CoCriança: Transformando Cidades com Ações das Infâncias

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CoCriança transforma cidades a partir da escuta e da ação das infâncias

Coletivo atua em comunidades urbanas e rurais para fortalecer o protagonismo de crianças e adolescentes na construção de territórios mais justos e sustentáveis.

Ações do coletivo envolvem caminhadas sensoriais, jogos colaborativos, rodas de conversa e outras construções lúdicas — Foto: André Jensen / Acervo CoCriança

Em uma sociedade onde as decisões sobre o espaço urbano costumam ser tomadas sem a participação de quem mais vive e sente os impactos da cidade, o coletivo CoCriança surge como uma proposta de escuta, partilha e transformação.

Desde 2016, o coletivo tem atuado em diferentes regiões do Brasil com um objetivo claro: tornar as crianças protagonistas na construção de cidades mais humanas, justas e sustentáveis.

Neste fim de semana, o CoCriança leva suas experiências para o Fórum Observai, realizado dentro da programação do Avistar 2025 pelo Terra da Gente. A proposta do coletivo é dialogar com outras organizações e movimentos sobre a importância da infância na construção de territórios mais saudáveis e ambientalmente responsáveis.

Crianças ajudam a pensar e construir as cidades onde querem morar — Foto: Acervo CoCriança

> “Pensar as cidades a partir das infâncias, é reconhecer as crianças como sujeitos políticos, que vivem, narram e transformam o território. É uma forma de romper com um modelo de cidade que historicamente excluiu as infâncias dos espaços públicos, planejou os territórios a partir de uma lógica centrada no homem, adulto, motorista, e invisibilizou outras formas de ocupar, cuidar e viver a cidade”, afirma Ayumi Pompeia, vice diretora do CoCriança.

O tema da sustentabilidade e das soluções baseadas na natureza sempre foi presente nos projetos desde o começo. “Mas, de alguns anos para cá, essa integração das crianças com a natureza ganhou um papel muito central na nossa atuação, então hoje a gente levanta muito essa bandeira, que está no projeto Verdejando Escolas, que é brincar ao ar livre”, acrescenta.

O grupo começou a se formar a partir de encontros entre amigos que queriam repensar suas relações com os lugares onde viviam e atuavam. A vontade de transformar os territórios levou à criação de uma rede de articulação que hoje desenvolve oficinas, jogos, formações e vivências com crianças, jovens, adultos e instituições, sempre a partir de processos colaborativos e educativos.

Com as atividades, o coletivo ajuda os pequenos a entender desde cedo o papel da cidadania — Foto: Acervo CoCriança

ATUAÇÃO EM REDE E IMPACTO COMUNITÁRIO

O CoCriança organiza seu trabalho em três focos: crianças, comunidade e espaços. Na prática, isso significa atuar de forma contínua em territórios diversos, desenvolvendo processos que envolvem escuta sensível, mobilização comunitária e articulação com o poder público.

“Para promover essa integração da criança com a natureza, a gente precisa, por um lado, ter oferta e acesso a espaços naturalizados, a gente precisa de adultos, de comunidades que permitam e que reconheçam a importância das crianças brincarem na natureza e a gente precisa de crianças que se sintam familiarizados com a natureza”, explica

Sustentabilidade é parte importante do processo de melhoria dos espaços urbanos — Foto: Acervo CoCriança

“É mais que uma honra para a gente fazer parte desse fórum, porque é também uma oportunidade incrível de conhecer outras iniciativas e de aprofundar esse debate dessas formas de fazer, que é uma discussão tão importante”.

Ao todo, são quase dez anos de atuação em comunidades urbanas e rurais de Campinas (SP) e de outras cidades do interior de São Paulo. Em cada local, o trabalho do coletivo se adapta às realidades específicas, mas mantém o mesmo compromisso: escutar as infâncias, valorizar o território e estimular o senso de corresponsabilidade nas comunidades.

“Outro campo que tem nos chamado bastante é o trabalho com as redes que protegem as infâncias. Então, a gente sabe que as crianças sozinhas não vão conseguir transformar as cidades, então a gente tem olhado com muito carinho para quem está ali no entorno dessas crianças: os educadores e os cuidadores”, diz.

Construir cidades melhores para as infâncias, segundo o coletivo, é construir cidades melhores para todos — Foto: Acervo CoCriança

EDUCAÇÃO, NATUREZA E CIDADANIA

O trabalho do CoCriança se articula também com temas como educação, direito à cidade, cuidado com a natureza e participação política. Para o coletivo, tudo isso está interligado — e precisa ser vivido desde cedo.

Muitas das ações do coletivo envolvem caminhadas sensoriais, jogos colaborativos, rodas de conversa e construções lúdicas, em que crianças, adolescentes e adultos repensam juntos os espaços em que vivem. Em alguns casos, essas iniciativas resultam em mudanças concretas, como a requalificação de praças, a criação de hortas comunitárias ou a instalação de mobiliários urbanos pensados pelas próprias crianças.

Para a equipe do coletivo, arquitetura, urbanismo e educação não são campos separados. Ao contrário, são dimensões que se entrelaçam e que, juntas, podem ser ferramentas potentes de educação cidadã e ambiental.

“Porque não dá pra pensar em construir cidades melhores para as infâncias e para todos sem, ao mesmo tempo, criar experiências onde as crianças possam se reconhecer como cidadãs, perceber que têm direito ao brincar, ao espaço público, ao contato com a natureza, ao convívio. E é aí que o espaço ganha um papel fundamental no processo educativo”.

“Como aprender sobre jardinagem sem ter um jardim? Como entender o que é cidadania se a cidade continua inacessível? Como reconhecer a importância do meio ambiente se o cotidiano nos afasta da terra, da água, dos bichos? O espaço educa na sua presença e também na sua ausência. Por isso, o urbanismo e a arquitetura podem criar as condições materiais, simbólicas e afetivas para que essas aprendizagens sejam vivas, contextualizadas, com sentido”, finaliza.

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