O elo de Charlie Kirk com bolsonarismo: ‘julgamento de Bolsonaro é chocante e
horrível’, disse ativista morto nos EUA
Charlie Kirk promoveu evento e entrevista com Jair Bolsonaro nos EUA e fez apelo
a Trump por medidas contra o Brasil.
Bolsonaro participou de evento com Charlie Kirk em fevereiro de 2023. —
Foto: Getty Images via DE
A morte do ativista conservador americano Charlie Kirk
DE,
em um atentado com arma de fogo na quarta-feira (10/9) durante evento em uma
universidade nos Estados Unidos
DE repercutiu entre políticos
conservadores brasileiros — que manifestaram tristeza e pesar.
> “Estou chocado. Apenas 31 anos… Charlie Kirk, jovem de bom coração, criativo e
> empreendedor, que dedicou sua vida a mobilizar a juventude conservadora nos
> EUA, nos deixou de forma trágica”, escreveu o deputado federal Eduardo
> Bolsonaro.
*SANDRA COHEN:* Trump culpa esquerda radical pelo assassinato de Charlie Kirk e
fomenta temores de acirramento da violência política nos EUA
“Tive a honra de acompanhá-lo em seu trabalho e sei da grandeza de sua missão.
Mais um conservador vítima do ódio e da intolerância.”
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas
DE disse no X que recebeu “com profunda tristeza a notícia da morte de Charlie
Kirk, vítima de um atentado covarde, fruto da intolerância contra valores como o
amor a Deus, à família e à liberdade”.
Kirk, de 31 anos, era conhecido por conduzir debates ao ar livre em
universidades dos EUA. Ele liderava o grupo de estudantes conservadores Turning
Point USA e tinha um podcast, além de milhões de seguidores nas redes sociais.
Kirk morreu após ser vítima de um disparo em um desses debates, que estava sendo
realizado na Universidade Utah Valley (UVU), em Orem, no Estado de Utah.
Charlie Kirk era aliado do presidente americano, Donald Trump, e uma das figuras
conservadores americanas mais proeminentes em seu apoio a Jair Bolsonaro
DE nos EUA.
VÍDEO mostra momento em que Charlie Kirk é baleado durante evento em
universidade nos EUA DE
Kirk promoveu um evento e uma entrevista com Bolsonaro no período em que o
ex-presidente brasileiro esteve em Miami, nos EUA, após deixar a Presidência.
Em março deste ano, Kirk fez um apelo em seu programa de rádio para que o
governo de Donald Trump impusesse sanções e tarifas contra o Brasil em
retaliação pela forma como o Judiciário brasileiro estaria tratando Bolsonaro,
no julgamento da ação da trama golpista no Supremo Tribunal Federal.
Kirk disse que o julgamento de Bolsonaro era um evento “chocante e horrível”.
Em julho, o governo americano anunciou sanções contra o ministro Alexandre de
Moraes e tarifas contra produtos brasileiros.
Jair Bolsonaro DE teve
contato com Charlie Kirk nos meses em que ficou nos EUA após o final de seu
mandato, na virada de 2022 para 2023. Dias antes de deixar o cargo, quando ainda
era presidente, Bolsonaro viajou para a Flórida, onde permaneceu por três meses.
Nesse período, houve a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também os
protestos de 8 de janeiro, em que manifestantes bolsonaristas invadiram e
depredaram prédios em Brasília.
No começo de fevereiro, um mês após a posse de Lula, Bolsonaro fez um discurso
em um evento chamado “Power to the People” (“Poder ao Povo”, em tradução livre)
da organização conservadora Turning Point USA, fundada por Kirk.
Bolsonaro fala na palestra sobre sua trajetória política e defende ideais
conservadores e realizações de seu governo. Ao final do discurso, Kirk faz
perguntas a Bolsonaro sobre os perigos de o Brasil virar “uma Venezuela” e os
riscos do Brasil em um governo Lula.
No dia seguinte à palestra, Kirk publicou uma entrevista com Bolsonaro em seu
podcast.
Kirk introduz Jair Bolsonaro DE em seu site: “Desde o
auge da acirrada — e altamente contestada — eleição presidencial brasileira,
Jair Bolsonaro DE vive em
exílio autoimposto na Flórida. Agora, ele se junta a Charlie para sua primeira
entrevista longa desde que chegou aos EUA”.
“Charlie e Bolsonaro discutem a importância crucial do direito ao porte de
armas, os esforços do novo governo para incriminar Bolsonaro por um golpe e o
estado tirânico do judiciário desonesto do Brasil”, diz o site.
Um dos primeiros assuntos abordados por ambos é a importância do direito ao
porte de armas — uma bandeira de conservadores tanto no Brasil como nos EUA.
A violência com armas de fogo era também o assunto que Kirk estava abordando na
palestra que concedia nesta quarta-feira em Utah, nos EUA, quando foi vítima de
um disparo e morreu.
