Resultado da teimosia e soberba: Portuguesa aprisionada na Série D

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Opinião: soberba da SAF e teimosia em Cauan aprisionam Lusa na Série D

Insistência em treinador sem perfil para a missão fragiliza um elenco já problemático (mesmo com scout), joga 2025 fora e coloca em xeque todo trabalho

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Na semana passada, conversava com um amigo sobre a intensa mobilização da torcida da Portuguesa para a decisão contra o Mixto-MT pela segunda fase da Série D. Um dos pontos que chamava nossa atenção era a quantidade de publicações nas redes sociais incentivando, motivando e empurrando a torcida para ir ao estádio do Canindé.

Diferente de outros momentos, o foco não era o elenco. O foco era a arquibancada. Comentei com esse amigo que, entre os fatores possíveis, para mim estava um bastante relevante: a total falta de confiança da torcida no time e na comissão técnica.

Na chegada dos mais de nove mil presentes no Canindé neste sábado (9), momentos antes de a bola rolar, entrevistei (sem exagero) dezenas de torcedores. Em comum, a esperança de que um estádio cheio motivasse, incendiasse, acendesse o elenco.

Isso porque a torcida da Lusa acompanha esse elenco desde o início da Série D do Campeonato Brasileiro, para não dizer desde o início do Paulistão. Foram meses de um futebol insosso e apenas razoável, com repetições de fragilidades à exaustão.

O primeiro tempo dessa partida de volta diante do Mixto-MT não surpreendeu a quem acompanhou a Portuguesa rodada a rodada. Uma equipe que não conseguiu jogar. E não foi pela marcação adversária. Foi pela postura apática e pelos recursos limitados.

O segundo tempo melhorou um pouco, em uma mistura de desespero para fazer o gol com entradas até certo ponto desordenadas de jogadores de frente. O gol de Lohan, fazendo o 1 a 0 que levaria aos pênaltis, veio no bate-rebate da bacia das almas.

O que talvez tenha surpreendido um pouco foi ver o melhor jogador do time e capitão, Cristiano, cobrar o primeiro pênalti na Lua. Ou um dos poucos sólidos desse elenco, o zagueiro Eduardo Biazus, parecer uma criança diante do goleiro e “passar” a ele.

Surpresa também foi ver a Portuguesa dar sorte. Bertinato defender uma cobrança e o Mixto-MT desperdiçar aquela que daria a classificação com tranquilidade. Só que aí veio mais do mesmo: Matheus Nunes, uma das insistências mais injustificadas desse elenco, protagonizou uma batida bizarra. Aí o time de Cuiabá não perdoou: 4×3.

Infelizmente, tudo isso foi apenas a concretização dos temores da torcida. Uma torcida que, sim, tem algumas reações baseadas nos traumas do passado, mas que não é estúpida, ignorante ou incapaz de avaliar jogo jogado, cancha, sangue nos olhos.

A eliminação no primeiro mata-mata condena a Lusa a disputar novamente a Série D em 2026. Usar a vaga que ninguém gostaria de precisar usar, conquistada no Paulistão deste ano. Só que em um cenário muito mais difícil do que o desta temporada.

As causas dessa eliminação são a soberba da gestão da SAF e a aposta, seguida de uma insistência injustificável, no técnico Cauan de Almeida. Comecemos a analisar por este segundo ponto, que foi aquele com mais evidências e indícios de que daria errado.

A SAF confiou o início desse projeto a um profissional jovem, com um currículo promissor, mas que reunia até então pouquíssimas experiências como treinador de um time principal. Já havia sido auxiliar, ou então técnico de categorias de base.

Mas não só isso gerava temor. Cauan de Almeida se notabiliza, desde cedo, por um futebol ofensivo, propositivo, de saída de jogo com bola no pé, de toque. Ou seja, que exige, além de qualidade técnica no elenco, condições específicas para aplicá-lo.

Além do mais, bastavam rápidas conversas com quem acompanha o América-MG, clube em que Cauan mais trabalhou, para descobrir a rigidez nas ideias. A fidelidade inegociável ao que acredita ser o certo. No dicionário da arquibancada, a teimosia.

Já em Belo Horizonte não conseguiu se firmar como técnico no time principal em razão dos empates em profusão e da fragilidade defensiva do time dele. Foi o que a Lusa viveu no Paulistão. Mas, graças ao nível dos adversários, foi suficiente para não cair.

No estadual, destaques ofensivos como Renan Peixoto e Jajá Silva compensaram uma defesa extremamente vulnerável. Mas, quando a Portuguesa perdeu esses destaques, que obviamente não prefeririam uma Série D a uma Série B, tudo se complicou.

