Pesquisador da Unicamp desenvolve ferramenta que detecta imagens fraudulentas em artigos científicos
Sistema utiliza algoritmos treinados para identificar imagens criadas por inteligência artificial, editadas ou copiadas de outros artigos.
1 de 1 João Phillipe trenou algoritmos para identificar fraudes em imagens de artigos — Foto: Reprodução/EPTV
João Phillipe trenou algoritmos para identificar fraudes em imagens de artigos — Foto: Reprodução/EPTV
O laboratório de inteligência artificial da Unicamp desenvolveu uma ferramenta capaz de identificar imagens fraudulentas em artigos científicos. A tecnologia, que tem o objetivo de combater a desinformação, pode ajudar a população a encontrar conteúdos suspeitos em estudos.
Para isso, o pesquisador e pós-doutorando em IA João Phillipe Cardenuto treinou algoritmos para que identifiquem gráficos, exames, registros microscópicos e outros conteúdos visuais que possam ter sido gerados por inteligências artificiais, editados ou plagiados de outros artigos.
O DE também contou com a parceria de uma agência dos Estados Unidos, responsável pela criação de tecnologias de uso militar, e ajudou a identificar uma série de estudos falsificados em um site chinês que vendia a autoria de artigos científicos.
> “Com a nossa ferramenta e com essa denúncia, a gente conseguiu melhorar o nosso algoritmo e detectar, a partir das imagens dos artigos produzidos por esse tipo de organização, todos os artigos falsificados. A gente investigou até que o site saiu do ar. Não existe mais”, diz João.
A seguir, entenda como a ferramenta funciona e qual a sua importância no combate à desinformação.
COMO A FERRAMENTA FUNCIONA?
Para usar a ferramenta, basta ter uma cópia do artigo em PDF. O sistema faz a leitura do arquivo e pontua os possíveis problemas. A ideia é que, caso os algoritmos apontem a existência de alguma imagem suspeita, o artigo analisado passe pela revisão de um humano, que poderá concluir se o conteúdo é ou não confiável.
“Estamos falando de identificar falsificações na ciência, quando um autor resolve falsificar algum resultado e publicar como se fosse verdadeiro. Isso é um problema sério, porque você pode estar falando de medicamentos que, na verdade, não funcionam ou de descobertas científicas que foram inventadas”, explica o orientador da pesquisa Anderson Rocha.
João Phillipe diz que a inteligência pode indicar se as imagens do artigo foram:
– Criadas por IA;
– Editadas no Photoshop;
– Copiadas de outros documentos.
> “A gente nota que hoje imagens científicas são produzidas por IA de maneira fraudulenta e a gente consegue detectar usando IA quais são essas imagens e ajudar a ciência. É a IA do bem”, brinca o pesquisador.
CIÊNCIA DO JEITO CERTO
Samuel Duarte Maia faz doutorado em farmacologia na Unicamp e acredita que a ferramenta vai ajudar a valorizar a ciência. O pesquisador, que já desenvolveu estudos sobre o uso do óleo de cannabis na diminuição da pressão arterial, lembra que há um jeito certo de fazer ciência, com ética e estudo, e ele deve ser respeitado.
“É de uma importância inquestionável porque o que a gente preza dentro do laboratório é fazer a ciência da forma correta. A gente sempre está lendo artigos, realizando reuniões, discutindo sobre os resultados e como fazer de forma mais precisa. Mas vai ter gente que, claro, vai cometer erros de forma acidental, mas também de forma intencional”.
> “Vai ter gente que, obviamente, ao invés de levar esses cinco anos para publicar o artigo, vai encurtar de forma antiética. Não prejudica só o pesquisador caso ele seja pego, mas prejudica toda a sociedade e a credibilidade científica em si”.
AJUDA PARA OS REVISORES E PARA TODA A POPULAÇÃO
O sistema desenvolvido por Cardenuto pode ajudar o trabalho de pesquisadores como Li Li Min, da Unicamp, que faz a revisão de artigos científicos há mais de 20 anos. “Essa questão do plágio acaba sendo importante a gente ter ferramentas que nos apontem essa possibilidade”, comenta.
“É um trabalho que demanda um tempo a partir do momento que ele lê, de conferir as referências de, realmente, analisar a validade do processo da pesquisa que foi colocado, a metodologia, e, por fim, se os resultados que foram colocados estão dentro de um parâmetro esperado ou razoável cientificamente falando”.
Além de ajudar os pesquisadores e revisores da própria instituição, a ferramenta também está disponível gratuitamente para todas as pessoas que identificarem imagens suspeitas em pesquisas. Basta entrar em contato pelo e-mail [email protected] informando o interesse em usá-la.
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