Tarifaço de Trump: Governo do Ceará decreta situação de emergência
O novo decreto vai permitir que o estado acesse recursos do orçamento que são reservados para situações de emergência.
Entenda como as tarifas de DE impactam a economia do Brasil
O Governo do Ceará decretou nesta quinta-feira (4) situação de emergência em meio ao tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O Ceará é um dos estados brasileiros mais impactados, o que preocupa setores da economia.
O novo decreto vai permitir que o estado acesse recursos do orçamento que são reservados para situações de emergência. A medida foi publicada no Diário Oficial do Estado.
No dia 7 de agosto, o governo estadual já havia sancionado uma lei que autorizava o Poder Executivo a tomar uma série de medidas em apoio às empresas, entre elas:
1. auxílio financeiro às empresas que exportam para os Estados Unidos;
2. compra de produtos dessas empresas para atender equipamentos do Governo;
3. antecipação de pagamento de créditos;
4. aumento de incentivos fiscais, além da instalação do Comitê Estratégico para acompanhar a aplicação das medidas.
A lei aprovada em agosto já informava que os recursos para custear as medidas seriam advindos de créditos extraordinários – ou seja, que não estavam previstos inicialmente no orçamento.
Com o novo decreto em que reconhece a situação de emergência, o governo estadual altera um artigo da lei aprovada em agosto e indica de onde vai tirar o dinheiro para bancar as medidas.
De acordo com a Secretaria da Casa Civil, o decreto permite ao Governo do Ceará “a utilização de uma rubrica do orçamento prevista como reserva de contingência, específica para situações de emergência. O objetivo é viabilizar a execução das medidas de apoio às empresas atingidas pelo tarifaço dos EUA, garantindo, assim, a manutenção dos empregos dos cearenses”.
Como parte das medidas já em andamento, o governo lançou um edital, por meio da Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA), para a compra dos produtos agrícolas de empresas cearenses afetadas pelas tarifas. As inscrições do edital encerram na sexta-feira (5).
POR QUE A ECONOMIA DO CEARÁ É TÃO INTERLIGADA À DOS EUA?
A resposta está no principal produto de exportação cearense: aço, ferro e semelhantes.
“Basicamente, essa ligação está vindo das exportações da siderurgia. O Ceará exporta para os Estados Unidos produtos semi-acabados, lingotes e outras formas primárias de ferro ou aço. Então, só essa parte é responsável por cerca de 76,5% das exportações do Ceará para os Estados Unidos”, explica o economista e pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), João Mário de França.
No primeiro semestre de 2025, o Ceará exportou mais de US$ 1,1 bilhão de dólares. Desse total, US$ 528 milhões foram de produtos de siderurgia, cerca de 49%. Isto é, o setor foi responsável por quase metade de tudo que o Ceará exportou de janeiro a junho deste ano.
CEARÁ TEM MAIOR DEPENDÊNCIA, MAS NÃO É MAIOR VENDEDOR
O Ceará é, proporcionalmente, o estado brasileiro mais dependente dos Estados Unidos para exportações. Em 2024, 44,9% dos produtos cearenses foram para lá. Em comparação, o segundo lugar, o Espírito Santo, vendeu 28,6% dos seus produtos para os EUA.
O volume de vendas do Espírito Santo em 2024, por exemplo, foi maior que o volume cearense: o estado vendeu US$ 3,1 bilhões, enquanto o Ceará vendeu US$ 659 milhões. Naquele ano, participação dos EUA nas exportações do Espírito Santo foi 28,6%, abaixo dos 44,9% do Ceará.
Apesar da alta proporção de vendas do Ceará para os americanos, em 2024 o estado foi apenas o décimo segundo maior exportador do Brasil para os EUA. Nesse aspecto, o estado que mais vende para os EUA é São Paulo. Em 2024, os paulistas exportaram US$ 13,6 bilhões para lá, o que corresponde a 19% dos produtos paulistas vendidos em 2024.
Em meio ao imbróglio das tarifas, uma alternativa apontada tem sido a diversificação dos mercados compradores de produtos brasileiros. A ideia, embora bem-vinda pela indústria e pelo governo, exige tempo, podendo levar de meses a anos, enquanto o impacto das tarifas já pode ser sentido em semanas.
Mesmo nesse movimento de diversificação de mercados, você exige um tempo, exige novos contatos. Abrir mercados não é uma coisa tão simples. Então, você tem que ter esse contato da empresa local com alguma importadora de outro país, divulgar o seu produto. Então, é possível, mas é um processo que leva tempo. Por isso que, no curto prazo, o que está sendo buscado é essa negociação com o governo americano para que haja alguma redução dessa tarifa, afirmou João Mário de França, economista.