O maior exemplo foi a eliminação vergonhosa na primeira fase da Copa do Brasil, no estádio do Pacaembu, para o Botafogo-PB. Vergonhosa não pelo adversário, que teve todos os méritos de passar, mas pelo futebol paupérrimo da Portuguesa.

Naquele momento, em que haveria tempo para remontar o time para a Série D, todas as evidências apontavam para seríssimas dificuldades com aquela comissão. A Lusa, obviamente, atrairia jogadores de menos qualidade técnica e a competição, totalmente diferente de um Paulistão, dificultaria ainda mais aquela “filosofia”.

Soma-se a isso um trabalho de contratação bastante questionável. Se no estadual os acertos já foram exceção, na Série D foram raríssimos. A SAF alardeou aos quatro cantos que trabalharia com análise de dados, o famoso “scout”, como princípio.

Está absolutamente correto. É inserir a Portuguesa no cenário atual do futebol. Profissionalizar. Só que trabalhar com dados por si só não resolve. É preciso saber usá-los. E esse uso precisa levar em conta não só variáveis como contextos.

A sensação é de que a SAF, além de trazer as terceiras, quartas, quintas opções que os dados apontavam, ainda focou exageradamente em números e pouco em perfil. Montou-se um elenco não só limitado tecnicamente, como naturalmente já é em uma Série D.

Montou-se um grupo sem liderança, sem intensidade, sem pegada, sem cobrança interna, sem vibração. Isso, aliado à fragilidade técnica e à “filosofia” da comissão, resultou em um elenco insosso e burocrático. Sem perfil para a Série D.

A soberba da SAF veio em parte daí. A gestão da SAF pareceu acreditar que um trabalho mediano, com jogadores de qualidade questionável até para os padrões baixos de uma Série D, sem reposição minimamente a altura, fosse suficiente para subir.

A primeira fase, com 100% de aproveitamento em casa e liderança do Grupo A6, não convenceu quem acompanhou. Basta uma rápida busca pelas análises dos 14 jogos neste espaço de opinião aqui para perceber que os alertas foram exaustivamente dados. Só serviu para ampliar a soberba. Ter o presidente da SAF, Alex Bourgeois, batendo boca com torcedores nas redes sociais defendendo os números e desdenhando dos alertas.

A Portuguesa passou a primeira fase toda sem resolver a fragilidade defensiva. Melhorou um pouquinho a questão da bola aérea, mas do início ao fim penou com as laterais totalmente vulneráveis e um meio-campo que dependeu unicamente de Tauã.

Na frente, diversas mudanças para não se chegar com convicção a nenhum beirada, para se mexer na posição de Cristiano inúmeras vezes, para se ter um Lohan como referência sem que a bola chegasse. Foram rodadas e mais rodadas com pouquíssimas evoluções.

Entre grosserias e arrogâncias no tratamento a jornalistas, Cauan de Almeida jamais cumpriu o que tanto prometeu nas entrevistas. Não foi capaz de encontrar alternativas, teimou demais nas mesmas soluções e extraiu pouquíssimo do grupo.

Teremos tempo para analisar jogador a jogador. Mas valem alguns exemplos das péssimas escolhas do “scout”: Carlos Eduardo, Alysson Dutra, Matheus Nunes, Igor Torres, Everton Messias, Iago Dias e De Paula. Vários com entradas insistentes.

Carlos Eduardo conseguiu ser a pior das três opções tentadas na lateral direita. Foram encontrá-lo na Lituânia. Ficará para sempre marcado pelo pênalti absurdo cometido na ida da segunda fase. Assim como Alysson Dutra pelo lance bizarro em Minas Gerais.

Gustavo Henrique, Eduardo Biazus e Marcelo Freitas são raros acertos. Matheus Leal oscilou demais, Barba depende muito da formatação do time, Cauari só com muita boa vontade e Lohan tem limitações demais quando não está só para empurrar para o gol.

Dois remanescentes de antes da SAF, Tauã e Cristiano, acabaram sendo diferenciais. Tauã com enorme regularidade e perfil para a competição. Cristiano sumiu na reta final e ficará marcado pelo pênalti na decisão, mas foi o melhor do time quase sempre.

Muito pouco para uma Série D, que exige bem mais do que a soberba da SAF supunha. Essa eliminação compromete muita coisa. Arranha todo um trabalho de reestruturação das categorias de base, criação de um moderno núcleo de saúde e performance, melhora da infraestrutura do CT, ampliação do staff do futebol e profissionalização das áreas.

Gera, internamente, uma crise política em um momento delicado. É ano eleitoral na associação e a oposição à SAF ganha força. Daqui até dezembro serão meses de at…

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