Opinião: novo técnico começará a decifrar incógnitas da Portuguesa para 2026
Entre tantas dúvidas no caminho da Lusa, como formato do Paulistão, regulamento
da Série D e nova casa, treinador deve ter a primeira resposta. Alex Bourgeois apresenta as metas da Portuguesa para 2026.
Um mês após a eliminação na segunda fase da Série D do Campeonato Brasileiro, a
torcida da Portuguesa ainda pena para virar a página da campanha frustrante,
tendo de assistir aos acessos de Barra-SC, Inter de Limeira-SP, Maranhão-MA e
Santa Cruz-PE.
Ao tentar olhar para frente, encontra dificuldades para enxergar algo além dos
quatro longos meses. Quando consegue, em vez de soluções, visualiza uma série de
incógnitas. Algumas delas, bem importantes, para piorar, fogem ao controle da
própria Lusa.
Não se sabe, por exemplo, como serão os dois campeonatos que a Portuguesa
disputará. A CBF já avisou que pretende enxugar as datas dos estaduais e, com
isso, o tamanho e o formato de disputa do Campeonato Paulista entra em um mar de
dúvidas.
A Federação Paulista de Futebol conseguirá adequar o calendário de modo a manter
o Paulistão atrativo e, por consequência, rentável financeiramente? Será melhor
ou pior para clubes como a Lusa, que via estadual busca vaga na Série D e na
Copa do Brasil?
Cenário nebuloso também enfrenta a Série D. O presidente da CBF, Samir Xaud, já
admitiu a possibilidade de atender ao pedido de alguns clubes e federações para
ampliar a competição de 64 para 96 clubes participantes. Mas qual seria o
formato de disputa?
Seria mantido o mata-mata após a fase de grupos? Ou o apelo de alguns clubes,
entre eles a Portuguesa, de reformular as fases seguintes, eliminando o
mata-mata, adotando grupos e quadrangulares, seria contemplado? Só o tempo
responderá essas questões.
Como a Portuguesa vai manter o torcedor engajado depois da eliminação na Série
D? Entre a série de incógnitas no caminho rubro-verde, porém, há algumas
fundamentais que dependem da própria Lusa. Uma delas, por exemplo, é a definição
por parte da SAF de onde jogar durante as obras do Canindé, previstas para
começarem em janeiro.
Algo que impacta não só a vida da torcida, que pode ser mais ou menos
prejudicada, mas os próprios desafios da Portuguesa. A temporada 2025 mostrou o
quanto o fator casa é determinante, seja para o Paulistão, seja (principalmente)
para a Série D.
Ainda assim é um tópico que não depende 100% da SAF, afinal, há disponibilidade
de locais, agendas, custos (que acabou sendo um entrave para o Pacaembu, com o
qual a Lusa promete ainda voltar a negociar), condições estruturais, entre
outros fatores.
Quem lê certamente perguntará: então o quê depende exclusivamente da própria
Lusa? O necessário aprendizado com os erros de 2025, a correção de algumas rotas
no trabalho para 2026, a definição da nova comissão técnica e a montagem do
elenco.
A soberba ao considerar a Série D mais fácil do que realmente é, a teimosia em
insistir em uma comissão técnica nada talhada para a missão e um processo de
contratações que levou pouquíssimo em conta perfil e postura culminaram na
grande decepção do ano.
É preciso que o discurso público, de admissão das falhas e promessa de novas
condutas, converta-se em prática. O primeiro indício dos rumos do futebol
lusitano para 2026 certamente virão quando for contratada e anunciada a nova
comissão técnica.
Afinal, a partir daí se terá uma ideia da experiência em competições como a
Série D, o perfil comportamental na relação com elenco e torcida, a filosofia de
trabalho, as características de jogo e que tipo de atleta combina com a
liderança escolhida.
É natural que se deseje uma definição rápida para aproveitar o longo tempo até
2026 como preparação. Só que contratar um treinador neste momento implica em nem
tentar algum nome que vem trabalhando nas séries B e C – para nem citar a atual
Série D.
Nem tão jovem a ponto de não saber lidar com o desafio, nem tão experiente que
lide como apenas mais um trabalho no longo currículo. Nem tão sonhador, nem tão
conformado com pouco. E o mais complicado: que possa fazer Paulistão e Série D.
Não é tarefa simples. Mas ninguém obrigou a SAF a assumir a Portuguesa. Que,
pelo menos, a direção olhe para as gestões, as folhas salariais e os
profissionais dos clubes que subiram neste ano e deixe de lado a arrogância de
saber mais ou inventar a roda.
Só a partir da escolha da comissão técnica é que se conseguirá, com segurança,
pensar em elenco. O cenário não é tão diferente em relação ao momento das
contratações. As próximas semanas ainda serão, sem dúvidas, de despedidas.
Chegadas só mais adiante.
