Despejo de tutor de 104 gatos se torna crise de saúde pública em Valinhos: cidade pede ajuda para acolher animais

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Despejo de tutor de 104 gatos vira problema de saúde pública e cidade pede ajuda para acolher animais: ‘Situação desafiadora’

O setor da prefeitura de Valinhos (SP) responsável por abrigar animais alega estar operando em capacidade máxima e busca alternativas para realocar os felinos.

Despejo de tutor de 104 gatos vira problema de saúde pública em Valinhos

O ordem de despejo de uma família que mantém 104 gatos em uma casa alugada em Valinhos (SP) se transformou em um problema de saúde pública e mobiliza a cidade do interior de São Paulo em busca de uma solução para o caso classificado como “situação desafiadora” – veja nota abaixo.

Sem condições de pagar o aluguel da casa onde os animais vivem, o motorista de aplicativo Ricardo Eduardo Machado Ugolini, que afirma querer manter a guarda dos animais, foi acionado judicialmente pelo proprietário e diz que enfrenta dificuldades para alugar outro imóvel devido à ordem de despejo.

Sem alternativa imediata, o destino dos gatos é incerto, e o caso levou o Ministério Público (MP) a cobrar da Prefeitura de Valinhos providências para evitar que os animais acabem nas ruas.

A administração municipal, por meio do Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal (DPBEA), admite não ter estrutura para receber todos os felinos e tenta fechar parcerias com cidades vizinhas e entidades de proteção animal. A superlotação, porém, também é realidade em outros municípios, o que torna o impasse ainda mais complexo.

Ricardo conta que resgata animais há 28 anos e, ao longo desse período, acumulou 104 gatos, mantidos com recursos próprios e ajudas pontuais de vizinhos e passageiros que transporta como motorista de aplicativo. Segundo ele, a vida financeira começou a apresentar problemas após a mãe sofrer dois AVCs hemorrágicos, em 2020 e 2021. Durante quase um ano, ela precisou de medicamentos, segundo ele, não cobertos pelo SUS, além de cama hospitalar, oxigênio, fisioterapia e cuidadores. Para arcar com os gastos, Ricardo alega que vendeu tudo o que possuía, inclusive o carro que utilizava para trabalhar como motorista de aplicativo.

A mãe de Ricardo faleceu junho em 2021, mas a instabilidade com o carro persistiu até julho deste ano, quando Ricardo conseguiu alugar o veículo de uma empresa e voltou a trabalhar sem interrupções. O motorista conta que morava na residência desde junho de 2024, porém os quatro meses que passou sem carro e consequentemente sem renda, resultaram no atraso de cinco meses do aluguel que, segundo ele, custa em torno de R$ 5 mil por mês.

Sem condições de arcar com as contas, em fevereiro deste ano, Ricardo e a esposa foram morar em casas diferentes. Ele passou a dormir em um quarto de fundos alugado apenas para descansar entre os turnos de trabalho, enquanto ela voltou a morar com os pais. A casa principal, porém, continuou servindo de abrigo para os 104 gatos, que seguem sob os cuidados do casal, mesmo eles não residindo mais no imóvel. Essa situação é o ponto central da disputa judicial e da preocupação das autoridades de saúde pública, uma vez que Ricardo não possui outro imóvel para abrigar os gatos e a prefeitura de Valinhos não apresenta estrutura suficiente para abrigar todos os 104 felinos.

O DPBEA informou em nota que já atua em sua capacidade máxima, com 34 cães e 23 gatos acolhidos, e que dispõe de um gatil para apenas dez felinos. O departamento estima que, para manter os 104 animais de Ricardo, seriam necessários pelo menos 15 sacos de ração por mês, além de insumos veterinários, castrações e microchipagem, o que exigiria recursos que o setor não possui. A situação se complica ainda mais porque, segundo o DPBEA, parte dos gatos apresenta doenças como imunodeficiência felina (FIV) e leucemia felina (FeLV), o que exigiria isolamento para evitar a contaminação dos demais animais saudáveis que já estão sob responsabilidade do departamento.

O Ministério Público moveu uma ação, no dia 18 de agosto, contra a Prefeitura para ser encontrado um local de acolhimento, entendendo que o caso ultrapassa a esfera individual e representa risco para toda a comunidade. Em resposta, o município disse que realizou uma reunião no sábado (23), com a Secretária de Segurança Pública e o DPBEA para buscar soluções para a situação, e informou que buscou apoio em cidades vizinhas e organizações de proteção animal, mas todas alegaram falta de espaço e recursos. A Prefeitura também frisou que não possui programas de auxílio financeiro para situações como a de Ricardo, classificado como acumulador de animais. O município reforçou que sua política “é voltada à posse responsável e à prevenção de novos casos semelhantes, enquanto segue levantando custos e alternativas para a realocação dos gatos”.

A Prefeitura de Valinhos informa que tem acompanhado o caso com grande atenção e preocupação, uma vez que envolve não apenas o bem-estar dos animais, mas também aspectos relevantes de saúde pública que impactam toda a comunidade. Ressalta-se, contudo, que – conforme informado ao MP – a Prefeitura não dispõe atualmente de estrutura adequada para acolher, de forma imediata e integral, um número tão expressivo de animais, o que torna necessário o estudo de alternativas viáveis e responsáveis. A Secretaria do Verde e da Agricultura, responsável pelo Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal, está buscando parcerias com outros municípios, organizações e entidades de proteção animal na tentativa de encontrar soluções eficazes para a situação. Importante ressaltar, contudo, que a superlotação destes espaços de acolhimento é uma realidade em toda a região, tornando a situação ainda mais desafiadora. A Prefeitura reafirma seu compromisso permanente em empreender esforços para proteger os animais, preservar a saúde coletiva e promover a segurança da população, sempre pautada pelo respeito à legislação e pela busca de soluções que conciliem cuidado, responsabilidade e sensibilidade diante desta situação.

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