Sogra de suspeita conta drama do bolo envenenado em entrevista inédita

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Foi descartando todos que gostavam do meu filho’, diz sogra de suspeita de matar 3 pessoas com bolo envenenado

Após mais de dois meses do crime, Zeli dos Anjos quebrou o silêncio em entrevista inédita ao RBS.DOC – O Caso do Bolo Envenenado; personagem fundamental da história detalhou relacionamento com suspeita do crime e sequelas causadas pelo arsênio.

Zeli dos Anjos fala pela primeira vez sobre envenenamento em Torres (RS) — Foto: TV Globo/Reprodução

Com dificuldade para caminhar e mexer a ponta dos dedos das mãos, consequência do envenenamento por arsênio, Zeli dos Anjos, de 61 anos, recebeu a equipe de reportagem para a primeira entrevista sobre o caso do bolo de Natal em Torres, no Rio Grande do Sul, que chocou o país.

Desde o dia 23 de dezembro, quando o tradicional encontro para comer o bolo de Reis da família dos Anjos se tornou uma tragédia, Zeli vinha evitando o contato com jornalistas. Mas concordou em falar ao RBS.DOC – O Caso do Bolo Envenenado durante uma visita à cunhada e uma das suas melhores amigas, Regina dos Anjos, em Canoas, no início de fevereiro.

A sogra de Deise concordou em dar entrevista para esclarecer o dramático episódio das mortes das pessoas mais importantes da vida: as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva e a sobrinha Tatiana Denize Silva dos Anjos, filha de Neuza.

Entre as revelações, Zeli contou sobre um ponto que, para a investigação, faz parte da motivação do crime: uma suposta tentativa de Deise de afastar todas as pessoas que eram próximas do marido.

“E foi indo por eliminatória. E ela foi descartando assim, sabe, aos pouquinhos, os amigos também. O melhor amigo dele quando ele tinha desde três anos, que é compadre dele, trocados, eles são padrinhos da filha e eles são padrinhos do filho dele, enquanto ela não conseguiu separar eles, ela não sossegou, fazendo fofoquinha, fazendo intriguinha e briguinha”, completa.

Sogro de suspeita também foi morto por ingerir arsênio 4 meses atrás, aponta perícia

Depois, no entendimento de Zeli, Deise mudou a estratégia: além de “descartar” das relações, decidiu eliminar a vida de quem se aproximasse do marido.

De acordo com Cassyus Pontes, advogado que representou Deise durante o processo, em depoimento ao documentário, a suspeita “estava sendo investigada por um fato, ainda sem relatório final, já com uma condenação por parte de uma instituição do Estado” e afirmava “que jamais colocou na farinha, que jamais usou no suco” o veneno encontrado pela perícia. “São questionamentos que vão ficar eternamente. E nenhuma investigação, nenhuma decisão, nesse momento, vão mudar essa realidade”, afirma o advogado.

SEQUELAS DO ARSÊNIO

Zeli afirma que tem reflexos em seu estado de saúde pela ingestão, duas vezes, do metal pesado arsênio. Segundo a polícia, em setembro, ela consumiu leite em pó contaminado com o veneno — ocasião que resultou na morte do marido, Paulo dos Anjos. E, depois, novamente em dezembro.

“Era muito pouco, era muito pouco. Ninguém comeu uma fatia. Porque eram as fatias fininhas, eu tinha cortado todas as fatias fininhas. Aí todo mundo foi pegar um pedacinho para ver o gosto que estava”.

DEMORA PARA TOMAR ANTÍDOTO

Zeli diz que iniciou o tratamento com o antídoto para o arsênio no dia 15 de janeiro, mais de 20 dias após ingerir o medicamento. A Secretaria Estadual da Saúde disse que “logo que foi identificado o agente causador da intoxicação foi orientado imediatamente o uso do antídoto e solicitado o medicamento, porém devido dificuldade de conseguir o insumo utilizado e à logística para envio do medicamento, o uso do antídoto demorou alguns dias para ser realizado, mas foi o mais breve possível”.

NORA SEMPRE FOI “UMA PESSOA MÁ”

Zeli afirma que considerava inconcebível que Deise pudesse assassinar membros da família, apesar de considerar a suspeita “uma pessoa má”.

VISITAS DE DEISE À UTI

Zeli lembra das várias visitas que a suspeita do crime fez à ela durante o tempo em que esteve internada no hospital. Deise chegou a ficar sozinha com a sogra. Vítima e suspeita de envenenamento, lado a lado, sem supervisão.

AS INCERTEZAS EM RELAÇÃO AO FUTURO

Durante a entrevista, Zeli só chorou uma vez. Foi quando falava sobre a necessidade de seguir firme após perder as “quatro pessoas mais próximas”.

Após a revelação de tudo que ocorreu, o desejo da família era que Deise deixasse de ser chamada de “dos Anjos” e fosse retratada pela imprensa apenas como Moura. Mas isso só caberia a Deise decidir, já que não há previsão legal de remoção forçada de nome. Zeli, que começou a entrevista com um sorriso, terminou comovida por tudo que lembrou. Pediu ajuda para levantar e mostrar a dificuldade dos movimentos. Ao final, deu um abraço e se despediu. Foi quando o filho dela chegou para buscá-la e levar de volta para a casa de Arroio do Sal, onde tenta organizar os pensamentos depois de tudo que viveu.

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