Família pede exumação do corpo de bebê que morreu após ter atendimento negado em
posto de saúde no Paraná
Aylla Eloá, de um ano, morreu após ter febre. Depois do atendimento negado no
posto, família procurou hospital, onde ela chegou a ser atendida, mas não
resistiu. Doenças respiratórias foram apontadas como causa da morte, mas família
nega histórico e sintomas.
Prefeito fala sobre morte de bebê após família ter atendimento negado em UBS do
PR [Imagem do prefeito falando sobre a situação]
Prefeito fala sobre morte de bebê após família ter atendimento negado em UBS do
PR
A família de Aylla Eloá, uma bebê de um ano e dois meses de idade, entrou com um
pedido na Justiça solicitando uma exumação no corpo dela.
A criança faleceu na noite de 4 de julho, uma sexta-feira, após ter atendimento
negado em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) em Jaguariaíva, nos Campos
Gerais do Paraná.
Na época, o prefeito do município, Juca Sloboda (PL), admitiu que houve falhas
no atendimento e disse que iria revisar os procedimentos da Secretaria Municipal
de Saúde. Assista acima.
* Relembre o que a prefeitura disse, na época da morte
Os pais contam que a menina teve febre durante a madrugada, melhorou, e voltou a
apresentar sintomas febris durante a tarde. A mãe conta que foi até uma Unidade
Básica de Saúde (UBS), teve atendimento negado, e depois foi a pé para um
hospital. No caminho, Aylla sofreu convulsões. Horas depois, ela morreu durante
atendimento médico. Relembre detalhes mais abaixo.
✅ Siga o canal do G1 Ponta Grossa e região no WhatsApp
No atestado de óbito, consta que a menina morreu por insuficiência respiratória
aguda, pneumonia comunitária e broncoespasmo grave/crise asmática.
No entanto, a família questiona a causa da morte que foi registrada
oficialmente. A advogada Sylmara Fraga, que representa os pais da menina, afirma
que a criança nunca havia sido diagnosticada ou tido quaisquer sintomas
relativos às doenças.
> “Aylla nunca foi internada, nem tinha qualquer problema de saúde. A família
> tem informações que uma suposta tentativa de intubação teria sido a causa da
> morte, por isso está requerendo a exumação do corpo”, explica a advogada.
1 de 3 Irmã da criança falou sobre a situação nas redes sociais — Foto:
Reprodução/Redes Sociais
Irmã da criança falou sobre a situação nas redes sociais — Foto:
Reprodução/Redes Sociais
Leia também:
* Demissões em massa, suspensão de contratos, férias coletivas: Tarifaço afeta
mais de 3,1 mil trabalhadores de indústrias do Paraná
* Violência doméstica: Mulher é agredida pelo marido, revela que é vítima de
violência há anos e polícia encontra armas na casa do homem, no PR
* Entenda: Mulher morre após telefone do Samu ficar fora do ar e família não
conseguir acionar socorro, no Paraná
PEDIDO DE EXUMAÇÃO
A situação foi investigada pela Polícia Civil. A advogada afirma que primeiro
ela e os pais da criança pediram ao delegado para que ele fizesse a solicitação
do exame. No entanto, como ele não fez, entraram com um processo na Justiça
fazendo o pedido.
A advogada explica que o processo foi aberto no dia 1º de setembro e, no dia
seguinte, o pedido de exumação foi negado. Agora, a defesa vai recorrer da
decisão.
Também no dia 1º de setembro a Polícia Civil oficializou o fim das investigações
e decidiu arquivar o inquérito. No relatório final, o delegado João Batista da
Silva Júnior afirma ser desnecessária a exumação do corpo da bebê, “considerando
que os elementos clínicos e periciais já eram suficientes para a elucidação do
caso”.
Entre os elementos usados pelo policial, estão a informação de que, antes da
intubação, Ayla foi submetida a uma radiografia que apontou uma “consolidação em
ápice de pulmão”, ou seja, uma mancha que aponta que o ar foi substituído por
pus, sangue, ou outros indícios que revelam doença respiratórias.
No relatório, ele também ressalta que a Polícia Científica do Paraná analisou os
prontuários médicos da bebê e concluiu que a morte foi compatível com síndrome
respiratória aguda grave.
> “É importante destacar que o prontuário médico indica que ela nasceu em
> 15/04/2024, prematura, com 34 semanas e 3 dias, pesando 1.850g,
> apresentando-se hipoativa, hiporreativa e hipocorada. Ainda consta que, ao dar
> entrada na unidade neonatal, a criança exibiu quadro de gemência e esforço
> respiratório, entre outras observações clínicas relevantes. […] Os elementos
> colhidos são suficientes para concluir que a morte da vítima decorreu de
> complicações clínicas de natureza respiratórias, restando caracterizada a
> ocorrência de uma fatalidade de origem clínica, sem qualquer indício de
> conduta delituosa imputável a terceiros”, escreveu o delegado.
Márcio Jesus, pai da bebê, procurou o G1 e disse que a família só conseguiria
sair da dúvida com a exumação do corpo.