Não à toa, as primeiras ações foram nove empréstimos: Bertinato (Mirassol),
Cristiano (Londrina), Eduardo Biazus (CSA), Gustavo Henrique (Caxias), Hericlis
(América-PE), Igor Torres (Caxias), Leandro (Oeste), Rafael Pascoal (São Bento)
e Tauã (Caxias).
Além disso, aproveitando a última janela de transferências, dois desligamentos:
o lateral esquerdo Matheus Leal saiu para reforçar o Londrina na reta final da
Série C e o lateral direito Talles teve parte dos direitos negociada com a
Chapecoense, que está na Série B.
É bom lembrar que, no Paulistão, a maioria dos atletas, mesmo dos clubes com
folha salarial mais modesta, joga as séries B e C nacionais. Não há como
adiantar muito o processo de contratação, a não ser casos pontuais de destaque
em disputas menores.
O que não se pode é deixar tudo isso, técnico e elenco, para a boca de 2026.
Também não se pode cair na tentação do discurso fácil de que só o técnico Cauan
de Almeida foi o problema. Como se a Portuguesa tivesse um elenco irretocável
para as competições.
Alysson Dutra, Barba, Carlos Eduardo, Everton Messias, Iago Dias, Igor Torres e
Matheus Nunes são algumas das péssimas contratações da SAF. Jogadores que em
momento algum mostraram a que vieram. Isso quando não comprometeram mesmo.
Cauari, Guilherme Portuga, Hericlis e Lohan entram naquele grupo dos que
oscilaram. Tiveram bons momentos, mas longe de uma solidez. Em parte, claro,
pelas escolhas do treinador. Em parte, é bom reconhecer, pela limitação técnica
– mesmo em uma D.
De Paula ficou mais no departamento médico do que em campo, mas quando jogou foi
uma decepção. Denis ainda é jovem e, como tal, apresentou bastante
instabilidade. Não dá para cravar o quanto o perfil dele se encaixa nos desafios
atuais da Portuguesa.
As raras boas atuações, ou pelo menos mais sólidas, vieram de nomes como
Bertinato, Cristiano, Eduardo Biazus, Gustavo, Henrique, Marcelo Freitas e Tauã.
Claro que Biazus e Cristiano ficaram marcados pelas ridículas cobranças de
pênalti.
Por fim, houve ainda uma boa surpresa: Gustavo Sciência. Jovem, mas com
segurança. Merece mais tempo e oportunidade. E vale uma menção honrosa a Robson,
talvez o único líder de fato do elenco, tendo de liderar até enfrentando nova
lesão de joelho.
Como se vê, não foram tantos os acertos. Muito pelo contrário. Um desequilíbrio
considerável entre time titular e banco de reservas. Poucos nomes convincentes
do meio para a frente. E, para piorar, uma escassez generalizada de liderança e
energia.
Não quer dizer que outros clubes, até alguns que subiram, tivessem elencos muito
melhores. Ou menos limitações. Pode até ser que com esse nível técnico desse. Só
que é muito no limite para a maior folha salarial da competição e um grupo que
piorou nas mãos de um treinador de esquema tático único e de uma postura
insossa, burocrática.
Diante da disparidade técnica, financeira e de visibilidade entre o Paulistão e
a Série D, mais uma vez a Portuguesa precisará ter no elenco que iniciará 2026
aquele grupo de atletas que só ficará para o estadual e aquele com potencial de
seguir para o nacional.
Não é simples fazer esse equilíbrio. Só que, agora, um ano a frente da Lusa, a
SAF não terá a desculpa de que precisou correr, começar tudo do zero, entender
em que terreno pisava, etc. É preciso aliar o profissionalismo com a noção da
realidade.
Até porque nem tudo foi tragédia no trabalho da SAF. Quem acompanha a rotina da
Portuguesa sabe de tudo que vem sendo feito fora de campo. Um quadro três ou
quatro vezes maior, as obrigações em dia, as melhorias no CT, o núcleo de saúde,
a estrutura nunca antes dada ao elenco profissional, o trabalho de análise de
dados, etc.
Não se pode, como é tão comum no futebol, querer destruir tudo em função de um
resultado negativo. Muito menos em uma SAF, que se vende como profissional. Só
que, feliz ou infelizmente, nesse esporte, o sucesso em campo dita o ritmo de
todo o resto.
Serão quatro longos meses. Tempo em que a torcida ainda vai remoer 2025, mas vai
aos poucos começar a olhar para 2026. Todos gostaríamos de ter menos tempo e
mais certezas. Infelizmente, não dá. Resta esperar, fiscalizar, cobrar e torcer
para que realmente haja correções. Para que, nesta altura do próximo ano, o
panorama seja inverso.
Luiz Nascimento, 33, é jornalista da rádio CBN, documentarista do Acervo da
Bola e escreve sobre a Portuguesa há 15 anos, sendo a maior parte deles no ge.
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