Policial suspeito de agredir oficial de Justiça seguirá preso por tempo
indeterminado
Decisão é do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais. Sargento Daniel
Wanderson do Nascimento é suspeito de ter agredido a oficial de justiça Maria
Sueli Sobrinho enquanto ela tentava entregar uma intimação para o enteado dele.
Crime aconteceu no Dia Internacional da Mulher.
O Diário do Estado de Minas Gerais converteu de flagrante para preventiva a
prisão do policial Daniel Wanderson do Nascimento, de 49 anos, suspeito de
agredir uma oficial de justiça com uma cabeçada no rosto no último sábado (8),
Dia Internacional da Mulher, em Ibirité, na Grande Belo Horizonte. (relembre o caso
abaixo)
A audiência de custódia foi realizada no final da noite deste domingo (9). A
decisão argumenta que a conversão foi necessária como forma de garantir a ordem
pública e manter a hierarquia e a disciplina militares.
Além disso, o juiz também destacou a gravidade dos crimes cometidos (agressão,
resistência, ameaças e desacato) e a insuficiência de outras medidas cautelares
alternativas.
Converter prisão de flagrante para preventiva significa manter o acusado
preso por tempo indeterminado, como forma de garantir a ordem pública e a
continuidade das investigações, evitando que o suspeito cometa novos crimes
ou interfira no processo judicial.
Com isso, o sargento continuará detido na unidade prisional militar de Contagem,
também na Região Metropolitana da capital.
O Diário do Estado tenta contato com a defesa do
policial.
A oficial de justiça Maria Sueli Sobrinho, de 48 anos, estava trabalhando quando
foi agredida com uma cabeçada no rosto. Ela relatou que, enquanto tentava
entregar uma intimação a um homem de 27 anos, o policial militar a atacou.
O crime ocorreu no bairro Novo Horizonte, em Ibirité, na Grande BH. O jovem que
foi intimado é enteado do suspeito.
Em um dia que você deveria receber parabéns e felicitações, você recebe uma
agressão como essa. O dano psicológico é pior que o físico. E eu gosto de
trabalhar, sabe? A gente vê relato de mulheres que se sentem envergonhadas,
mesmo sem terem feito nada, agora eu entendo”, disse a vítima, ao Diário do Estado.
De acordo com o registro da vítima na Polícia Militar, por volta de 17h40 ela
procurou pela casa do intimado, mas não encontrou a numeração. Ela perguntou aos
vizinhos se alguém conhecia o homem quando foi avisada sobre o tal endereço onde
mora.
Ao se aproximar da residência, viu um carro parado com três ocupantes: uma
mulher no banco do motorista, o suspeito no banco passageiro e o intimado no
banco de trás. Ao perguntar se conheciam o intimado, o policial se apresentou
dizendo que era ele, e pegou os papéis com a oficial de justiça.
Logo em seguida, ele passou o documento para o verdadeiro intimado. A vítima
disse que alertou e o orientou a não se apresentar como outra pessoa, porque
poderia gerar problemas futuros.
Ele se irritou muito quando falei isso. Foi uma reação que não entendi. Não
estava esperando. Tenho 19 anos de serviço, achei que contornaria a situação.
Ainda segundo o registro policial com os relatos da vítima, o militar saiu do
veículo descontrolado e partiu para cima de Sueli. Enquanto brigava por ter sido
orientado, ele duvidou que a mulher era, de fato, uma oficial de justiça.
A mulher foi até o carro que usa a trabalho e pegou sua documentação para
comprovar sua função no Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), no entanto,
o policial se irritou mais.
Foi quando Sueli ameaçou acionar a polícia por ter sido intimidada e desacatada,
e disse que chamaria uma viatura.
Eu falei que chamaria uma viatura, e ele falou: ‘aqui sua viatura’, e me deu
uma cabeçada no nariz. Eu falei para ele parar, que ele seria preso, foi aí
que ele falou que não daria nada para ele, só lesão corporal, e me deu um soco
na boca. Eu caí no chão, atordoada, fiquei sem saber o que estava
acontecendo”, afirmou Sueli.
Quando viu que a vítima estava ligando para a polícia, o militar fugiu.
Os policiais que atenderam Sueli a encontraram na rua com o rosto ensanguentado.
Os militares entraram na casa do suspeito e localizaram seu enteado, que seria
intimado pela oficial, com uma pá em uma das mãos para intimidar a ação
policial.
Além dele, estavam outras duas mulheres na residência, que se recusaram a
identificar o policial que agrediu Sueli. Uma das mulheres ligou para o suspeito
e colocou a ligação em viva-voz, conforme o registro do policial militar. Na
ligação, o suspeito forneceu um nome falso e ameaçou o sargento que atendeu a
vítima.
Você é um terceirinho, eu sou antigão. Quero saber quem é o major que bateu
no peito e falou que ia me pegar”, disse o suspeito aos militares que atendiam
a ocorrência.
Logo em seguida o militar apareceu no local, ainda muito exaltado, recusando se
identificar e mostrar que também era policial militar. Durante o registro da PM
o suspeito foi identificado com a patente de 1º sargento. Um dos policiais que
algemou o suspeito também foi agredido com um soco e um chute no testículo.
O policial confessou ter esfregado sua documentação de policial no rosto da
vítima, e que não acreditou que a mesma era oficial de justiça por ela estar
trabalhando no fim de semana (sábado).
O suspeito relatou, ainda, que o esposo da vítima ocupa o cargo de major na
Polícia Militar, e que se sentiu ameaçado por ele. No registro policial, ele
negou ter sido agressivo com os militares que atenderam a ocorrência.
O militar que relatou ter sido agredido pelo policial suspeito ainda disse que,
enquanto estava algemado, o suspeito voltou a ameaçá-lo.
Você é um terceiro, e recruta. Eu sou antigão e mais homem que você. Tire
essas algemas que vou te arrebentar, e não vou me ver com você na Justiça
Militar, vou ver você fora”, disse o suspeito ao policial que atendeu a
ocorrência.
Por nota, a Polícia Militar informou que o policial foi preso em flagrante, e
que “todas as providências, tanto de Polícia Judiciária quanto de Polícia
Judiciária Militar, foram adotadas pela corporação”. O caso é acompanhado pela
Corregedoria da PM.