Mulheres denunciam agressões e transfobia de policiais civis em delegacia do DF; delegado fala em tumulto e desacato
Líder comunitária autista e mulher trans dizem que foram insultadas e agredidas em Planaltina. Delegado afirma que elas criaram tumulto, desacataram agentes e nega excessos.
Corregedoria apura denúncias de agressões e transfobia em delegacia
Duas mulheres denunciam terem sido agredidas e insultadas por policiais civis em uma delegacia em Planaltina, no Distrito Federal, no último sábado (23).
As vítimas são a líder comunitária Karine Lins, que é autista, e a vice-presidente da associação de moradores, Danny Silva, que é uma mulher trans e afirma ter sofrido também transfobia (saiba mais abaixo).
Elas dizem que foram à 16ª Delegacia de Polícia como testemunhas em uma ocorrência envolvendo agressão contra uma idosa, mas acabaram sendo hostilizadas e agredidas por agentes.
> “Ele deixou a senhorinha no balcão em atendimento e veio falando: ‘bora, vocês dois… some daqui, não quero ver vocês aqui’. Detalhe: ela [Danny] já tinha se apresentado como mulher”, conta Karine.
Em seguida, segundo Karine, os policiais partiram para cima delas. Ela afirma que foi atingida com socos, chutes e puxões de cabelo, além de sofrer lesões nos braços, nas pernas e na cabeça (veja imagem abaixo).
À TV Globo, o delegado-chefe da 16ª DP, Richard Moreira, contou outra versão.
Ele afirma que as duas mulheres criaram um tumulto na delegacia, se recusaram a deixar o hall de atendimento e agrediram policiais. Segundo ele, os agentes reagiram à situação, mas não cometeram abusos (saiba mais abaixo).
O caso é investigado pela Corregedoria da Polícia Civil
Líder comunitária de Planaltina afirma ter sido garedida por policiais com socos, chutes e puxões de cabelo. — Foto: TV Globo/Reprodução
Danny, que acompanhava a amiga, disse que sofreu ataques transfóbicos. Ela contou que foi levada para uma cela, e obrigada a tirar a roupa e se agachar em uma cela, enquanto era filmada por um dos agentes.
A vítima afirma ainda ter sido chamada de “homem” e ameaçada de morte.
> “Eu falei que não estava entendendo, que tinha que ter uma P.FEM [policial feminina]. Ele disse: ‘cala a boca, porque aqui você é homem […] e vai apanhar como homem”, conta.
O delegado-chefe da 16ª DP diz que as duas mulheres acompanhavam como testemunhas o registro de uma ocorrência de Lei Maria da Penha envolvendo mãe e filho.
Segundo ele, as duas começaram a discutir com o homem acusado. Uma das mulheres teria sido retirada do hall de atendimento após se recusar a sair e entrado em luta corporal com os policiais.
> “Ele ficou arranhado, ela mordeu o policial. Então, realmente nesse momento, ele teve que usar de força para contê-la, precisou da ajuda inclusive de um colega”, disse Richard Moreira.
O chefe da delegacia afirmou ainda que as duas foram autuadas por desacato e resistência – e negou que tenham ocorrido excessos ou discriminação.
> “O fato de uma se identificar como autista e a outra como mulher trans não muda em nada os procedimentos da delegacia. A Polícia Civil prima pelo respeito à diversidade e não compactua com qualquer tipo de discriminação”, declarou.
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