Preservação da rolinha-do-planalto: Observação suspensa em 2025

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Observação da rolinha-do-planalto, uma das aves mais raras do Brasil, é suspensa em 2025

Medida foi anunciada após censo contabilizar apenas 11 indivíduos da espécie na região de Botumirim (MG), onde ela ocorre em duas áreas protegidas.

Rolinha-do-planalto era considerada extinta até 2015, quando foi redescoberta por Rafael Bessa — Foto: Luiz Nadal

Uma nova medida de proteção foi comunicada nesta quinta-feira (9) para garantir a sobrevivência de uma das espécies mais raras e ameaçadas do Brasil. A rolinha-do-planalto (Columbina cyanopis) teve a suspensão total das visitas aos seus habitats em Botumirim (MG) durante o ano de 2025.

O anúncio foi feito pela organização SAVE Brasil, responsável pela Reserva Natural Rolinha-do-planalto, com apoio do Parque Estadual de Botumirim, também localizado na região. A decisão vem após o censo anual, realizado no início deste ano, que contabilizou apenas 11 indivíduos da espécie vivendo nesses dois locais.

Além da baixa contagem, pesquisadores também identificaram mudanças no comportamento das aves, que estão mais retraídas diante da presença humana e passaram a frequentar áreas de vegetação mais fechada — dificultando a visualização e indicando maior estresse ambiental.

Apesar de a observação de aves ser uma atividade de baixo impacto, a SAVE Brasil optou por priorizar o bem-estar da espécie.

“A visitação, por mais controlada que seja, ainda representa uma interferência no habitat. E, nesse momento, precisamos garantir as melhores condições para a sobrevivência da rolinha”, explica a equipe em nota.

Nos últimos dez anos, mais de 2 mil pessoas, entre brasileiros e estrangeiros, passaram por Botumirim com o sonho de observar a rolinha-do-planalto. A procura fomentou o ecoturismo e impulsionou a economia local, especialmente por meio do trabalho de guias especializados em avifauna.

O guia Fábio Barata comenta que o roteiro para ver a espécie é um dos mais pedidos pelos turistas. Com a suspensão das visitas em 2025, um cliente argentino do guia precisou desmarcar a viagem, que estava agendada desde agosto do ano passado.

“Sempre oriento meus clientes que o bem-estar das aves deve vir em primeiro lugar. Diante do cenário delicado, entendo e apoio totalmente essa medida. Tenho certeza de que todos os guias, agências e observadores comprometidos com a causa também compreenderão a importância desse momento”, afirma Fábio.

A SAVE Brasil informou que os visitantes que fizeram agendamentos para 2025 podem solicitar o ressarcimento de doações feitas para a visita, enviando um e-mail para [email protected]. Para os que desejarem conhecer outras aves da região, o assistente de campo local continuará disponível para acompanhar as expedições sem custos.

Mesmo com a suspensão das visitas para observação da rolinha-do-planalto, Botumirim segue sendo um ponto de destaque para birdwatchers. A região abriga espécies típicas da Mata Atlântica, do Cerrado e da Caatinga, além de aves endêmicas da Cordilheira do Espinhaço.

A esperança é que a pausa sirva para garantir um futuro mais seguro para a rolinha, sem deixar de valorizar toda a biodiversidade local. “Precisamos cuidar da rolinha-do-planalto agora para garantir sua sobrevivência em longo prazo. E esse é o momento de todos se comprometerem com essa missão”, reforça a SAVE Brasil.

A situação da rolinha-do-planalto é um problema associado à destruição secular do Cerrado brasileiro. Na época de sua redescoberta em Botumirim, a população contada foi de 12 indivíduos. Atualmente, foi atingido o maior número de casais reprodutivos (cinco, ao todo), mas eles já chegaram a ser apenas dois.

“Havia a esperança de que, após conhecido o canto, as características da espécie e de seu habitat, ela seria encontrada em outros locais do Brasil. Mas, após dez anos da redescoberta, o mistério permanece. Por que a espécie só ‘persiste’ em Botumirim?”, questiona Edson Ribeiro, responsável pelo projeto de conservação da rolinha.

Após a redescoberta da espécie em 2015, os esforços iniciais foram direcionados para a proteção de seu habitat. A SAVE Brasil adquiriu e criou a Reserva Natural Rolinha-do-planalto, com 593 hectares. Como a área abarcava apenas uma parte dos territórios ocupados pela ave, foi preciso articular a criação de uma área protegida pública e de maior tamanho.

Segundo ele, já havia um movimento local do início dos anos 2000 para criação de um parque estadual na região, mas a descoberta da rolinha foi o impulso final para a criação da área de mais de 35 mil hectares. Após treinamento das equipes, estruturação e criação de brigadas de incêndios, a sede do parque foi inaugurada.

Um trabalho de conscientização da população local e o ordenamento da visitação foi estabelecido, além de esforços para a criação de uma população de segurança por meio de reprodução assistida, que já conta com filhotes de rolinha-do-planalto.

“Ainda há esperança, e muito tem sido feito, mas é preciso que todos tenham sempre essa noção da gravidade. É uma espécie que está criticamente ameaçada. Até por conta disso, as visitações à área foram suspensas”, finaliza Edson Ribeiro.

A rolinha-do-planalto também é foco de um grande trabalho realizado no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu (PR), onde pesquisadores realizam a reprodução da ave sob cuidados humanos, com o objetivo de garantir um banco genético viável para a espécie.

Como podemos observar, a preservação da rolinha-do-planalto tem sido uma preocupação constante de organizações e pesquisadores visando garantir a sobrevivência dessa espécie ameaçada no Brasil. A suspensão temporária das visitas em 2025 visa proteger o habitat dessas aves e permitir que possam se reproduzir e se desenvolver sem interferências externas. Essas medidas são essenciais para garantir um futuro mais seguro para a rolinha-do-planalto e preservar a biodiversidade local.

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