As defesas dos réus no julgamento da trama golpista não negaram a existência dos fatos relatados pela Procuradoria-Geral da República (PGR), mas adotaram uma estratégia diferente. O objetivo dos advogados foi tentar restringir a participação de cada réu, questionar a suficiência das provas apresentadas e, em alguns casos, pedir a absorção de crimes para reduzir as penas.
Um dos principais argumentos usados pelo clã Bolsonaro no exterior, a ideia de uma suposta “ditadura judicial” e perseguição política nos processos, não foi levado ao Supremo Tribunal Federal pelas defesas dos réus. Isso contraria a narrativa de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, onde tem usado a perseguição para justificar as acusações contra o pai e aliados.
A admissão de reuniões em que se discutiu a reversão do resultado eleitoral foi feita pelas próprias defesas, mas a estratégia foi individualizar condutas. Por exemplo, o advogado Demóstenes Torres, que representa o almirante Almir Garnier, reconheceu a reunião entre Bolsonaro e ministros militares, mas sustentou que seu cliente não manifestou apoio explícito ao golpe.
A disputa entre acusação e defesa ficou clara durante o julgamento. Enquanto os advogados buscam fragmentar os episódios para reduzir a gravidade, a PGR insiste na análise do conjunto. O procurador-geral, Paulo Gonet, destacou a importância de observar os elementos de maneira globalizada, não apenas individualmente.
Outro ponto levantado pela acusação foi a passagem do plano abstrato para a execução. A denúncia menciona o “Copa 22” como evidência de que a tentativa de golpe já estava em andamento, com ações concretas como monitoramento de autoridades, compra de celulares e discussões de financiamento. Para a PGR, isso não se trata de atos preparatórios, mas de execução em curso.
Essa diferença de abordagem, entre olhar o retrato ou o filme inteiro, será decisiva para a interpretação dos ministros. O esforço das defesas foi tanto em restringir a participação dos clientes quanto em questionar as provas apresentadas, demonstrando uma estratégia técnica durante o julgamento da trama golpista. A admissão de reuniões e a tentativa de limitar a responsabilidade de cada réu foram parte do discurso utilizado, visando reduzir as penas e contestar as acusações apresentadas.