Se a seleção boliviana hoje manda seus jogos em El Alto, cidade cujo estádio está a cerca de 4.100m de altitude, um brasileiro tem participação nisso. Antônio Carlos Zago era o técnico da seleção boliviana quando a Federação local tomou a decisão de tirar as partidas pelas Eliminatórias da Copa do estádio Hernando Siles, em La Paz, e colocar no Municipal de El Alto. A diferença? Um salto de 3.600 m para os cerca de 4.100m. É para lá que Carlo Ancelotti e a seleção brasileira vão nesta terça-feira. O italiano até escapou da altitude porque enfrentou o Equador em Guayaquil, e não em Quito. Mas agora não tem jeito. Zago foi técnico da seleção boliviana entre outubro de 2023 e julho de 2024 e sabe bem os bastidores da troca. A razão é até simples. ‘Levaram para El Alto porque é mais alto. Não tem jeito. E quando o presidente veio conversar comigo, eu aceitei de pronto’, contou Zago ao UOL. Ser mais alto significa ampliar os efeitos da altitude. Quem joga em La Paz sente a diferença de 500m. Quem joga no nível do mar, como é o caso dos brasileiros, tem desafio multiplicado. Curiosamente, Antônio Carlos não conseguiu comandar a seleção em El Alto. Ele teve um jogo como mandante, mas ainda em La Paz. Venceu o Peru por 2 a 0. Só que o calendário das Eliminatórias teve uma pausa para amistosos e Copa América. O brasileiro não resistiu à má campanha nos torneios dos Estados Unidos e foi demitido. Atualmente, Óscar Villegas comanda a seleção local, que chega à última rodada brigando com a Venezuela pela vaga na repescagem. A seleção boliviana está invicta em El Alto nessas Eliminatórias. Em cinco jogos, ganhou três (Venezuela, Colômbia e Chile) e empatou dois (Uruguai e Paraguai). A Bolívia tem todo o direito de jogar em La Paz ou em El Alto. Eles estão acostumados e vão tirar proveito também. Talvez no futuro a Bolívia consiga exportar jogadores e os jogos sejam em Santa Cruz de la Sierra. Eles têm que tirar proveito de alguma coisa Antonio Carlos Zago. Até os bolivianos sentem. Zago conhece o futebol boliviano porque, além da seleção, passou por Bolívar (2021-2022) e The Strongest (2025) — ambos de La Paz. O estádio de El Alto é do Always Ready e gera um ambiente diferente. ‘Os jogadores do Bolívar e do The Strongest, quando iam jogar contra o Always Ready, sentiam a diferença. Para você ver o quanto é difícil jogar em El Alto’, diz ele, emendando: ‘O acesso ao estádio é muito difícil, é impressionante o que tem de carro, de tráfego. Para chegar lá é uma odisseia’. Quando estava na Bolívia, o jeito preferido de fazer o trajeto até lá era por meio do teleférico que liga as duas cidades. Para se adaptar, alguns artifícios que já não são mais segredo. Chá de coca e um comprimido que tem lá para altura. Tem na farmácia lá. É direto. Chá de manhã, de tarde, de noite, uns quatro, cinco por dia. Não tem jeito. Ajuda a não ter tanta dor de cabeça. Passou a fazer parte da dieta. Mas pensando na seleção brasileira, dá para fazer alguma coisa para esse jogo? ‘Alguns clubes, quando vão jogar na altura, logo depois do sorteio da Libertadores começam uma preparação. Pode ajudar 1%,1,1%. Mas não ajuda, é muito difícil. Na altitude, precisa de três semanas, um mês para se adaptar. E não será 100%. Não dá para fazer treinamento, correr na esteira com ar rarefeito. Não tem jeito. Só se tiver qualidade técnica muito superior mesmo, aí sai com vitória de lá’, completou Antônio Carlos.