O Hospital do Coração (HCor), em São Paulo, está convocando voluntárias para um tratamento pioneiro contra o câncer de mama, conduzido em parceria com a Finep, a financiadora de estudos e projetos, e com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A iniciativa faz parte do Estudo Six, uma pesquisa clínica que investiga o uso da crioablação no tratamento do câncer de mama. A técnica já é utilizada em outras doenças e é capaz de congelar o tumor a -170°C, sem a necessidade de cirurgia.
A crioablação é uma técnica não cirúrgica que consiste em ciclos de congelamento e descongelamento dos tecidos neoplásicos. No momento da aplicação, uma “esfera de gelo” envolve o tumor e destrói as células tumorais. O procedimento já é realizado com segurança no tratamento de vários tipos de doenças malignas, como câncer de fígado, ossos, pulmão, rim e próstata, além de tumores benignos da mama. Um dos principais benefícios da crioablação é a possibilidade de realizar o tratamento apenas com anestesia local.
No caso do câncer de mama, o procedimento pode ser feito em nódulos em estágio inicial de até 2 cm. A intervenção dura de 20 a 30 minutos e é realizada em consultório, com anestesia local e sem necessidade de internação. Na primeira fase do estudo, 60 mulheres realizaram a técnica de congelamento dos tumores e, depois, passaram pela cirurgia. Em 97% dos casos, foi possível comprovar que os tumores regrediram após o procedimento.
“Quando a gente pensa que o câncer de mama é o câncer mais incidente no sexo feminino, a gente estaria beneficiando milhares de mulheres com diagnóstico de câncer de mama, e também aquelas que ainda não tiveram o diagnóstico, mas que no futuro vão poder escolher entre um tratamento convencional, que é o cirúrgico, e um minimamente invasivo, que é o tratamento por essa agulha que causa o congelamento”, afirmou Vanessa Sanvido, mastologista do HCor.
Desde março deste ano, a pesquisa entrou na última fase, que vai durar cinco anos. Ao todo, 750 mulheres devem participar do estudo na capital e no interior do estado. Nesse estágio, metade fará a cirurgia, e a outra metade, somente a crioablação, para que, então, o estudo seja publicado e siga os trâmites para entrar no rol da Agência Nacional de Saúde. Os critérios de participação estão disponíveis no site do HCor. Segundo os pesquisadores, entrar para a pesquisa é uma forma de contribuir para o avanço da ciência e para o desenvolvimento de novas alternativas terapêuticas no combate à doença.
De acordo com o painel Oncologia Brasil, do DataSUS, o estado de São Paulo lidera os diagnósticos de câncer de mama, com pouco mais de 22 mil casos em 2023, seguido de Minas Gerais (11.941) e Paraná (9.381). Os pesquisadores acreditam que o novo procedimento pode impactar diretamente a vida das mulheres. Para as idosas, reduz os riscos de complicações em caso de outras doenças. E, para as mais jovens, o método menos invasivo permite um retorno mais rápido ao trabalho, diminuindo o peso financeiro para elas e para o sistema de saúde.
Quem pode participar: o estudo, neste momento, incluirá somente pacientes de algumas localidades do estado de São Paulo com carcinoma de mama invasivo T1N0M0 em que o tratamento cirúrgico seja a primeira opção. Serão incluídos pacientes de ambos os sexos, com idade superior a 18 anos. Como participar: se o paciente preenche os requisitos, deve acessar um formulário para responder a algumas perguntas no site do HCor. As respostas serão avaliadas pela equipe responsável e, caso o interessado tenha o perfil procurado, a equipe da pesquisa entrará em contato.