Jurados do Carnaval em SP não podem ver TV, usar celular e são acompanhados até o banheiro durante os desfiles do Grupo Especial
DE — Os jurados dos desfiles de Carnaval [https://ligasp.com.br/] em São Paulo ficam isolados, não podem usar aparelhos eletrônicos e só se comunicam com coordenadores, responsáveis por transmitir recados em casos “urgentes e inadiáveis”. Sem celular, TV e rádio, eles também têm a ida ao banheiro vigiada até a porta e não podem emitir opiniões ou fazer comentários sobre quaisquer agremiações.
Em um tempo em que todo mundo posta tudo o tempo inteiro nas redes, especialmente no Carnaval, o jurado vira uma espécie de “monge” em meio à festa, sem interação e também, idealmente, alheio às preferências pessoais. Mesmo assim, muitas vezes, as decisões tomadas por quem dá as notas surpreende quem vê um desfile pela televisão ou no Sambódromo.
A Liga SP desencoraja “a banalização da nota 10, o que é extremamente prejudicial para o crescimento do espetáculo”, e defende que as notas decimais diminuem a subjetividade. Também recomenda que o jurado não se deixe influenciar pelo desfile como um todo, mantendo a atenção no quesito para o qual foi convidado a avaliar.
O problema pode estar na pasta apresentada aos jurados pela escola, com tudo o que deverá aparecer no desfile, dos detalhes e plantas dos carros até as fantasias e enredo. Ela serve como uma espécie de gabarito. Por isso, um desfile simples, sem muito luxo, mas que deixou essa simplicidade toda bem caracterizada como parâmetro para julgamento, acaba sendo premiado, em detrimento de quem prometeu muito e não entregou tudo. Daí as surpresas que assombram até mesmo pessoas experientes no mundo do samba.
Bateria é o único quesito em que as escolas começam 9,8 pontos e precisam ganhar dois décimos, com a adoção de bossas (variação de ritmo), para chegar até o sonhado 10. Nas demais, os jurados vão tirando pontos de acordo com a gravidade do que estão vendo, e tudo isso é referenciado por uma tabela para dar padrão, proporcional.
A grade de pontuação foi criada para dar uniformidade e diminuir discrepâncias entre os avaliadores. Mesmo assim, dentro de um mesmo quesito, as notas podem ser diferentes entre si. Tudo depende do local onde está cada um dos quatro jurados. Voltando à Fantasia, uma escola pode passar com todas intactas pelo primeiro setor, onde fica um dos jurados, e com várias faltando pedaços no fim, daí as diferenças de avaliação.
Os jurados também são obrigados a justificar as notas que foram dadas a cada escola e, para isso, não podem usar palavras como “maravilhoso”, “espetacular” ou “acho mais ou menos”. A determinação é para que sejam objetivos em relação ao que foi visto. “Evite elogios e recomendações às escolas, pois isso pode ser mal interpretado como predileção pela agremiação. O jurado é um avaliador técnico e não um comentarista do Carnaval”, diz.
A reportagem conversou com quem já esteve na pele de jurado em outros carnavais e ouviu que o trabalho é exaustivo e que o principal problema vem com o pós, quando as notas podem ser questionadas por representantes de escolas. Em casos mais graves, eles são perseguidos por pessoas insatisfeitas com o resultado. A coleta de dados e informações com qualidade sobre esta expressão cultural é essencial para a continuidade e valorização do Carnaval em DE.