Artesã de Ribeirão Preto: produção de bebês reborn hiper-realistas e projeto social transformador.

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Bebês reborn: artesã detalha produção de bonecas hiper-realistas que mudou a
vida dela

Eliane Fátima de Oliveira começou a produção após o nascimento do primeiro
filho, que tinha grave doença no coração. Ela estima ter produzido cerca de três
mil bonecas em duas décadas de carreira.

Bebês reborn: artesã detalha produção de bonecas hiper-realistas que mudou a
vida dela

Bebês reborn: artesã detalha produção de bonecas hiper-realistas que mudou a
vida dela

Os bebês reborn ganharam espaço na internet nas últimas semanas. As bonecas
hiper-realistas são feitas com detalhes tão impressionantes, como a textura da
pele e os cabelos, que podem facilmente ser confundidas com crianças de verdade.

No entanto, a semelhança com bebês reais vem causando polêmica desde que vídeos
de pessoas que buscam dar uma vida de verdade, como o fato de levá-los a postos
de saúde, viralizaram nas redes sociais.

Em Ribeirão Preto (SP), Eliane Fátima de Oliveira começou a trabalhar com artesanato há 25 anos e, no início da
carreira, decidiu entrar na produção dos bonecos hiper-realistas. O preço de
cada um deles pode variar de R$ 980 a R$ 3 mil.

> “Quando eu conheci os bebês reborn, nossa, eu me encantei logo de cara. Além
> de eu ficar encantada com aquele trabalho, eu vi que ali existia uma
> possibilidade de um artesanato muito mais rentável”.

Na época, Eliane precisou ir para São Paulo (SP), um dos poucos lugares com
cursos sobre esse tipo de artesanato para aprender a fazer. O investimento valeu
a pena e virou fonte de renda de toda a sua família.

Foram milhares de bebês que ‘nasceram’ durante todos esses anos de trabalho. E,
segundo a artesã, as recentes polêmicas ajudaram a aumentar a procura pelo curso
que ela mesma oferece hoje em dia.

> “Devo ter feito uns três mil bebês. Teve uma época que eu contava, depois eu
> perdi a conta. Essa semana eu recebi várias pessoas porque muitas começaram a
> ver nisso um negócio, um negócio lucrativo. Ainda mais que o trabalho é uma
> terapia”, diz.

Artesã de Ribeirão Preto mostra como são feitos os bebês ‘reborn’ — Foto:
Murilo Corazza

MAS COMO SÃO FEITOS OS BEBÊS REBORN?

A pedido do DE, Eliane topou mostrar como as bonecas são feitas. Ela contou inclusive como elas ganham esse
ar realista.

Como uma tela em branco, os bebês chegam em moldes de silicone com uma
tonalidade próxima ao bege. Com o auxílio de pincéis e esponjas, algumas usadas
em maquiagem, a técnica começa a ser construída, como descreve a artesã.

> “São escultores do mundo inteiro, fazem a escultura de um bebê baseado no bebê
> real. Eles fazem formas, então nós, que somos artistas ‘reborn’, a gente
> compra esse molde, esse vinil já pronto e vamos trabalhando em camadinha de
> pintura para poder dar esse efeito 3D na pele. Vai fazendo as veias, as
> artérias, para dar cada vez mais realismo”.

Artesã de Ribeirão Preto mostra moldes usados para fazer um bebê ‘reborn’
— Foto: Murilo Corazza

Os detalhes dos pés e das mãos, geralmente enrugados como os de crianças
recém-nascidas, dão aos bonecos uma aparência mais real. Para isso, é preciso um
trabalho minucioso.

Os olhos também chamam a atenção dos bebês ‘reborn’. Eliane comenta que o valor
e a semelhança com crianças reais estão nesses detalhes.

> “Existe olho que é de prótese humana, então esse bebê vai ficando mais real. A
> gente pode colocar um batimento cardíaco nele, pode ter um respirador, que é
> uma maquininha que vai fazer esse movimento da respiração”, descreve.

Artesã de Ribeirão Preto mostra moldes usados para fazer um bebê ‘reborn’ —
Foto: Murilo Corazza

Eliane, que ministra cursos on-line e presenciais, diz que suas alunas saem com
um bebê ‘reborn’ em mãos após 16 horas de trabalho. Para isso é preciso
desenvolver inúmeras técnicas, inclusive na aplicação do cabelo que contribui
para a proximidade com bebês de verdade.

“Hoje em dia, tem o cabelo que é de fibra, uma fibra vegetal, e existe esse
cabelo que é um pelo de cabra, que chama mohair. Existem algumas fazendas fora
do Brasil em que eles criam esse tipo de cabra, com pelo mais comprido. Eles
fazem o tratamento e tingem, e a gente compra as mechas e as implanta”.

