a um fenômeno meteorológico conhecido como bloqueio atmosférico, caracterizado pela presença de um sistema de alta pressão atmosférica que impede a formação de nuvens e a ocorrência de chuvas.
A influência da Alta Subtropical do Atlântico Sul
No caso do Rio de Janeiro, a atuação da Alta Subtropical do Atlântico Sul (ASAS) tem sido um fator determinante. A ASAS é um anticiclone semipermanente sobre o sul do oceano Atlântico que, quando se desloca para o continente, impede a chegada de frentes frias e reduz a umidade do ar, resultando em períodos prolongados de calor e seca.
Durante fevereiro de 2025, a ASAS se posicionou de forma a bloquear a formação de nuvens e a ocorrência de chuvas no Rio de Janeiro, contribuindo para a escassez de precipitação e o aumento das temperaturas. O Rio de Janeiro atingiu o nível 4 de calor (NC-4), o segundo mais alto da escala, pela primeira vez desde a implementação do protocolo para temperaturas extremas no dia 17 de fevereiro. O protocolo de calor foi recentemente implementado pela Prefeitura do Rio de Janeiro e tem o NC-5 como nível máximo.
Medidas de resposta ao calor extremo
Em resposta ao calor extremo, a prefeitura abriu 58 pontos de resfriamento, como parques e unidades de saúde refrigeradas ou sombreadas, para oferecer alívio à população. No entanto, o movimento nesses locais foi discreto, assim como a circulação de pedestres nas ruas, que foi menor do que o habitual devido às altas temperaturas.
Desde o início de 2025, mais de 5 mil pessoas buscaram atendimento médico no Rio de Janeiro devido ao calor intenso, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS-RJ). Esse total inclui atendimentos nas Unidades de Pronto Atendimento (UPA), Coordenações de Emergência Regional (CER) e hospitais.
Dados meteorológicos e a onda de calor
Em janeiro, cerca de 3 mil pessoas foram atendidas por complicações relacionadas ao calor, enquanto nos primeiros 18 dias de fevereiro, aproximadamente 2,4 mil pessoas procuraram as unidades de emergência do SUS na cidade.
Dados do Alerta Rio da Prefeitura do Rio de Janeiro mostram que nos primeiros 21 dias deste mês foram 19 dias com temperatura máxima acima de 35ºC na cidade, considerando os dados de várias estações, sendo que seis com marcas acima dos 40ºC. Já na estação meteorológica automática do Instituto Nacional de Meteorologia na Vila Militar, a temperatura passou de 35ºC em 16 dias dos primeiros 21 dias deste mês. O equipamento registrou dois dias com mais de 40ºC.
A temperatura máxima de 44ºC, observada na rede do Alerta Rio, na estação instalada em Guaratiba no dia 17, foi a mais alta já observada no mês pelas medições da Prefeitura do Rio de Janeiro. O recorde anterior era de 41,8ºC, também em um 17 de fevereiro de 2023, na estação de Irajá.
Temperaturas máximas na cidade do Rio de Janeiro (Vila Militar)
01/02/2025: 34,1ºC
02/02/2025: 32,9ºC
03/02/2025: 36,6ºC
04/02/2025: 37,2ºC
05/02/2025: 37,6ºC
06/02/2025: 38,2ºC
07/02/2025: 36,9ºC
08/02/2025: 34,0ºC
09/02/2025: 34,8ºC
10/02/2025: 35,7ºC
11/02/2025: 36,3ºC
12/02/2025: 37,1ºC
13/02/2025: 37,4ºC
14/02/2025: 34,8ºC
15/02/2025: 35,4ºC
16/02/2025: 38,6ºC
17/02/2025: 41,2ºC
18/02/2025: 41,0ºC
19/02/2025: 36,8ºC
20/02/2025: 38,8ºC
21/02/2025: 35,2ºC
Temperaturas máximas na cidade do Rio de Janeiro (rede do Alerta Rio)
01/02/2025: 35,7ºC
02/02/2025: 36,9ºC
03/02/2025: 38,7ºC
04/02/2025: 40,6ºC
05/02/2025: 39,4ºC
06/02/2025: 39,8ºC
07/02/2025: 38,2ºC
08/02/2025: 35,1ºC
09/02/2025: 37,2ºC
10/02/2025: 37,2ºC
11/02/2025: 38,3ºC
12/02/2025: 39,0ºC
13/02/2025: 40,1ºC
14/02/2025: 34,8ºC
15/02/2025: 36,9ºC
16/02/2025: 40,4ºC
17/02/2025: 44,0ºC
18/02/2025: 41,8ºC
19/02/2025: 38,9ºC
20/02/2025: 40,1ºC
21/02/2025: 34,7ºC
A pior fase da onda de calor já passou, o que não significa que deixará de fazer calor no Rio de Janeiro. Muito pelo contrário, seguirá bastante quente e o calor não vai dar trégua. As máximas extremas acima de 40ºC é que não são esperadas no curto prazo. A previsão do tempo da MetSul Meteorologia indica máximas, em média, entre 34ºC e 36ºC até terça-feira. Na segunda metade da próxima semana, a temperatura se elevará mais na capital fluminense com alguns bairros registrando máximas entre 37ºC e 39ºC durante a tarde.