Como a Embraer virou referência na aviação e qual será o impacto de tarifas de Trump
CEO da Embraer diz que o impacto das tarifas de Trump na fabricante brasileira poderá ser comparável ao da pandemia
Jatos da linha E1 Embraer se enquadram em critérios do mercado americano que fazem com que eles não tenham substitutos diretos — Foto: Getty images
Desde o anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de que produtos do Brasil exportados para o mercado americano serão submetidos a taxação adicional de 50% a partir de 1º de agosto, um dos focos tem sido o possível impacto da medida na Embraer.
A fabricante de aviões é a principal exportadora de bens de alto valor agregado do Brasil e tem nos Estados Unidos seu mercado mais importante.
Na terça-feira (15), em entrevista coletiva para comentar o possível impacto das tarifas, o CEO da Embraer, Francisco Gomes Neto, lembrou que a empresa está presente nos EUA há mais de 45 anos e sustenta quase 3 mil empregos no país.
“As exportações para clientes nos Estados Unidos representam 45% nos jatos comerciais e 70% nos jatos executivos”, ressaltou Gomes Neto.
A Embraer tem forte presença no mercado de aviação regional dos EUA, onde muitas rotas domésticas curtas são servidas por aeronaves de menor porte. De acordo com a empresa brasileira, cerca de um terço dos voos regionais em grandes aeroportos daquele país são operados com aviões da Embraer.
Em meio às incertezas que cercam o anúncio de Trump, ainda é cedo para entender em detalhes como a empresa será afetada. Mas a preocupação gerada nos últimos dias chama a atenção para a trajetória da Embraer e como ela se tornou referência na indústria aeroespacial.
Nascimento e primeiros modelos
A Embraer é hoje a terceira maior fabricante de jatos comerciais do mundo, atrás da Boeing e da Airbus, e líder mundial no segmento de aeronaves até 150 assentos.
Com sede em São José dos Campos (SP), fabrica aviões militares, comerciais, executivos e agrícolas. De acordo com a empresa, em toda a sua história já produziu e entregou mais de 9 mil aeronaves para mais de 100 países.
A empresa foi fundada em 1969, com o apoio do governo brasileiro, após décadas de esforços privados e governamentais para desenvolver uma indústria aeronáutica competitiva no Brasil. Além de criar um setor industrial de alta tecnologia, havia o objetivo de facilitar a conexão de diferentes partes do país.
As origens da então chamada Empresa Brasileira de Aeronáutica estão ligadas ao Centro Técnico Aeroespacial (CTA) e ao Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA). Foram técnicos formados pelo instituto que, em 1965, começaram a trabalhar em um projeto liderado pelo engenheiro aeronáutico e então major da Força Aérea Brasileira (FAB) Ozires Silva.
O Bandeirante tinha entre suas vantagens a capacidade de operar em pistas curtas e não pavimentadas, chegando a aeroportos menores, que não tinham estrutura para receber jatos de grande porte. Assim, poderia conectar regiões mais isoladas, impulsionando a aviação regional e a integração do país.
Altos e Baixos
Ao longo de sua trajetória, a Embraer enfrentou altos e baixos. A empresa quase chegou à falência em meio à crise financeira do final da década de 1980.
A Embraer foi privatizada no fim do governo do presidente Itamar Franco, depois de um longo processo, por R$ 154,1 milhões (em valores da época). O acordo de privatização garantiu ao governo brasileiro a chamada golden share, ação preferencial que dá direito a veto a decisões estratégicas, como a transferência de controle acionário — e que permanece em vigor.
Entre os projetos que impulsionaram a recuperação após a reestruturação está o do ERJ-145, jato comercial para até 50 passageiros, além de outros modelos da mesma família. Também teve papel importante o programa de E-jets de aviões comerciais, focado no segmento de 70 a 120 assentos.
Em 2018, foi anunciada a aprovação dos termos de uma parceria entre a Embraer e a gigante americana Boeing. Pelo acordo, seria criada uma nova empresa de aviação comercial, com participação de 80% da Boeing e 20% da Embraer.
Segundo Gomes Neto, o impacto das tarifas poderá ser comparável ao da pandemia. O CEO disse que uma taxa de 50% deverá gerar custo adicional de R$ 50 milhões por avião e um impacto de quase R$ 2 bilhões em tarifas apenas neste ano, e de R$ 20 bilhões até 2030.