> “A gente pediu, não foi feita a autópsia dela. A gente pediu a exumação, porém
> foi confirmado que o delegado concluiu que não precisava e deu o caso como
> encerrado. Como que ele vai encerrar o caso se não foi feita a exumação, a
> autópsia da menina pra gente saber realmente porque ela morreu? O porquê eu
> sei: foi negligência”, diz o pai.
2 de 3 Aylla Eloá Ferreira Moreira dos Santos tinha um ano e dois meses — Foto:
Cedida pela família
Aylla Eloá Ferreira Moreira dos Santos tinha um ano e dois meses — Foto: Cedida
pela família
ATENDIMENTO NEGADO
Em relação ao atendimento ter sido negado no posto de saúde, a polícia descobriu
que quem estava na recepção da UBS no momento em que a mãe e a criança foram até
o local era uma agente comunitária de saúde, que estava cobrindo o intervalo da
recepcionista.
“Ela informou que havia sido orientada de que não havia mais fichas e que, no
horário das 16h às 17h, não havia médico na unidade. Relatou, ainda, que, ao
atender a genitora da vítima, limitou-se a informar que não havia mais fichas
disponíveis, orientando-a a procurar o hospital, não tendo sido questionada nem
solicitado que aferisse a temperatura da infante”, escreveu o delegado, no
relatório do inquérito.
De acordo com ele, a coordenação municipal de atenção primária informou que,
pelo procedimento operacional padrão, toda recepção de unidade de saúde deve
realizar o acolhimento de pacientes que chegam sem ter atendimento agendado, mas
que no caso de Ayla “o acolhimento não ocorreu corretamente devido à agente de
saúde não ter passado por treinamento como as outras recepcionistas são
treinadas”.
“No dia do ocorrido havia um recepcionista em férias, uma de atestado médico, e
no horário do ocorrido uma terminou o seu horário de expediente às 16h e se
ausentou da unidade, e a recepcionista que permaneceria até as 21h, saiu para o
seu horário de intervalo às 15h30 e retornaria às 16h30, ficando então na
recepção por meia hora uma agente de saúde. Como ocorre todos os dias, as fichas
para atendimento médico são retiradas pela manhã, na hora em que abre a unidade
de saúde, cada médico que atende tem uma quantidade limitada de atendimentos que
realiza por período, sendo assim no horário em que a mãe procura atendimento
médico para a filha (16h16), já não havia mais a ficha para consulta em demanda
espontânea. Se o caso da criança se enquadrasse em uma emergência, poderia ser
agendado para a consulta com o médico”, disse a coordenação.
O delegado lembrou que a criança chegou apenas com febre na unidade de saúde e
sofreu as convulsões depois de sair dela, e disse que “não vislumbra conduta
criminosa por parte da agente comunitária de saúde”.
> “Ela não possuía formação para ocupar o posto de recepcionista (conforme
> informação da enfermeira coordenadora da APS) e tampouco recusou
> deliberadamente atendimento a pessoa em risco iminente de vida, considerando
> que, naquele momento, a genitora apenas relatara quadro febril da infante”,
> escreveu o policial.
3 de 3 Aylla Eloá Ferreira Moreira dos Santos tinha um ano e dois meses — Foto:
Cedida pela família
Aylla Eloá Ferreira Moreira dos Santos tinha um ano e dois meses — Foto: Cedida
pela família
O QUE A FAMÍLIA ALEGA
A irmã da bebê Quézia Vitória, relata que a família procurou a UBS quando a bebê
estava com um quadro de febre.
Segundo Quézia, além de terem o atendimento negado, os familiares não receberam
orientações nem outro tipo de suporte, como medição de febre, triagem ou
encaminhamento de uma ambulância, por exemplo.
> “Disseram que lá não podia ser feito nada.”
A família, então, a levou para o hospital municipal, e no caminho a criança
sofreu convulsões. Horas depois, ela morreu durante atendimento médico.
A MORTE, SEGUNDO A FAMÍLIA
Ao G1, a irmã de Aylla disse que no dia em que
faleceu, a criança acordou bem, passou a manhã brincando e após o almoço teve
febre. Segundo ela, por volta das 16h, Aylla foi levada à UBS. Depois de ter o
atendimento negado, foi para o hospital, onde chegou às 16h46.
> “O hospital acionou o Samu às 19h39. O Samu chegou às 22h, e nesse tempo ela
> continuava convulsiva. Tentaram intubar, pois o Samu só leva se estiver
> intubada. A saturação dela estava entre 96%, 98%, e em alguns momentos 100%.
> Teve parada cardíaca, e o óbito foi às 23h18”, afirmou.
Quézia fez uma publicação nas redes sociais lamentando sobre o caso e
criticando, também, o atendimento hospitalar, serviço mantido pelo município.
Ela alega que, depois de dar entrada na instituição, a bebê ficou sete horas na
instituição para um caso que, na avaliação dela, necessitava de transferência.
> “Essa era a minha irmã, Aylla. Ela tinha 1 ano e 2 meses. Era saudável, cheia
> de vida, sorridente… uma bebê linda, agitada, feliz […] Ela precisava de
> atendimento de um profissional que se importasse em salvar vidas, ela
> precisava de cuidado. Eu não consigo explicar essa dor.”
VÍDEOS MAIS ASSISTIDOS DO G1 PR:
50 vídeos
Leia mais notícias da região em G1 Campos Gerais e Sul