Imigrantes afegãos em São Carlos celebram nova vida com oportunidades de estudo: Futuro promissor no interior de SP

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Irmãos imigrantes do Afeganistão celebram oportunidade de estudar no interior de SP: ‘futuro melhor’

Família Saket vive em São Carlos desde 2022. Regime Talibã impede mulheres e meninas de estudar no país.

Número de imigrantes matriculados na rede estadual subiu 75% desde 2020 [https://s03.video.glbimg.com/x240/13435886.jpg]

Três irmãos do Afeganistão celebram nova vida e oportunidade de estudos em São Carlos (SP). A família Saket imigrou para a cidade em abril de 2022 por conta do grupo político ultraconservador Talibã que impede as meninas e mulheres de estudar no país.

Antes, os irmãos contam que país tinha boas condições e proporcionava estudo para as mulheres. Com o regime político no poder desde 2021, escolas foram fechadas e milhões de meninas foram impedidas de ler e escrever.

“A gente está aqui no Brasil para conseguir estudar e essa oportunidade que temos aqui vamos usar e aproveitar pra gente conseguir ter um futuro melhor e ajudar as pessoas que agora precisam de ajuda”, disse a jovem Mahsa Saket, de 15 anos.

Mahsa é irmã de Umna Saket, de 17 anos, e de Mohammad Wagas Saket, de 14 anos. Eles estão matriculados na Escola Estadual Conde do Pinhal.

Irmãos Saket são do Afeganistão e estudam na Escola Estadual Conde do Pinhal em São Carlos.

Futuro de oportunidades

Antes de saírem do Afeganistão, dificilmente passava pela cabeça dos irmãos de um dia conquistar o acesso à educação. Atualmente, a aluna Umna está em dois projetos de pré-iniciação científica pela Universidade de São Paulo (USP) e Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) na área de exatas.

A estudante afegã sonha em ser engenheira da computação, e Masha também pensa em seguir os passos da irmã mais velha. A oportunidade de estudar e pensar no futuro guia a vida da garota de 15 anos.

“Aqui nós ganhamos uma esperança que a gente tinha perdido, eu quero estudar. Lá não tem oportunidade e a mulher tem que ficar na casa, tem que só fazer as coisas de casa, ter filhos e não consegue estudar, não consegue trabalhar. Acho que agora a Mahsa vai ser bem diferente”, disse.

LEMBRANÇAS DOLOROSAS

O jovem Mohammad Saket ficou emocionado ao lembrar da situação que viveram no Afeganistão. Além do impedimento ao estudo das irmãs, o pai deles era repórter internacional e foi perseguido pelo Talibã.

“Eu me lembro dos momentos que nós passamos e isso me faz chorar. A gente não podia estudar, não podia sair de casa. Meu pai era perseguido e ameaçado de morte”, contou.

Estudantes imigrantes

Segundo a Secretaria Estadual de Educação, 22,1 mil alunos estrangeiros estão matriculados na rede de ensino, um crescimento de mais de 75,4% em comparação a 2020, quando havia 12,6 mil estudantes de outros países na rede.

A tendência também acontece em São Carlos, com 87% a mais de matrículas de estrangeiros. No último ano, o crescimento foi de 22%. No total são 116 matriculados na rede estadual do município. Os motivos são diversos e as necessidades de adaptação também.

A cientista social, Aline Zambello, comentou sobre a tendência no aumento do número de imigrantes.

“O Brasil é um país que acolhe refugiados ou acolhe imigrantes de várias categorias. A gente pode imaginar que daqui para a frente a gente pode ter refugiados do clima, inclusive, né? Não só por questões econômicas, sociais, políticas. Talvez a gente tenha que acolher outras populações que por podem procurar o nosso país para melhores condições de vida, para ter uma vida mais tranquila e mais digna também”, disse.

Adaptação

Para os irmãos, a sensação de segurança no país e em São Carlos fez toda a diferença, e as dificuldades entre a língua persa e portuguesa foram resolvidas rapidamente. Por necessidade, hoje eles são fluentes, falam e entendem a língua portuguesa com muita facilidade.

No começo não foi tão fácil, mas Umna contou que realizavam muita pesquisa pela internet e no Google tradutor para se adaptarem ao português.

“No começo, quando eu cheguei aqui, quando eu não entendia nada, eu ia para casa e pesquisava na internet, pelo Youtube, em outra língua e na minha língua para conseguir entender. Também minhas amigas e professores me ajudaram, e no começo eles traduziam com Google tradutor. Mas agora que eu aprendi, ficou fácil e eu consigo falar com eles, consigo interagir”, disse.

O jovem Mohammad Wagas Saket, de 14 anos, comentou que foram seis meses até ficar fluente. Para ele, o acolhimento foi fundamental. “Fiz muitos amigos porque todos me acolheram de braços abertos”.

Desafios

O desafio de estar em um novo país reflete, além da língua, na cultura, na religião e nos costumes. Dentro da escola não é diferente. A dirigente regional de ensino de São Carlos, Debora Blanco, comentou sobre os desafios para garantir que os estudantes alcancem o aprendizado.

“Nos preocupamos com o acolhimento, com a questão sócio emocional e com a segurança. É um desafio muito grande e nós precisamos respeitar a cultura porque eles chegam por diversos motivos, seja de estudos, questões políticas ou econômicas. Há uma diversidade de razões que trazem esses alunos para as nossas escolas, então a gente precisa se adaptar à isso. E a gente consegue respeitar muito o que cada um traz consigo. Nós temos a questão religiosa, que é muito respeitada e que também agregou muito pra nós, na convivência com os nossos alunos para entender e saber das coisas que acontecem em países diferentes”, finalizou.

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