Artesã de Ribeirão Preto mostra como são feitos os bebês ‘reborn’ — Foto:
Murilo Corazza

PROCESSO TERAPÊUTICO

O artesanato surgiu na vida da Eliane no momento mais desafiador da sua vida. O
nascimento do primeiro filho veio junto com o diagnóstico de uma cardiopatia
grave que daria a ele apenas dois anos de vida.

A artesã começou a vender biscuit e pinturas de madeiras, como uma forma de
terapia e também para juntar dinheiro. Como esse tipo de artesanato não dava
muito lucro, decidiu entrar na arte ‘reborn’.

Artesã de Ribeirão Preto mostra como são feitos os bebês ‘reborn’ — Foto: Murilo
Corazza

“Meu filho foi fazendo algumas cirurgias, foi sobrevivendo, ele passou dos dois
aninhos. Ele começou a crescer e eu nunca sabia se ia ter o dia de amanhã, eu
queria realizar os sonhos dele, mas eu nunca tinha dinheiro. Eu rodava noites
fazendo aqueles artesanatos e me rendia pouco financeiramente”.

Para conseguir aproveitar o filho, o artesanato era uma opção que garantia ainda
uma presença integral dentro de casa. Dessa forma, ela se dividia entre o ateliê
e os cuidados com o menino.

Foram realizadas diversas cirurgias paliativas no filho e a expectativa de vida
de dois anos dadas pelos médicos foi ultrapassada, como lembra Eliane.

“Depois de quase 18 anos de uma vida de milagres, o meu filho foi morar com
Deus. Eu experimentei a maior dor que pode existir no mundo. Quando eu vim para
o meu ateliê, depois de tudo, eu tinha ficado cinco meses com ele numa UTI.
Quando eu voltei, ele ficava aqui comigo, ele era meu grude, a minha sombra.”

Projeto em Ribeirão Preto ensina mulheres a reformarem bonecas que iriam para o
lixo — Foto: Arquivo Pessoal

PROPÓSITO DE VIDA

O artesanato ajudou Eliane de forma tão significativa a superar as dificuldades
da vida, que ela viu na arte uma forma de ajudar outras mulheres. Foi nesse
momento que ela decidiu ensinar a técnica ‘reborn’.

“Por que não eu fazer disso o propósito de vida? Por que não mostrar pra elas
[outras mulheres] que, olha, mesmo com um filho que usava, às vezes, oxigênio em
casa, eu consegui fazer minha empresa em casa. Eu quis dar um novo rumo pra
minha vida e foi assim que eu comecei a ensinar.”

Artesã de Ribeirão Preto mostra produção de bebês ‘reborn’ — Foto: Murilo
Corazza

Foi dessa forma que ela começou com cursos com aulas gravadas, que podiam ser
acessadas de qualquer lugar e também dando aula na forma presencial.

Em 2017, no entanto, após a perda do filho a artesã lembra que começou a
frequentar o Hospital das Clínicas (HC) em Ribeirão Preto, para orar e ajudar as
mães que ficavam com os filhos internados, em especial as meninas.

“Eu fiquei pensando, nossa, imagina uma boneca fazendo companhia pra elas. Só
que o material do bebê reborn, ele não é um material tão acessível, eu não ia
conseguir levar bonecas pra todo mundo. Daí eu tive a ideia: e se eu aplicasse a
técnica da arte reborn, mas em bonecas comuns? Melhor ainda, em bonecas velhas,
que estão no lixo?”.

Projeto em Ribeirão Preto ensina mulheres a reformarem bonecas que iriam para o
lixo — Foto: Arquivo Pessoal

Eliane teve a ideia de pedir no grupo do condomínio onde mora algumas bonecas
velhas para reforma. O vídeo acabou viralizando e ela recebeu milhares de
bonecas de todo o Brasil que foram e continuam sendo transformadas e enviadas
para hospitais e orfanatos.

Dessa ideia nasceu o projeto social ‘Seguindo na Faixa Azul’, uma alusão à faixa
do metrô de São Paulo que o filho da artesã adorava andar. Ela decidiu unir a
sua arte para restaurar bonecas, além de ajudar mulheres, muitas que vivem
sozinhas e com depressão.

“Nesse projeto social, a gente restaura bonecas velhas, mas restaura as pessoas.
Eu tenho um grupo de psicólogos, terapeutas, coachs, que trabalham junto.
Enquanto eu cuido das oficinas das bonecas, eles cuidam das mulheres. Então as
bonecas saem transformadas e as mulheres também”.

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