Um vídeo do atentado na Universidade de Utah Valley mostra uma pessoa na plateia
perguntando para Kirk: “Você sabe quantos atiradores em massa existiram nos EUA
nos últimos 10 anos?”
Kirk pergunta à pessoa: “Contando ou não a violência de gangues?” Em seguida, um
tiro é ouvido e Kirk cai.
Na entrevista de Bolsonaro a Kirk em 2023, eles discutem a importância do porte
de armas.
“Você mencionou direito de posse de armas. Foi uma das primeiras coisas que Lula
mexeu depois que ele assumiu. Ter posse de uma arma de fogo é um direito
constitucional no Brasil?”, pergunta Kirk a Bolsonaro.
Bolsonaro responde que as leis brasileiras são muito restritivas sobre armas,
mas que ele regulamentou “essa legislação com decretos de modo que foi permitido
a arma de fogo que era praticamente impossível de se comprar até a minha chegada
ao poder”.
“Toda ditadura é precedida de uma campanha de desarmamento. Assim diz a
história”, diz Bolsonaro.
Kirk então diz: “Se você estivesse querendo fazer algo errado, você não ia
querer que as pessoas tivessem mais armas”.
Bolsonaro afirma então que “um povo armado jamais será escravizado”. Kirk
responde que “isso é muito profundo e totalmente verdade”.
Na entrevista, Bolsonaro e Kirk discutem também os protestos de 8 de janeiro de
2023.
“Você estava na Flórida quando esses protestos aconteceram”, diz Kirk. “E ainda
assim algumas pessoas estão tentando culpá-lo. Você não teve nada a ver com
esses protestos. Por que as pessoas estão tentando culpá-lo e qual é a história
por trás disso?”
Bolsonaro diz que “o Brasil não tinha direita” e que ele conseguiu “juntar esse
povo todo e falar dos valores e da importância deles para o futuro do Brasil”.
“A esquerda me culpa basicamente desse ato do dia 8 que todos nós não
concordamos, com invasões e depredações, tentando deixar então a esquerda
sozinha sem oposição no Brasil.”
Kirk e Bolsonaro fazem paralelos entre os sistemas judiciários dos EUA e do
Brasil, com críticas a ambos. Na época, os EUA eram governados pelo presidente
democrata Joe Biden, a quem Kirk fazia oposição.
“Me parece que o Brasil está enfrentando uma crise grave, enquanto nos EUA
também temos algo parecido. Pode um único juiz tirar os seus direitos?”,
pergunta Kirk a Bolsonaro.
O ex-presidente responde que “isso vem acontecendo infelizmente”, e cita as
“milhares de pessoas que foram presas” e com contas de mídias sociais removidas.
Ao final da entrevista, Bolsonaro confirma que vai voltar ao Brasil “nas
próximas semanas” (o que acabou acontecendo no dia 30 de março daquele ano),
fazer uma “oposição responsável contra o atual governo” e que “tem que continuar
na política” por causa de uma “ausência de liderança de direita no Brasil”.
Em março deste ano, Charlie Kirk falou sobre o julgamento de Bolsonaro em seu
programa de rádio The Charlie Kirk Show.
O conservador foi uma das vozes que pediu sanções do governo de Donald Trump
contra o Brasil.
Kirk afirma que as sanções são necessárias diante do tratamento que o Judiciário
brasileiro está dando a Bolsonaro.
Kirk diz que o Judiciário no Brasil começou a praticar contra o ex-presidente o
chamado “lawfare” (um termo em inglês que significa o uso de instrumentos legais
para se atacar politicamente uma pessoa) com o julgamento no STF.
“No Brasil, existe um evento chocante e horrível acontecendo. Lembrem-se que em
2022, Bolsonaro perdeu [a eleição] por uma margem muito pequena. Lembrem-se que
ele ganhou em todas as partes do país, exceto nas partes mais pobres, mais
cheias de crime e mais corruptas do país, o Nordeste, onde o candidato da
esquerda, Lula da Silva, venceu”, afirma Kirk.
“Isso acontece em um país como o Brasil, que supostamente chamamos de aliado. Se
a Rússia fizesse isso, nós a sancionaríamos. Se o Brasil faz isso, por que
estamos tolerando?”, diz Kirk.
“E a resposta é: não deveríamos. O Departamento de Estado dos EUA, Marco Rubio e
o presidente Trump deveriam impor tarifas e, se necessário, sanções ao Brasil
por esse tipo de comportamento imprudente e imoral.”
Em julho, o governo Trump anunciou um tarifaço contra produtos brasileiros e
também sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, relator do julgamento de
Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal.
Kirk critica o julgamento no STF e diz que “agora um homem bom e um
ex-presidente eleito do Brasil, Bolsonaro, tem que provar sua inocência e está
destinado a morrer na prisão”.