O governo irá para o lado que possa reeleger Lula, direita ou esquerda
Reforma não tem data marcada para terminar
Dá-se por certo entre os meus colegas que a nomeação da deputada Gleisi Hoffmann
(PT-PR) para ministra da Secretaria de Relações Institucionais é o sinal
definitivo da guinada do governo Lula para a esquerda, quando o mais
recomendável seria que o governo se inclinasse para o centro-direita.
Não sei ao certo o que é centro-direita ou centro-esquerda. Porque no segundo
turno de qualquer eleição para presidente, governador e prefeito, os vários
matizes da direita acabam votando em um nome da direita, e os da esquerda em um
nome da esquerda. Uma fração da direita votou em Lula para derrotar Bolsonaro.
Admiro o esforço que fazemos, nós jornalistas, de tentar adivinhar o futuro. No
mais das vezes, seguimos a corrente da maioria das pessoas que simplesmente
escutamos com assiduidade. Também nos baseamos em deduções que nos parecem
óbvias. Do tipo: Gleisi é de esquerda. Logo, o governo irá para a esquerda.
Se ao invés dela tivesse sido nomeado um ministro indicado pelo Centrão,
diríamos que o governo marcharia para a direita. Não nos ocorre que Gleisi fará
o que Lula mandar. O que não significa que os ministros se comportem
invariavelmente como vaquinhas de presépio, longe disso. Ministros tentam
influenciar presidentes.
Se não conseguem, ou se conformam ou pedem demissão. A maioria se conforma. As
miçangas do poder são atraentes – carros com motoristas, bons salários, casa e
roupa lavada, tratamento preferencial, empregos para correligionários, viagens
internacionais, e por aí vai. Melhor do que isso é ser senador.
Gleisi é ministra da articulação política porque, primeiro, já foi ministra e
senadora, com larga experiência no ramo; segundo, porque sempre foi leal a Lula;
terceiro, porque à frente do PT fez o que Lula lhe pediu; e quarto, porque Lula
queria pôr no seu cargo Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara, homem de sua
confiança.
Diz-se que Gleisi ministra, com direito a gabinete dentro do Palácio do
Planalto, será uma pedra a mais no sapato do ministro Fernando Haddad (PT-SP),
da Fazenda. A outra pedra seria Rui Costa (PT-BA), ministro-chefe da Casa Civil.
No seu discurso de posse, Gleisi dirigiu-se a Haddad para dizer o contrário:
“Estarei aqui, ministro Haddad, para ajudar na consolidação das pautas
econômicas deste governo, as pautas que você conduz e que estão colocando
novamente o Brasil na rota do crescimento, com emprego e renda”.
Ao mencionar o projeto de lei que prevê isenção do Imposto de Renda para quem
ganha até R$ 5 mil, a ser enviado na próxima semana ao Congresso, Gleisi fez
novo aceno ao ministro da Fazenda:
“Esta medida vai ajudar milhões de brasileiros, com absoluta neutralidade
fiscal, como já antecipou o ministro Fernando Haddad”.
A reforma ministerial em curso, que não tem data para terminar, começa
naturalmente com a tentativa de Lula de arrumar sua retaguarda para a batalha
final de sua longa trajetória política, e ele não quer perdê-la. A próxima fase
será a de aumentar a representação no governo de forças que se disponham a
apoiá-lo.
Ao contrário do que se diz e do que muitos imaginam, Gleisi tem boa interlocução
com as forças arredias a Lula, e tem pressa para mostrar serviço. No mais, é
esperar para ver no que tudo vai dar. Até o passado, no Brasil, é imprevisível.