Por que reflorestamento é melhor arma contra secas e quais segredos para fazê-lo corretamente
Pesquisadores no interior de SP desenvolveram método para aumentar sucesso e
baratear restauração florestal. Iniciativa ganha evidência em meio a queimadas
dos últimos anos.
Um estudo recente publicado na revista científica “Science” revelou que as mega
secas – períodos de seca que duram pelo menos dois anos – têm se tornado mais
frequentes, quentes e devastadoras ao redor do mundo.
Por outro lado, a pesquisa também pontuou que efeitos dessas secas prolongadas
são menores em áreas de florestas ou que têm mata por perto.
Diante disso, os projetos de restauração florestal vêm ganhando cada vez mais
importância contra as mudanças climáticas.
Exemplo disso é uma iniciativa de reflorestamento da Esalq/USP, de Piracicaba (SP),
que conseguiu recuperar uma mata ciliar em Iracemápolis (SP) que há 40 anos
estava seca por causa do assoreamento.
Ricardo Rodrigues, professor de Ciências Biológicas da Esalq e um dos líderes do
projeto, destacou a atuação das espécies reflorestadas no processo hídrico.
> “Além de ela proteger aquela área de erosão e assoreamento, ela, com as
> raízes, vai induzir a infiltração da água no solo, abastecendo o lençol
> freático. A nascente só é uma volta do lençol freático na superfície, então a
> nascente é onde o lençol freático aparece, e a água começa a brotar ali”, diz.
Esta reportagem integra a série “Do Fogo ao Verde”, da EPTV, afiliada da TV
Globo, que trata das mudanças climáticas, dos efeitos das queimadas que vivemos
com mais intensidade nos últimos anos e das medidas que podemos adotar para
reverter o cenário.
REFLORESTAMENTO INOVADOR
Em 40 anos de pesquisa, os pesquisadores desenvolveram um método para aumentar o
sucesso e baratear o reflorestamento.
Entre as atribuições o diagnóstico indica, por exemplo, qual área pode se
recuperar sozinha.
> “A técnica mais efetiva e interessante é o que a gente chama de condução da
> regeneração natural. Quando a área ainda tem potencial de regeneração natural,
> você só protege ela, porque daí a natureza está recuperando aquela área. Essa
> [técnica] é a mais efetiva e a mais barata, só que ela não tem em todos os
> lugares. Quando tem essa condição, você tem que aproveitar”, explica
> Rodrigues.
Já quando a intervenção é necessária, é preciso saber o que plantar em cada
local, para garantir a continuidade da floresta.
“Escolher essas espécies que estão adaptadas, em centenas de anos que elas se
adaptaram àquela condição de solo, de clima. O máximo de espécie que você usar
na restauração, maior a possibilidade de a floresta se manter no tempo, porque
ela vai estar lá, as espécies vão se substituindo umas com as outras no tempo, e
aquela floresta vai se manter por dezenas de anos.”
BENEFÍCIOS
A empresa de Piracicaba que estipulou uma meta de restaurar 1 milhão de hectares em 15 anos
usa os métodos de produção da Esalq.
A técnica é aliada no cumprimento de contratos para entrega de 30 milhões de
mudas de reflorestamento para os próximos quatro anos, explica Fernanda
Guimarães, gerente de produção do viveiro.
“O desafio é conseguir a produção de mudas na escala necessária para a nossa
meta de restauração florestal. A gente tem uma meta de restaurar 1 milhão de
hectares em 15 anos e, para isso, precisa de mais de 100 milhões de mudas.”
> O custo de restauração florestal, que é de cerca de R$ 30 mil por hectare, cai
> em até 60% com técnica da Esalq.
VALE TUDO PELA ÁGUA
Após os incêndios que assolaram o interior de São Paulo entre julho e setembro
de 2024, as chuvas voltaram em outubro, e o verde começou a se reerguer.
Mas até as vegetações voltarem à normalidade, os problemas se agravaram, como a
diminuição da capacidade de armazenamento de água e consequente assoreamento de
terras.
> “Você está perdendo essa capacidade de armazenar água, perde o acesso à água.
> O problema de erosão e assoreamento é o maior problema do mundo da
> agricultura”, afirma o professor da Esalq.
Com isso, produtores tentam de tudo para garantir a presença do recurso hídrico.
De acordo com a SP Águas, agência reguladora de recursos hídricos paulista, o
número de pedidos para construção de barragens no campo subiu de 1.062 para
1.396 nos últimos três anos, o que representa um crescimento de 31%. A ideia é
ter água reservada pelo maior tempo possível.
O cafeicultor Rafael Stefâni possui uma dessas barragens no sítio, que fica em
Ribeirão Corrente (SP). Ele lembra dos prejuízos que teve no ano passado com o fogo que atingiu as lavouras
de café, mas agora, com a água reservada para ajudar no combate à chamas, espera
reduzir os riscos.
“A gente chega a um período de colheitas onde a gente não tem chuvas, é um
período extremamente seco, onde a gente precisa dessecar todo o mato, então é o
momento ideal para que se pegue fogo. […] A gente está cada vez mais
preocupado em tentar amenizar esses riscos, e você precisa ter água disponível
em grande quantidade.”