Padres podem se recusar a batizar bebê por causa do nome? Entenda
A família da menina Yaminah conta que o batizado foi um momento muito especial e planejado com antecedência. Todos os membros da família do lado paterno, que já foram batizados nessa igreja, esperavam ansiosamente por esse momento único.
Um vídeo gravado durante um batizado em uma igreja católica na Zona Sul do Rio de Janeiro mostra um padre evitando pronunciar o nome de uma criança durante a celebração. Segundo a família, o religioso se recusou a dizer “Yaminah”, alegando que o nome estaria associado a um culto religioso.
Nas imagens registradas por uma tia, parentes pedem que o sacerdote mencione o nome da menina, mas ele insiste em se referir a ela apenas como “a criança” ou “a filha de vocês”. Marcelle Turan, a mãe, relatou que a situação começou antes da cerimônia, quando o padre falou que não diria o nome da filha por não considerá-lo cristão.
Durante o momento central da cerimônia, onde a tradição pede para dizer “eu te batizo, [nome]”, a família afirma que o nome igualmente não foi mencionado. Os pais, Marcelle e David Fernandes, explicam que a escolha do nome Yaminah foi feita com carinho e significado, buscando algo forte e com importantes valores como justiça, prosperidade e direção.
A família abriu uma ocorrência na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi), alegando preconceito por raça, cor ou religião. A Arquidiocese do Rio de Janeiro comunicou em nota que o batismo foi realizado de forma válida e que nomes não são citados em todos os momentos da celebração, apenas em partes específicas da liturgia. Além disso, a instituição destacou que os padres podem oferecer sugestões pastorais sobre nomes, mas que estas não são de caráter obrigatório.
O Código de Direito Canônico recomenda que pais, padrinhos e o pároco atentem para não impor nomes que não estejam alinhados com os princípios cristãos. Rodrigo Toniol, professor de Ciências Sociais da Religião da UFRJ, esclarece que não é obrigatório ter nome de santo desde a década de 1980, permitindo que qualquer pessoa seja batizada com qualquer nome.
A família reforçou seu posicionamento e a importância do nome escolhido, enquanto a Arquidiocese reiterou seu repúdio a qualquer forma de discriminação, comprometendo-se com o acolhimento, diálogo e respeito à diversidade cultural. A polêmica em torno do batismo da menina Yaminah mostra como questões relacionadas a nomes e crenças podem gerar debates e desafios para as instituições religiosas e a sociedade como um todo.