Profissional de saúde ligada a concessionária chegou a local da morte de turista no Cristo após o Samu, dizem testemunhas
O Trem do Corcovado chegou a declarar que, antes do Samu, socorristas chegaram ao local com um desfibrilador, mas que não houve como reanimá-lo. Família nega a informação.
Imagens mostram turista que morreu na escadaria do Cristo sendo socorrido por nora, funcionário de loja e padre antes de morrer
Relatos de testemunhas e parentes indicam que a primeira profissional de saúde do Trem do Corcovado que chegou ao local da morte de Jorge Alex Duarte, de 54 anos, na escadaria do Cristo Redentor no domingo (16) somente depois da morte do turista.
O Trem do Corcovado chegou a declarar que, antes do Samu, socorristas chegaram ao local com um desfibrilador, mas que não houve como reanimar o turista. A família dele nega a informação.
Segundo as testemunhas, a funcionária do ambulatório chegou ao local às 8h24. Naquela altura, socorristas do Samu também já estavam no local e tinham feito as últimas tentativas de reanimar Jorge. Antes, a nora dele, outros funcionários da concessionária e até um padre tinham tentado fazer massagens cardíacas e usar um desfibrilador para reanimar o turista, sem sucesso.
Imagens de câmeras de segurança mostram tentativas desesperadas de reanimar o turista gaúcho. Os acessos ao local foram interditados nesta segunda-feira (17) e devem ser reabertos na terça (18).
As imagens mostram a nora do turista, que é enfermeira, tentando reanimá-lo, assim como o funcionário de uma loja do parque e o padre João Damasceno, da capela do local, e outras pessoas.
Socorro ao turista que morreu nas escadarias do Cristo – Foto Reprodução/RJ2
As imagens de câmeras de segurança mostram o momento em que Jorge sobe a escada, encosta no corrimão e passa mal, às 7h39 de domingo. Em pouco segundos, a nora, que é enfermeira, inicia uma massagem cardíaca.
Na sequência, chegam funcionários do Trem do Corcovado. Às 7h40, um homem assume a massagem cardíaca. Segundo testemunhas, ele é funcionário de uma loja de souvenires. Nesse momento, o filho de Jorge é retirado do local.
A nora fica o tempo todo ao lado do sogro e orienta os primeiros socorros. Às 7h42, a nora volta a fazer a massagem.
Um minuto depois, uma mulher, vestindo uniforme do elevador do Trem do Corcovado, aparece com uma bolsa amarela, onde teria um desfibrilador.
O padre Damasceno, da Paróquia do Cristo redentor, também ajuda na massagem cardíaca. Às 7h46, o equipamento é usado na vítima pela nora e pelo funcionário da loja.
Às 8h01, um outro homem, com a camisa do trem do Corcovado, também faz massagem cardíaca.
Às 8h13, 34 minutos depois de Jorge ter caído, chegam os socorristas do Samu. Eles dão prosseguimento à massagem, mas o turista não reage.
Às 8h22, o óbito é constatado. O posto médico do local só abre às 9h.
Os advogados da família de Jorge Alex disseram que o caso se trata de responsabilidade civil e que além da falta de pronto atendimento, não havia estrutura de transporte a hospital. Também afirmam que houve despreparo dos funcionários. A família diz ainda que vai buscar a devida reparação de dano moral e material e que o corpo ainda não foi sepultado.
Após a morte, o Procon-RJ realizou uma vistoria e interditou a venda de bilhetes do trem que leva ao Cristo Redentor, na manhã desta segunda-feira (17). O sistema de vans que leva ao monumento também foi paralisado.
Em uma reunião nesta segunda, autoridades combinaram que os acessos ao Cristo serão reabertos na terça, com a condição de ter uma ambulância estacionada perto do Trem do Corcovado durante todo o horário de visitação e os postos médicos que funcionam no santuário e no Centro de Visitantes têm que ficar abertos desde o primeiro visitante. Uma nova vistoria deve ser feita de manhã para checar se os ajustes foram feitos.
JOGO DE EMPURRA
O Santuário do Cristo Redentor, que administra o monumento, afirmou que o posto médico estava fechado na hora que o homem passou mal.
Em nota, o Trem do Corcovado afirma que funciona há 140 anos sem qualquer problema de operação e que disponibiliza uma enfermaria com todos os equipamentos necessários aos primeiros socorros no alto do Corcovado. Sobre a morte do visitante, o Trem do Corcovado afirmou que não houve possibilidade alguma de salvamento apesar dos socorristas chegarem com o desfibrilador no mesmo instante e, em seguida, o Samu.
O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade – ICM-Bio, que administra o Parque Nacional da Tijuca, afirmou que a responsabilidade de atendimento médico é do Trem do Corcovado, o que está previsto no contrato de concessão.
O ICMBio afirma ainda que não recebeu ofício ou comunicado da Secretaria de Estado de Defesa do Consumidor e nem do Procon informando, previamente, que faria uma ação de vistoria no Corcovado. “O ICMBio demonstra preocupação com a atitude da Secretaria, que causa prejuízo aos visitantes nacionais e internacionais no Corcovado. Tão logo o instituto seja formalmente notificado, irá avaliar e tomar as medidas cabíveis, principalmente para restabelecer o acesso pleno ao Corcovado de todos os visitantes”, diz o texto da nota.
“Há duas semanas, notificamos o ICM-Bio, estamos recebendo diversas denúncias sobre problemas e eles nos responderam dizendo que deveríamos falar com o Iphan. Lamentavelmente, aconteceu o episódio do falecimento de um turista. O que não pode é ficar um jogando para a conta do outro. A responsabilidade é de todos e da concessionária”, disse Gutemberg.