Eu recebi bastante incentivos para desistir’: comandante explica barreira que
mulheres enfrentam na aviação
Setor ainda é predominantemente masculino, mas a força feminina tem conquistado
cada vez mais espaço. No Dia Internacional da Mulher, EPTV contou histórias de
quem se dedica às aeronaves.
Dia Internacional da Mulher: conheça histórias de mulheres no setor da aviação
Apesar da luta ser diária para que as mulheres tenham os direitos respeitados, o
espaço no mercado de trabalho tem ficado mais amplo. À frente de cargos
historicamente masculinos, atualmente elas desempenham funções que, por muito
tempo, foram exclusivas de homens, como a de piloto de avião, ainda que sejam
minoria e com inúmeras barreiras a serem superadas.
Neste sábado (8), quando se comemora o Dia Internacional da Mulher, a EPTV,
afiliada da TV Globo, contou histórias de mulheres que superam diariamente o
preconceito e a desconfiança e obtiveram sucesso na aviação. Veja abaixo.
De acordo com a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em 2022 foram
expedidas no Brasil 627 licenças de voo para mulheres, enquanto homens receberam
3.764. Em 2024, a diferença continuou grande, mas houve um aumento no número de
autorizações femininas, chegando a 880.
A comandante Ilka Toledo era cantora de casamentos, mas, após um acidente de
carro que serviu como um divisor de águas, deixou a antiga profissão para
realizar o sonho de infância de trabalhar na aviação.
“Eu recebi bastante incentivos para desistir, digamos assim. Mas eu acredito
que cada crítica a gente tem que levar como um ponto a mais a ser estudado e
tirar forças disso. Então cada crítica que eu recebia eu falava não eu não vou
desistir”, relembra.
OBSTÁCULOS PELO CAMINHO
Para ela, a maior dificuldade ao longo da trajetória esteve na formação. O
ambiente, marcado pela predominância masculina, muitas vezes impôs barreiras
veladas. Ainda assim, a comandante afirma que, dentro da aviação comercial,
sente-se integrada e respeitada e não vê diferença entre homens e mulheres.
Não tem diferença. O tanto que eu recebi de preconceito e “não” na minha
formação eu vejo um ambiente totalmente diferente e integrado dentro da
aviação comercial. A gente se complementa a gente não compete.
Durante a preparação, Ilka atuou como comissária de bordo por cinco anos,
enquanto investia na formação de pilota. O caminho, no entanto, não foi fácil.
Além dos altos custos da qualificação, ela enfrentou inúmeras críticas.
Além do preconceito, outro desafio comum entre as mulheres é a maternidade.
Ilka, que é mãe de Laura, conta que precisou refletir bastante sobre a decisão
de voltar a voar após o nascimento da filha.
Para a comandante, o que a fez retornar para a profissão foi a importância que
ela enxerga em ser independente e estar inserida no mercado de trabalho,
principalmente para ter uma distração da rotina de dona de casa que, segundo
Ilka, muitas vezes se torna exaustiva.
“É um trabalho super honroso com certeza mas também é muito cansativo, aqui a
gente vem para tirar um pouco do estresse. [..] É uma terapia estar aqui
dentro”, diz a comandante.
MAIS MULHERES
Elaine José de Souza também trabalha no setor da aviação. Atuando há 16 anos
como Mecânica aeronáutica de uma companhia aérea, ela lembra que, quando entrou
para o setor, a presença de mulheres era extremamente escassa.
“Quando eu comecei em 2009 era muito menos meninas e muito mais capacitação a
ser provada . […] Somos ainda a minoria, mas somos tão capazes quanto
qualquer profissional. A gente tem que mostrar e provar isso todos os dias.”,
diz Elaine.
Para Jessica Santos Gomes, também responsável pela manutenção das aeronaves, com
mulher a única limitação no setor é a parte física, que vez ou outra atribui
alguma dificuldade, mas não é o suficiente para a impedir de trabalhar.
“É um trabalho bastante crítico, tema a parte física também que acaba sendo um
dificuldade vez ou outra, mas está dando certo, está funcionando bem”, contou.
Independente dos desafio, seja no ar ou em terra firme, desistir nunca foi uma
opção para elas. De acordo com Ilka, foi a perseverança que a fez e faz muitas
mulheres conquistarem lugar na aviação.
“Não se deixem desencorajar-se que vale muito a pena. Não desistam, não
desistam nunca. Tem lugar para nós aqui também”, finalizou.