Motta prioriza projetos enviados por STF e STJ em meio a pressão por PL da
Anistia
Presidente da Câmara pautou pedidos de urgência para propostas de interesse do
Judiciário. Deputados veem gesto a favor da harmonia entre Poderes.
José Sarney, Hugo Motta e Luís Roberto Barroso em solenidade na Câmara —
Foto: Marina Ramos/Câmara dos Deputados
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), incluiu cinco
propostas de interesse do Poder Judiciário na pauta do plenário da Casa.
A escolha do que vai ser votado no plenário é do presidente. Ele ouve os líderes
partidários, mas tem o poder de barrar uma matéria se não quiser colocá-la em
votação.
Os textos de interesse do Judiciário entram em discussão em um momento de
pressão dos deputados do PL e de parte da oposição pelo projeto que propõe anistiar os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro (leia mais aqui).
Manifestação na Avenida Paulista pede anistia aos condenados nos ataques
golpistas
A pauta da semana na Casa, publicada na última sexta (4), tem quatro pedidos de
urgência, três para projetos de autoria do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e um para
uma proposta de autoria do Supremo Tribunal Federal (STF).
Todos os pedidos são encabeçados pelo líder do Republicanos, Gilberto Abramo (MG), do mesmo partido de Motta. As urgências foram protocoladas na sexta-feira
(4) e pautadas imediatamente.
Isso contraria o que o presidente da Câmara tem feito até o momento no comando
da Casa.
Motta fez campanha prometendo evitar a votação de requerimentos de urgência no
plenário, para valorizar as discussões pelas comissões temáticas.
Líderes ouvidos pelo DE afirmam que a inclusão das urgências na pauta da Casa
foi defendida pelo próprio presidente da Câmara.
Segundo eles, na última reunião com lideranças, Hugo Motta teria dito que a
análise dos projetos havia sido pedida por representantes dos órgãos. O deputado
também teria sinalizado que a urgência era necessária e que nenhuma das
propostas criaria novas despesas.
O líder do PDT na Câmara, Mário
Heringer (MG), disse que toda a discussão foi “simples”. “Colocou a proposta na
mesa e foi unanimemente aceita”, afirmou.
“Nunca são demais os gestos políticos de boa vontade entre os Poderes. Daí, a
previsão constitucional de harmonia”, completou Heringer
Em fevereiro, na sua segunda semana de trabalho à frente da Casa, Motta já havia
tentado dar início à discussão das propostas dentro do colegiado de líderes da
Câmara. Na ocasião, uma pauta prévia foi apresentada às lideranças com o projeto
que cria novos cargos comissionados no Supremo.
Ao longo do encontro, ocorrido em 13 de fevereiro, representantes de partidos da
oposição não concordaram com a inclusão da proposta na agenda de votações da
Câmara.
Mais cedo, na manhã daquele dia, a Polícia Federal
havia realizado operação
contra o chefe de gabinete do deputado Afonso Motta (PDT-RS), em uma
investigação sobre desvios de emendas parlamentares.
À época, deputados da oposição afirmaram que não havia “clima” algum para que
essas propostas avançassem no momento. O projeto saiu, portanto, do radar — e
acabou voltando nesta semana.
Outra proposta em pauta, um projeto de lei, aumenta as penas para homicídio
contra integrantes do Ministério Público e da magistratura e inscreve o crime no
rol dos hediondos.
O texto foi apresentado em 2015 e passou pela Câmara em agosto de 2023. Agora,
volta ao plenário depois de os senadores alterarem o mérito do projeto.
Anistia não é um debate do Brasil, e Motta tem um abacaxi para descascar
O PL tem obstruído as votações na Casa e tenta reunir assinaturas para pautar a
urgência da proposta da anistia. Na semana passada, no entanto, o grupo teve um
revés.
A pedido de Motta, os líderes resolveram não assinar o requerimento e o líder do
partido, Sóstenes Cavalcante (PL-SP), está coletando assinaturas individuais.
Ele precisa de 257 apoios. Na última contagem estava em 187.
Deputados do centro e da base acreditam que propor uma anistia a condenados pelo
STF abriria uma crise com o Judiciário, com repercussões na Casa.
Já parlamentares do PL e da oposição dizem que as condenações são exageradas e
criticam, em especial, o ministro Alexandre de Moraes, relator das ações.
Três dos quatro requerimentos pedem urgência a projetos de autoria do Superior
Tribunal de Justiça. Um, a uma proposta enviada pelo Supremo Tribunal Federal ao
Congresso.
Um dos textos apresentados pelo STJ trata da criação de 63 novas vagas para o
cargo de Analista Judiciário dentro do quadro de funcionários efetivos do
próprio Tribunal. Essas vagas, segundo o projeto, não terão custos extras —
serão criadas a partir do fechamento de 104 vagas de Técnico Judiciário.
De acordo com o STJ, as 63 novas vagas ajudarão o órgão a ter à disposição
profissionais mais preparados para funções que demandem conhecimento em
tecnologia. O Tribunal afirma, ainda, que essa conversão de vagas reduzirá
gastos “na ordem de R$ 74.413,14”.
A proposta enviada pelo Supremo ao Congresso cria 160 novas vagas comissionadas
dentro dos gabinetes de ministros do STF. Hoje, de acordo com o STF, há 65 vagas
comissionadas nas repartições dos membros da Corte.
Os postos, segundo o Supremo, poderão ser preenchidos por indicação dos
ministros a partir de servidores efetivos da Corte — que ganhariam um adicional
ao salário efetivo —, ou com pessoas de fora do quadro de funcionários
concursados do STF.
Cada posto comissionado custará mensalmente R$ 3.663,71 à Corte. De acordo com o
STF, a mudança será financiada por um remanejamento interno de dinheiro, a
partir de “recursos já estão incluídos no teto orçamentário” do
Supremo.