Bolívia vai além da altitude e se apega à memória de 93 pelo sonho da Copa em reencontro com Brasil
Os bolivianos impuseram a primeira derrota da Seleção nas eliminatórias com 2 a 0 comandados por El Diablo Etcheverry há 32 anos. A disputa atual é com a Venezuela por uma vaga na repescagem. O jogo da vida! É desta maneira que os bolivianos encaram o duelo com o Brasil nesta terça-feira, pela última rodada das eliminatórias. Se a Seleção teme a falta de ar nos 4.100m de altitude de El Alto, a Bolívia espera um estádio com cerca de 20 mil torcedores com pulmão em dia para empurrar a equipe nacional em uma viagem ao passado e repetir o feito histórico de 1993.
Já se passaram 32 anos desde que a geração comandada por El Diablo Etcheverry impôs a primeira derrota do Brasil na história das eliminatórias. Mais do que isso, levou a Bolívia a uma Copa do Mundo pela terceira vez na história – e a última desde então. O 2 a 0 de 25 de julho de 1993 é inspiração para uma Seleção que amargou décadas como a pior do continente e vive o sonho de se classificar para a repescagem. A vitória nos 3.600 metros de altitude do Hernando Siles, em La Paz, foi conquistada com um roteiro dramático. A Bolívia já tinha perdido um pênalti e pressionava quando Etcheverry cruzou despretensiosamente da esquerda e contou com a falha de Taffarel para fazer 1 a 0 já aos 43 do segundo tempo. No lance seguinte, Álvaro Peña fez o segundo e se eternizou para o futebol boliviano.
José Miguel Arevalo é outro que ficou marcado por aquela vitória. Ainda criança, o hoje jornalista da Rádio Monumental de La Paz, dá a dimensão daquele resultado para toda uma geração de bolivianos. Não é exagero dizer que o impacto do 2 a 0 foi tão grande ou maior do que a própria presença na Copa dos Estados Unidos, quando a Bolívia caiu na fase inicial. Desde então, no entanto, a Bolívia vive em queda livre no cenário futebolístico. Aquela mesma geração ainda levou o país ao vice-campeonato da Copa América de 1997, em casa, diante do Brasil de Zagallo, mas as participações em eliminatórias são melancólicas.
Com o aumento de vagas, o sonho de disputar a quarta Copa do Mundo da história (esteve em 1930, 1950 e 1994) ganhou sobrevida. As seis vagas diretas para 2026, no entanto, já estão preenchidas, e a Bolívia disputa com a Venezuela um lugar na repescagem. A definição encontra eco em outro ícone da geração de 1993/94: Carlos Borja. O ex-meio-campista não esconde a frustração com a não continuidade do legado deixado juntamente com seus companheiros. Para ele, a seleção reflete a falta de organização que impacta também nos clubes bolivianos. Maior artilheiro da história da Bolívia, com 31 gols, Marcelo Moreno chegou a participar das primeiras rodadas das eliminatórias, mas se aposentou em 2024 e se vê no papel de torcedor. O ídolo do Cruzeiro estará em El Alto para ajudar seus contemporâneos a realizar o sonho de uma geração, apesar de reconhecer a dificuldade da missão.
Nos 4.100m de El Alto, a Bolívia encara o Brasil nesta terça-feira, às 20h30 (de Brasília), pelo sonho da repescagem. A sétima colocada nas eliminatórias, com 17 pontos, a seleção boliviana precisa vencer e torcer por um tropeço da Venezuela, em casa, diante da Colômbia, para seguir viva na luta por um lugar no Mundial.