A folha de coca é usada em rituais nos Andes peruanos para reverenciar a Mãe-Terra, fazendo parte de tradições milenares que mantêm viva a cultura dos antepassados da região. No Peru, o cultivo da coca por povos tradicionais é uma prática antiga, datando de milhares de anos. Diferentemente do que se possa pensar, a Erythroxylum coca, na forma de folha in natura, apresenta uma concentração máxima de 2% de cocaína, um alcaloide presente em diversos outros vegetais, similar à cafeína em termos de compostos estimulantes.
O plantio de coca no Peru remonta a quatro mil e quinhentos anos, conforme dados históricos. Entre os povos nativos, os incas destacam-se por seu avanço civilizatório, desenvolvendo conhecimentos significativos em diversas áreas, como astronomia, arquitetura, engenharia, matemática e produção agrícola, muito antes da chegada dos espanhóis em 1532. Cusco foi a capital do Império Inca por séculos, abrangendo territórios nos atuais Peru, Bolívia, Equador e partes do Chile e Argentina.
O uso das folhas de coca pelos povos andinos persiste até os dias de hoje, sendo mastigadas na forma natural. As substâncias químicas liberadas proporcionam uma redução na fome e na fadiga, sendo especialmente úteis nas altitudes extremas da região, que chegam a três ou quatro mil metros acima do nível do mar. Nas comunidades ao redor de Cusco, é possível adquirir pacotes de folhas frescas de coca por valores acessíveis, fazendo diferença em caminhadas extensas pelas montanhas.
Durante uma jornada na Cordilheira dos Andes em direção à Machu Picchu, a equipe do Terra da Gente se deparou com estruturas de pedras sobrepostas chamadas de apaicheta, que eram utilizadas em rituais de agradecimento. Os povos andinos atuais mantêm vivas as tradições dos antigos incas, reverenciando a Pachamama, ou Mãe-Terra, como era conhecida na cultura inca. O uso das folhas de coca em rituais no alto das montanhas é uma prática comum, simbolizando um agradecimento à natureza e à energia das montanhas.
Esses rituais incluem a colocação de três folhas de coca, representando a Pachamama, e sopros nos pontos cardeais e nos pontos mais altos do relevo, seguidos pelo depósito das folhas com uma pedra sobre elas, como forma de agradecimento. A crença na vida e energia da natureza permeia essas práticas, ressaltando a importância de respeitar a Mãe-Terra. Apesar de a folha de coca não ser considerada uma droga, é importante salientar que é proibido transportá-la para o Brasil, sob penalidades criminais. A sabedoria e tradições dos povos andinos nos ensinam a reverenciar e cuidar do planeta em que habitamos.