A Embraer descartou qualquer possibilidade de demissões no Brasil este ano e demonstrou otimismo quanto à possibilidade de reverter a tarifa de 10% imposta pelos Estados Unidos sobre aeronaves e peças exportadas. A declaração foi feita nesta terça-feira, 5, pelo diretor-executivo da empresa, Francisco Gomes Neto, durante a apresentação dos resultados financeiros do segundo trimestre.
“Nosso foco é restaurar a tarifa zero. Ficamos satisfeitos com a redução de 50% para 10%, mas seguimos trabalhando com afinco para eliminar completamente essa taxação”, afirmou o executivo. Desde abril, a fabricante brasileira está submetida à cobrança imposta pelo governo do ex-presidente Donald Trump, o que gerou apreensão no mercado.
A taxação atual representa um impacto de US$ 65 milhões — cerca de R$ 350 milhões — no ano, sendo 20% sentidos no primeiro semestre e o restante até dezembro. Ainda assim, a empresa considerou o cenário atual mais favorável do que a possibilidade de uma tarifa de 50%, descartada recentemente pelo governo americano. A cobrança incide sobre partes de aviões executivos vendidos à subsidiária da Embraer nos EUA.
A empresa reforçou que, mesmo com o impacto financeiro, está mantendo todas as projeções para 2025 e seguirá com as entregas planejadas. “Está completamente fora dos nossos planos qualquer tipo de redução de quadro por conta da produção”, garantiu Gomes Neto.
Nos casos de aviões comerciais vendidos para os Estados Unidos, o custo da tarifa é repassado ao cliente, o que encarece o produto. Ainda assim, a Embraer aposta na retomada da tarifa zero, mencionando negociações semelhantes realizadas recentemente entre os EUA, Reino Unido e Europa. As tratativas são conduzidas tanto pelo governo brasileiro quanto pela própria empresa em diálogo direto com autoridades americanas.
Os Estados Unidos são o principal mercado da Embraer, absorvendo 70% da demanda por jatos executivos e 45% das vendas de aeronaves comerciais. A companhia emprega quase 3 mil pessoas em solo americano, número que chega a 13 mil considerando a cadeia de fornecedores locais. A expectativa é investir US$ 500 milhões (aproximadamente R$ 2,8 bilhões) nas unidades de Dallas, no Texas, e Melbourne, na Flórida, nos próximos cinco anos, além de contratar mais 5.500 funcionários até 2030 — projeções feitas com base em um cenário sem a tarifa de 10%.
Se o governo dos EUA decidir incorporar o avião militar KC-390 à frota, a Embraer estima mais US$ 500 milhões em investimentos para uma nova linha de montagem e a criação de 2.500 novos empregos. A empresa também reforça a relevância do modelo E175, com até 80 assentos, essencial para a aviação regional americana.
“A expectativa é positiva. Estimamos um saldo comercial favorável de US$ 8 bilhões para os americanos até 2030, já que gastamos mais comprando insumos nos EUA do que vendendo para lá”, destacou o executivo.
No segundo trimestre de 2025, a Embraer entregou 61 aeronaves — sendo 19 jatos comerciais, 38 executivos e quatro militares — número superior ao mesmo período de 2024, quando foram 47. A meta para este ano é entregar de 77 a 85 aviões comerciais e de 145 a 155 jatos executivos. A carteira de pedidos atingiu US$ 29,7 bilhões, o maior valor já registrado pela empresa.
Fundada em 1969, a Embraer já produziu mais de 9 mil aviões para mais de 100 países e 60 forças armadas. Atualmente, conta com 23 mil funcionários, sendo 18 mil no Brasil, majoritariamente na sede em São José dos Campos (SP). Há operações também em Sorocaba, Botucatu, Gavião Peixoto, além de escritórios de engenharia em Florianópolis e Belo Horizonte. Fora do país, além dos Estados Unidos, mantém uma fábrica em Portugal.