Lula e Tarcísio dão provas de civilidade e deixam Bolsonaro furioso

O confronto de 2026 não precisa ser sangrento. Está nos dicionários: civilidade é um conjunto de formalidades, de palavras e atos que os cidadãos adotam entre si para demonstrar mútuo respeito e consideração; boas maneiras, cortesia, polidez.

Quando os cidadãos são políticos, no exercício do mandato, palavras e atos de civilidade nem sempre são verdadeiros. Muitas vezes é mais para se enganarem mutuamente, ou ao público. É difícil detectar quando tudo não passa de fingimento ou de mera esperteza para aparecer bem na foto. Não importa. O momento de cordialidade existiu e serve de exemplo. Aprecie-o quem quiser.

Adversários políticos, Lula e o governador Tarcísio de Freitas dividiram o palanque no evento que lançou o edital para a construção do túnel que ligará as cidades de Santos e Guarujá. A obra custará R$ 6 bilhões de reais, valor a ser pago pelos governos federal e estadual. O início da construção do túnel se dará em 2026, e o término em 2031 se não houver atraso.

Engenheiro por formação, Tarcísio gostaria de ver a obra entregue ou quase pronta antes de deixar o governo de São Paulo, mas para isso ele teria de se candidatar à reeleição e de vencê-la. A julgar pelas pesquisas de opinião, Tarcísio não terá problema para se reeleger, mas a pressão dos paulistas é forte para que ele se candidate a presidente em 2026 e derrote Lula.

Dos aspirantes a candidato da direita, Tarcísio é o que teria mais chances de se eleger desde que Bolsonaro o apoie. Acontece que Bolsonaro, se preso, diz que prefere apoiar um dos seus filhos. A popularidade de Lula em queda é o maior obstáculo à sua candidatura a um novo mandato – seria o quarto. Bolsonaro é o maior obstáculo à candidatura de Tarcísio a presidente.

Embora vaiado por militantes do PT que gritaram “sem anistia” para Bolsonaro, Tarcísio agradeceu a Lula por seu empenho em tirar a construção do túnel do papel: “Eu quero agradecer ao senhor porque desde o início quando tivemos as conversas sobre o túnel, o senhor colocou o assunto como prioridade.  “Voltamos a falar recentemente e eu me lembro que o senhor falou que não está na hora de ter disputa política e que o momento é de atender ao cidadão”.

Lula aproveitou a “deixa” de Tarcísio para dar estocadas Bolsonaro, o sujeito oculto do evento, mas nem tão oculto assim: “Para quem não gosta que eu e Tarcísio estejamos juntos: na semana passada, Tarcísio foi à Brasília para a gente discutir a data de hoje. E ele jamais esperou que eu iria convidá-lo para almoçar. Então veja, se as pessoas não gostam de uma foto de eu e você [Tarcísio] almoçando, é de deixar gente com muita dor de cabeça. Mas nós vamos fazer isso porque nós gostamos do povo, e nós fomos eleitos para governar o nosso estado e o nosso país. Portanto, Tarcísio, não se preocupe que vai ter muita foto nossa juntos. O que é mais grave para o nosso adversário é que a gente vai rir na foto. Isso vai deixar muita gente… pode até ter infarto na história”.

Arderam as orelhas de Bolsonaro. Tarcísio virou alvo da indignação de bolsonaristas nas redes sociais.