Ministério dos Direitos Humanos repudia acusações contra brasileira alvo de difamação na Itália: ‘misóginas e xenofóbicas’
Barbara Zandômenico Perito, de Santa Catarina, é acusada sem provas pelo ex-namorado italiano de integrar uma seita de mulheres que engravidam para tentar ganhar dinheiro de pensões alimentícias.
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania divulgou uma nota de repúdio às declarações “misóginas, xenofóbicas e discriminatórias” contra a brasileira Barbara Zandômenico Perito, acusada sem provas pelo ex-namorado italiano de integrar uma seita de mulheres que engravidam para tentar ganhar dinheiro de pensões alimentícias. O caso foi revelado pelo Fantástico em 11 de maio (assista).
No texto, o órgão do Governo Federal prestou solidariedade à brasileira e informou que acompanha o caso com atenção e que está em “articulação com os órgãos competentes”.
O caso ganhou proporção quando Nunzio Bevilacqua, advogado e empresário com negócios no Brasil, foi à imprensa italiana dizer que a gravidez da ex-namorada seria fruto de orgias e ritos satânicos.
A professora de português para estrangeiros de Tubarão, no Sul de Santa Catarina, nega a acusação.
Na nota, o ministério também destacou que as acusações “reverberam discursos misóginos, xenofóbicos e marcadamente carregados de intolerância religiosa, que impactam não apenas a vítima direta, mas também a imagem e a dignidade da comunidade brasileira residente na Itália — em especial as mulheres migrantes”.
Em 3 de abril de 2024, misturando cenas turísticas do Brasil com imagens preconceituosas de cultos religiosos, a RAI, principal TV da Itália, transmitiu uma reportagem com a chamada: “Italiano vítima de magia e extorsão no Brasil. Inventam-se falsas paternidades para arrancar dinheiro.”
Um processo criminal foi instaurado para apurar a possível prática dos crimes de calúnia, difamação e perseguição, o chamado stalking. Todos pela internet, em um contexto de violência doméstica. No início do mês, a Justiça Federal concedeu a Bárbara algumas medidas protetivas.
Em 2021, Nunzio Bevilacqua se matriculou no curso de português para estrangeiros de Barbara; Depois de cinco meses, a relação profissional entre os dois começou a ficar pessoal; Após uma viagem com Nunzio pelo Brasil, Barbara ficou grávida; Eles começaram a se afastar durante a gestação; Barbara conta que começou a pensar em permanecer no Brasil durante a gravidez e ficar perto da família. “E ele não aceitou muito bem”; Segundo Barbara, Nunzio ligou certo dia perguntando “se tudo bem se ele não participasse da criação dela, não registrasse e não ajudasse financeiramente”. Ela disse que isso não estava certo.
Nunzio começou a espalhar a história que a RAI acabaria contando no ano passado depois de um exame que confirmava a paternidade.
O italiano passou a dizer para a imprensa de seu país que havia uma organização criminosa no Brasil com o objetivo de enganar homens europeus para extorquir o dinheiro deles.
Ele deu entrevistas a outros veículos italianos, e disse que tinha recebido a seguinte denúncia anônima: “A gravidez de Barbara seria fruto de orgias e ritos satânicos brasileiros que alimentavam uma fábrica de crianças sobrenaturais para lucro com pensões alimentícias”.
A criança nasceu dois meses depois do telefonema de Nunzio a Barbara, em julho de 2022. Nos dias seguintes, o italiano quis fazer um teste de DNA em São Paulo. Segundo Matheus Livramento, ex-advogado do italiano, o local foi escolhido pelo próprio empresário. Depois da confirmação da paternidade, ele pediu um segundo teste, mas esse pedido foi negado pela Justiça.
Nunzio envolveu no roteiro membros do Ministério Público de Santa Catarina, grupos religiosos, médicos, políticos e até mesmo os familiares de Barbara. A defesa de Barbara pede que Nunzio seja responsabilizado. “Ele atenta contra o Ministério Público, ele atenta contra a Igreja Católica, contra outras religiões, contra uma pessoa que tem direitos, que é a Barbara, e mais ainda: contra a filha dele, uma menor de idade”, diz Vitor Poeta, advogado de Barbara Perito.