Ex-PM que participou de chacina em Fortaleza é condenado nos EUA por mentir para
conseguir visto
Antônio José de Abreu Vidal Filho omitiu das autoridades de imigração dos Estados Unidos
seu envolvimento na chacina que deixou 11 mortos na capital cearense e foi
condenado a 16 meses por tentar conseguir o visto norte-americano. Ele já havia
sido condenado no Brasil a 275 anos de prisão pela chacina.
O ex-policial militar Antônio José de Abreu Vidal Filho, sentenciado a 275 anos
de prisão pela Chacina do Curió, que deixou 11 mortos em Fortaleza em 2015, foi condenado à prisão pela Justiça
dos Estados Unidos por mentir durante o processo de solicitação de visto e durante o processo de pedido de asilo para permanecer no país. A informação
foi divulgado pela Procuradoria de Justiça do Distrito de Massachusetts.
Antônio José, de 31 anos, foi considerado culpado pelo crime de perjúrio – o ato
de mentir durante um procedimento oficial – e sentenciado no último dia 29 de
maio a 16 meses de prisão pela Corte Federal do Distrito de Massachusetts,
sediada em Boston.
Após o período na cadeia americana, o ex-policial militar está sujeito à
deportação para o Brasil, onde deve cumprir a pena de prisão pela Chacina do
Curió.
O ex-policial é natural de São Luís, no Maranhão, e atuava na Polícia Militar do
Ceará. Ele e outros 44 policiais militares foram denunciados pela chacina em
agosto de 2016 e acabaram presos preventivamente.
Em maio de 2017, ele foi solto para aguardar o julgamento em liberdade. Duas
semanas depois, em junho de 2017, ele foi ao consulado americano em Recife (PE)
e solicitou o visto de turista para entrar nos EUA.
Durante o processo de solicitação do visto, quando perguntado se já havia sido
preso ou denunciado por algum crime, Antônio José respondeu que não. Na ocasião,
o visto do militar foi aprovado e ele viajou para os Estados Unidos em maio de
2018. Desde então, Antônio José não voltou ao Brasil.
Ainda conforme o Departamento de Justiça americano, em 2020 o ex-policial entrou
com um pedido de asilo nos EUA e mentiu novamente quando questionado se já havia
sido preso, acusado ou interrogado por algum crime em algum país. Ele mentiu
novamente e disse que não.
Em agosto de 2023, após a sentença no Brasil, Antônio José foi preso pela
Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) nos Estados Unidos. Antes de ser capturado, ele chegou a integrar a lista
vermelha de procurados devido à condenação pela chacina.
Em fevereiro de 2024, o policial prestou depoimento à Corte de Imigração dos
Estados Unidos e alegou que nunca mentiu para os oficiais migratórios, e que não
falou do processo que respondia pela chacina porque ainda não havia sido
condenado nem preso.
Em maio de 2024, ele foi indiciado pelas autoridades americanas por dois crimes de fraude de visto, dois crimes de perjúrio e um crime de
falsificação, ocultação e encobrimento de um fato material. Em fevereiro de
2025, ele se declarou culpado pelo crime de perjúrio diante da Corte federal. A
sentença, por fim, foi publicada no último dia 29 de maio.
Entre 2018 até 2023, enquanto esteve solto nos EUA, ele obteve carteira de
motorista, cartão de seguridade social e autorização para trabalho. Em junho de
2023, porém, foi condenado no Brasil a 275 anos de prisão por participação na
Chacina do Curió. No decorrer das investigações, ele foi considerado desertor da
Polícia Militar por ter mudado de país, e acabou perdendo o cargo de policial.
CHACINA DO CURIÓ
Seis policiais militares já foram condenados pela Chacina do Curió, matança que
deixou 11 mortos em Fortaleza, em 2015.
As vítimas foram assassinadas por policiais militares entre a noite do dia 11 de
novembro e a madrugada do dia 12 de novembro de 2015. A maioria das vítimas tinha de 16 a 18 anos, sem passagens pela polícia.
Segundo o Ministério Público do Ceará, os crimes foram motivados por vingança
pela morte do soldado Valtemberg Chaves Serpa, assassinado horas antes ao
proteger a mulher em uma tentativa de assalto, no Bairro Lagoa Redonda.