O guru Uberto Gama, preso por suspeita de violência sexual, arranjava casamentos
entre os participantes do “clã” que liderava em Quatro Barras, na Região Metropolitana
de Curitiba.
Segundo a promotora de justiça Tarcila Santos Teixeira, este é um dos
indicativos da dominação religiosa e pessoal que o guru, de 63 anos, tinha em
relação aos seguidores. “Os casamentos eram aprovados por ele, inclusive muitos arranjados por ele. A
profissão que a pessoa ia desenvolver, o negócio que ia fazer, tudo tinha que passar por ele. Havia uma dominação religiosa, espiritual… Uma doutrinação que dominava completamente essas pessoas”, afirma.
Ele foi preso na sexta-feira em Florianópolis (SC), e é investigado por violação sexual mediante fraude, que se configura quando não há o emprego de violência física ou grave ameaça, mas como fraude como meio de obtenção do ato sexual. O DE tenta identificar a defesa dele. Segundo o Ministério Público, o homem usava a posição de “líder espiritual” para manipular as vítimas e praticar os crimes. “Ele incutia nas vítimas a ideia de que ele as estava escolhendo isoladamente, para que ele emprestasse a elas a energia dele como líder, como ser espiritualizado, elevado, que já não tem mais apego às questões carnais, e que ele estava fazendo isso por elas”, detalha a promotora.
De acordo com Teixeira, quando as vítimas questionavam as ações do guru, ele recorria a apelos emocionais, como dificuldade para engravidar, filhos com problemas de saúde, conflitos conjugais, entre outros. “Quando elas colocavam a mínima dúvida, a mínima indagação, ele as quebrava, porque ele dizia: ‘Você duvida. Quem duvida não merece elevação. Você não merece o que eu estou fazendo por você. Você não está pronta para esse crescimento espiritual’. E isso as fragilizava ainda mais, porque daí elas começavam a achar que realmente elas tinham que permitir, porque era aquilo que elas precisavam para vida delas”, afirma.
Segundo a promotora, Uberto Gama atuava dessa forma há cerca de 20 anos. “É uma história de décadas. Certo é, que muitos desses fatos já estão fulminados pela prescrição, mas muitos foram se desenhando em continuidade delitiva e chegaram até 2024”, pontua.
As investigações começaram depois que cinco vítimas procuraram o Ministério Público e denunciaram o homem. Após a divulgação do caso, outras vítimas procuraram as autoridades e relataram situações semelhantes. O DE reforça que outras possíveis vítimas podem fazer denúncias na sede do Núcleo de Apoio à Vítima de Estupro (Naves), na Rua Marechal Hermes, 751, 5º andar. Também é possível buscar ajuda pelo telefone 32250-4022 ou pelo e-mail: [email protected].
Por fim, mesmo diante deste caso chocante, é importante que vítimas de violência sexual ou qualquer tipo de abuso busquem ajuda e denunciem. Todos têm o direito de serem protegidos e de lutar por justiça. Fique atento às notícias e aos canais de apoio em casos de violência. Juntos, podemos criar um ambiente mais seguro e acolhedor para todos.