Edmilson Alves: 1º Cego Formado na UFV Superando Desafios

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Aluno supera abandono escolar e alfabetização tardia e se torna o primeiro cego
a se formar na UFV: ‘quero ajudar outras pessoas’

Edmilson Alves da Silva, de 43 anos, formou em pedagogia após longa batalha
enfrentada. Nascido no interior de Minas Gerais, cresceu em um ambiente onde a
deficiência visual era considerada doença e o acesso à educação, quase
inexistente.

Edmilson Alves da Silva, primeiro estudante cego formado pela Universidade
Federal de Viçosa (UFV) — Foto: Edmilson Alves da Silva/Arquivo Pessoal

Aos 43 anos, Edmilson Alves da Silva tornou-se o primeiro estudante cego a se
formar na Universidade Federal de Viçosa (Diário do Estado) (UFV). O diploma em pedagogia,
conquistado em 26 de junho de 2025, representa muito mais do que um título
acadêmico. Para ele, simboliza o fim de uma longa travessia marcada por
exclusão, resistência, coragem e o desejo de aprender, mesmo quando o mundo ao
redor insistia em negar esse direito.

Nascido na zona rural de Guaraciaba, no interior de
Minas Gerais, Edmilson cresceu em um ambiente onde a deficiência visual ainda
era considerada doença e o acesso à educação era quase inexistente.

Pais de Edmilson, trabalhadores rurais com pouca escolaridade, não sabiam que o
filho precisava de cuidados e estímulos específicos ao nascer. Além disso, a
pequena cidade não dispunha de estrutura suficiente para acolher uma criança
cega na escola.

Enquanto os irmãos mais novos avançavam nos estudos, Edmilson, já adolescente,
ainda não sabia ler nem escrever. A alfabetização só ocorreu depois dos 20 anos,
quando procurou por conta própria a escola municipal da comunidade onde vivia.
Mesmo adulto, começou a frequentar turmas com crianças de 7 anos. Ali, entre
lápis, réguas e letras de EVA, deu início à própria revolução.

Em 2012, aos 27 anos, Edmilson conheceu a Sala de Recursos de uma escola
estadual em Ponte Nova, cidade vizinha. Foi
lá que aprendeu braille e, pela primeira vez, dominou a leitura com as mãos. A
professora que o ensinou se aposentou logo depois, e ele passou a colaborar na
sala para ajudar colegas e apoiar os novos educadores.

De 2015 a 2018, concluiu o ensino fundamental e médio pelo CESEC de Ponte Nova.
Realizou o Enem duas vezes e, em 2017, obteve nota suficiente para ingressar na
UFV, onde enfrentou outro grande desafio: adaptar-se à nova cidade e à vida
universitária.

Ao deixar a zona rural de Guaraciaba, Edmilson foi morar nas moradias estudantis
da UFV, com o coração cheio de empolgação, mas também receios por estar em uma
cidade desconhecida.

O acesso ao Restaurante Universitário, por exemplo, dependia da boa vontade dos
colegas: “Eu esperava que alguém dissesse que ia almoçar para poder ir junto.
Sozinho, não conseguia atravessar o campus”.

Com o tempo, o apoio do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (UPI/UFV) e o
esforço pessoal ajudaram a desenvolver autonomia. Passou a andar sozinho,
reconhecer caminhos e utilizar recursos como leitores de tela, textos em braille
e monitores acadêmicos. No entanto, os desafios não estavam somente fora das
salas de aula, pois a formação de muitos docentes não contemplava acessibilidade.

No final do curso, precisou aprender libras para conseguir se comunicar com o
colega de quarto, um estudante surdo. “Imagine um cego e um surdo tentando se
comunicar. No começo, usávamos o WhatsApp. Depois, aprendi o alfabeto em libras
com ele. Hoje, caminhamos juntos por Viçosa”.

A pandemia de Covid-19 trouxe novas dificuldades. Sem internet em casa, Edmilson
usava o sinal dos vizinhos no quintal, exposto à chuva, ao sol ou ao sereno,
para assistir às aulas. Mesmo assim, não desistiu. “Eu pensava: isso é só mais
uma aprendizagem. Agora estou aqui, formado”.

O tema da conclusão do curso de Edmilson abordou as vivências e experiências nos
espaços da UFV. Com o tema “Vivências e experiências nos espaços e
corredores da UFV: relato de um estudante cego no ensino superior”, transformou
em conhecimento as múltiplas barreiras enfrentadas ao longo da trajetória
universitária.

Com essas palavras, Edmilson explica a motivação por trás do Trabalho de
Conclusão de Curso. Com o tema “Vivências e experiências nos espaços e
corredores da UFV: relato de um estudante cego no ensino superior”, transformou
em conhecimento as múltiplas barreiras enfrentadas ao longo da trajetória
universitária.

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