Entenda o que são as voçorocas que formam crateras e abismos de terra no Maranhão
Crateras chamadas de ‘voçorocas’ surgem devido ao desmatamento de áreas nativas, como é o caso em Buriticupu, cidade do Maranhão que corre o risco de ter casas ‘engolidas’ pelo fenômeno natural. Nesta sexta-feira (7), uma jovem caiu em uma das crateras.
Chuvas provocam enormes crateras em Buriticupu, no Maranhão
As voçorocas, enormes abismos de terra que chegam até 80 metros de altura e mais de 500 metros de comprimento, voltaram a ganhar repercussão nesta sexta-feira (7) após uma jovem cair em um dos buracos em Buriticupu, cidade a 415 km de São Luís. Ela foi socorrida e resgatada com vida.
Os enormes abismos surgiram há cerca de 30 anos e pelo menos 26 buracos ameaçam, atualmente, a vida de 55 mil moradores que vivem na região. Cerca de 70 casas já foram engolidas pelos buracos e, sem obras de contenção, alguns chegam a 600 metros de extensão e 80 de profundidade.
Desde a década de 80, sete pessoas já morreram em acidentes envolvendo as voçorocas, segundo a associação de moradores. As crateras surgiram em Buriticupu, no topo de uma região com cerca de 200 metros de altitude, cercada de vales. O solo da região tem presença predominante de areia, silte e argila, com pouca porosidade.
As crateras se formaram a partir da rápida expansão urbana e como consequência do desmatamento da vegetação nativa em áreas de alta declividade, é o que explica ao DE, o professor Fernando Bezerra, do programa de pós-graduação em Geografia, Natureza e Dinâmica do Espaço, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
As crateras são pequenos fenômenos geológicos que surgem como fendas no solo, geralmente provocadas pela água da chuva. Se nada é feito para conter, uma cratera pode chegar ao grau de voçoroca, quando atinge um lençol freático. Essas crateras surgem a partir de processos de erosão acelerados pela ação da chuva, devido às enxurradas, em áreas com solos sem cobertura vegetal.
Novas imagens aéreas mostram crateras que ameaçam ‘engolir’ cidade no Maranhão. O surgimento de novas crateras podem ser prevenidas para evitar tragédias de maiores proporções. Ao DE, o professor Fernando Bezerra explica que, para isso, é necessário investir na proteção do solo com a cobertura da manutenção vegetal da área próxima, principalmente em locais com alta declividade e próximo as nascentes de rios. Além disso, deve-se evitar queimadas e desmatamento em áreas próximas, devido a instabilidade do solo. E para uma maior eficácia, as autoridades também precisam investir em infraestrutura com esgotamento sanitário, drenagem urbana e retirar da região a população em torno das cabeceiras das crateras.
Nos últimos anos, devido ao avanço das voçorocas e o risco causado aos moradores, alguns acidentes graves foram registrados na região como o caso da jovem Maisa Sousa, que caiu em uma das crateras nesta quinta-feira (7). Já em 19 de março, 36 pessoas foram resgatadas na região Buriticupu, e também Santa Luzia, com a ajuda de helicópteros do Centro Tático Aéreo (CTA). Ao menos cinco vilas, nos dois municípios, que ficam localizadas em uma área de vale, foram atingidas por lama de deslizamentos.