Após uma cúpula realizada em Londres e a apresentação de uma proposta franco-britânica para uma trégua de um mês na Ucrânia, o ministro das Relações Exteriores da França, Jean-Noël Barrot, afirmou que o risco de uma guerra em território europeu nunca foi tão alto como agora. Em entrevista nesta segunda-feira, 3, Barrot disse que a linha de frente da Rússia está cada vez mais próxima e ressaltou que as ambições imperialistas de Moscou, especialmente após a invasão da Ucrânia, aumentam a tensão no continente.
De acordo com o ministro, a ameaça russa avança há pelo menos 15 anos e, agora, a Europa precisa enfrentar essa realidade. Ele destacou que a França defende, há anos, o fortalecimento das defesas europeias, justamente para conter esse avanço. Barrot ainda lamentou que, por muito tempo, parte da Europa tenha se recusado a enxergar o risco iminente, mas afirmou que agora há uma conscientização maior sobre a necessidade de garantir a segurança do bloco sem depender exclusivamente dos Estados Unidos.
No domingo (2), o presidente francês afirmou que os países que participaram da cúpula em Londres estão comprometidos em buscar uma paz duradoura para a Ucrânia, além de construir uma estratégia de segurança coletiva. Esse plano, elaborado por França e Reino Unido, pretende formar uma coalizão de países interessados e deve ser posteriormente levado aos Estados Unidos.
A crescente tensão ficou ainda mais evidente após o presidente norte-americano, Donald Trump, mencionar a possibilidade de uma “Terceira Guerra Mundial” em uma conversa recente com o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, na Casa Branca. Ao comentar o episódio, Barrot reconheceu que preferia que a coletiva de imprensa entre os dois líderes tivesse sido diferente, mas reforçou que a França vê Zelensky como um herói da resistência. Apesar do clima de tensão entre os EUA e a Ucrânia, o ministro francês afirmou acreditar que os norte-americanos não têm interesse em abandonar a Ucrânia nem a Europa.
Para Barrot, seria um erro estratégico para os Estados Unidos permitir que a Ucrânia sucumbisse, já que isso representaria um golpe não só para o país invadido e para os europeus, mas também para a própria posição de liderança global de Washington. A proposta de França e Reino Unido prevê uma trégua que envolva cessar-fogo aéreo, marítimo e em infraestruturas energéticas, o que, segundo os diplomatas, serviria como um teste da boa-fé de Vladimir Putin.
O ministro francês defendeu que esse cessar-fogo abriria caminho para negociações de paz verdadeiras e duradouras, encerrando um ciclo de agressões que se arrasta há 15 anos. Ele reiterou que o objetivo é pressionar os Estados Unidos para que levem Putin à mesa de negociações, forçando-o a abandonar suas ambições expansionistas e evitando que a guerra se aproxime ainda mais das fronteiras europeias.
Barrot também comentou a recente decisão do secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, de suspender temporariamente todas as operações cibernéticas ofensivas contra a Rússia. Segundo o ministro francês, a medida é difícil de entender, especialmente porque os países da União Europeia sofrem ataques cibernéticos russos com frequência. A pausa, segundo o New York Times, faz parte de uma reavaliação da estratégia de Washington em relação a Moscou, mas a duração dessa revisão ainda é incerta.
A suspensão das operações cibernéticas ocorre em um momento em que Trump conduz uma reaproximação histórica com a Rússia, sem consultar os aliados europeus, o que preocupa líderes da região. Para a França, essa mudança na política externa americana representa um risco direto para a segurança da Europa, que há décadas confia nos Estados Unidos como um pilar essencial de sua defesa.