Casal transforma antigos pastos em refúgio para abelhas nativas
Iniciativa de reflorestamento ajuda na reprodução de flores e no retorno de aves e pequenos mamíferos para a área.
DE Osasco, interior de São Paulo, um casal está transformando antigos pastos em florestas para preservar abelhas e restaurar o ecossistema local. O projeto nasceu da necessidade de ressignificar o uso de uma propriedade rural e, ao longo dos anos, revelou-se um exemplo inspirador. A história começou quando a fazenda, deixada de herança para a advogada de empresas Márcia Basile, tornou-se um peso financeiro após o falecimento dos pais e ela tinha o desejo de vendê-la. Entretanto, uma conversa com seu sogro apicultor mudou completamente essa perspectiva.
“Ele me perguntou se eu sabia qual era a ‘vocação da minha terra’ e que só assim eu poderia repassar a fazenda para um comprador. Eu fiquei pensativa, porque eu não sabia responder. Ele então mandou entregar duas colmeias na fazenda”, lembra Márcia. As primeiras colmeias recebidas foram colocadas em uma região pedregosa da fazenda, considerada improdutiva. A observação da rápida colonização das colmeias e o aumento da polinização na propriedade revelaram um potencial inexplorado: a terra possuía sim uma vocação natural e era para a criação de abelhas. O casal Márcia e Eugênio Basile passou então a estudar sobre apicultura e a compreender o papel essencial desses insetos na preservação da biodiversidade e na produção agrícola.
A RECUPERAÇÃO AMBIENTAL E AS ABELHAS
A transformação dos pastos ocorreu gradualmente. Para garantir alimento às abelhas durante todo o ano, foi necessário plantar uma variedade de flores e vegetação nativa. “Investimos na recuperação ambiental ao substituir a criação de gado pela reintrodução de plantas que sustentam as colmeias, como girassol, nabo forrageiro e guandu”, conta Márcia. Com o tempo, o reflorestamento das áreas antes destinadas ao pasto começou a impactar também a qualidade dos recursos hídricos da fazenda, com a recarga de nascentes e o aumento da disponibilidade de água.
Para garantir alimento às abelhas durante todo o ano, foi necessário plantar uma variedade de flores e vegetação nativa. Segundo Márcia, com o crescimento da vegetação, várias espécies de abelhas encontraram abrigo e alimento na área recuperada. Além disso, elas ajudam na reprodução das flores e garantem a produção de frutos e sementes. “Não somente as abelhas se beneficiaram do novo ecossistema, mas também outros animais. A volta da cobertura vegetal favoreceu o retorno de pássaros e pequenos mamíferos, criando uma cadeia alimentar equilibrada e fortalecendo a fauna da região. Esse cenário demonstra como a natureza pode se recuperar quando recebe as condições adequadas, transformando um espaço antes explorado em um refúgio natural repleto de vida”.
A jornada do casal ganhou novo impulso quando o projeto foi ampliado para incluir a criação de abelhas nativas sem ferrão, como borá, mandaçaia, jataí, manduri e mombucão, entre outras. Além dessas, eles também criam a Apis mellifera, uma abelha africanizada resultante do cruzamento entre a abelha-europeia e a abelha-africana, introduzida no Brasil na década de 1950. Embora seja mais defensiva, é altamente produtiva e resistente a pragas e doenças.
EXPANSÃO DO PROJETO E PARCERIAS COM PEQUENOS PRODUTORES
Márcia Basile destaca que o projeto já desenvolveu pequenos produtores em todo o Brasil, contando com mais de 80 parceiros distribuídos pelo país. O mel comercializado não é produzido exclusivamente na fazenda no interior de São Paulo, mas também resulta da colaboração com esses produtores locais. Além disso, iniciativas como o “Poliniza São Paulo”, que visa conscientizar a população sobre a importância das abelhas nativas e promover a preservação desses polinizadores essenciais, foram implementadas para ampliar o impacto do projeto.
Ao longo dos anos, o projeto transformou a propriedade em um referencial de preservação ambiental e produção de mel de alta qualidade. Mais do que uma atividade econômica, a apicultura se tornou um meio de promover o reflorestamento e a conscientização sobre a importância das abelhas na manutenção dos ecossistemas brasileiros. Hoje, a fazenda que antes era considerada um “peso” é um símbolo de renovação e equilíbrio entre o homem e a natureza.