Colheita de safra do milho faz altas de preços perderem força após valor do cereal desafiar produtores, diz USP
Pesquisadores indicam que baixo estoque de milho no Brasil e demanda aquecida pressionam valores do cereal, que ultrapassaram os R$ 90,30 a saca em março.
Valor médio do milho comercializado na praça paulista atingiu a casa dos R$ 90 a saca de 60 quilos — Foto: Reuters via BBC
Depois de desafiar produtores de carnes de frango e porco no Brasil, as cotações do milho, principal insumo usado para alimentar os animais dos setores, começam a recuar na segunda quinzena de março, segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) do campus da Universidade de São Paulo (USP) em Piracicaba (SP).
O avanço da colheita de milho da safra verão eleva de forma pontual a oferta do cereal, o que passou a limitar, na última semana, os aumentos de preços em algumas regiões acompanhadas pelo Cepea. Em outras praças, sobretudo as que são produtoras da temporada de verão, as cotações chegaram a cair, afirmam os pesquisadores do Cepea.
No dia 18 de março de 2025, a saca com 60 quilos de milho foi cotada em R$ 90,33. No dia 20 de março, recuou para R$ 90,08, segundo levantamento preliminar do Cepea.
Apesar do movimento de recuo nos preços, as pesquisas do Cepea mostram que as altas nos valores ainda prevalecem, sustentadas pela retração de grande parte dos vendedores, que prioriza os trabalhos de campo e as entregas de lotes de soja. A colheita de milho da safra verão e a semeadura da segunda safra estão intensas no Brasil e já dentro da média das últimas temporadas, acrescentam.
A alta no preço do milho, um dos principais insumos usados na produção de carne de porco, têm preocupado o setor suinícola nacional em relação à rentabilidade e custos da atividade, apontavam levantamentos do Cepea no último dia 21 de março. Neste cenário de valorização do cereal, as cotações do suíno vivo apresentam queda. Segundo a equipe de Grãos do Cepea, o impulso nos preços do cereal vem dos baixos estoques de milho e da demanda aquecida. Nesta semana, o valor médio do cereal comercializado no estado de São Paulo atingiu a casa dos R$ 90 a saca de 60 quilos de milho. O patamar nominal não era verificado desde abril de 2022, aponta o Indicador Esalq/BM&FBovespa. As cotações parciais deste ano, até o último dia 18 de março, demonstram que o cereal negociado na região de Campinas (SP) subiu cerca de 24% no interior de São Paulo, especialmente na praça de Campinas (SP).
Já os preços do suíno vivo estão em queda, refletindo, segundo o Centro de Pesquisas, a oferta de animais superior à demanda de frigoríficos por novos lotes. No posto de São Paulo, o preço recebido pelo produtor à vista é de R$ 8,46 nesta quinta-feira (19). O valor equivale a uma variação negativa de 7,64%.
Com alta nas cotações, a competitividade da carne de porco caiu na comparação com as cotações de boi e de frango, principais concorrentes, em fevereiro de 2025, segundo levantamento do Cepea. No atacado da Grande São Paulo, os preços da proteína suinícola subiram mais que os da avícola. No sentido oposto, a carcaça bovina se desvalorizou no período, aponta a pesquisa.
Em fevereiro, o preço da carcaça suína registrou elevação de 10,8% na comparação com janeiro, passando para R$ 13,20 o quilo. Pesquisadores do setor ressaltam o preço médio pago pela proteína seguiu avançando mesmo diante de um cenário de demanda menor. A oferta recorde de carne de boi no mercado doméstico, o aumento do preço dos insumos na avicultura, especialmente o do milho e, como consequência, a queda no poder de compra do produtor, explicam essa queda na competitividade.