Operação apreende esculturas e quadros de Portinari e Di Cavalcanti em SP

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Veja esculturas eróticas e quadros que podem pertencer a Portinari e Di Cavalcanti apreendidos em operação em SP

Especialistas ouvidos pelo DE indicaram que parte das pinturas pode pertencer a consagrados artistas como Cândido Portinari, Emiliano Di Cavalcanti e Tomie Ohtake. A Operação Cambota, da Polícia Federal (PF), apreendeu nesta sexta-feira (12), em São Paulo, vários quadros, esculturas e obras de artes em posse de alvos da chamada “máfia do INSS”, que nos últimos anos movimentou mais de R$ 6,3 bilhões em descontos ilegais de aposentados. Peritos em obras de arte e especialistas em museologia consultados pelo DE avaliaram fotos das apreensões e indicaram que parte das pinturas pode pertencer a consagrados artistas nacionais e internacionais.

Se confirmada a autenticidade dessas obras, o acervo recolhido pela PF pode incluir dois quadros de Cândido Portinari, um dos principais nomes da arte brasileira e expoente do modernismo. Com forte engajamento político, ele é conhecido explorar temas como trabalho, pobreza e desigualdade social. Segundo especialistas, obras de Portinari podem ser avaliadas entre R$ 3 milhões e R$ 5 milhões, dependendo do tamanho, da técnica empregada e da fase da produção, algumas delas alcançam maior valorização no mercado do que outras.

A análise preliminar também indica a possível presença de pelo menos seis quadros de Emiliano Di Cavalcanti, outro ícone do modernismo que participou ativamente da Semana de Arte Moderna de 1922. Obras do artista costumam atingir valores entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões. Outros trabalhos apreendidos podem ser atribuídos, caso a perícia confirme, a Tomie Ohtake, Orlando Teruz e Dario Mecatti, além de esculturas do artista Flory Gama. Segundo os especialistas, a autenticidade das obras só pode ser atestada por um perito ou curador de arte. Mas os investigadores da PF acreditam que os integrantes do esquema usavam parte do dinheiro desviado do INSS para aplicar em obras de arte.

O acervo também inclui estátuas de bronze, entre elas uma reprodução de “O Pensador”, de Auguste Rodin. Há ainda peças de caráter sensual e erótico, assinadas pelo escultor austríaco Bruno Zach. Entre as imagens colecionadas pelo alvo da PF, há algumas imagens de leões e tigre, entre elas uma assinada por Thomas Cartier, escultor francês especializado em esculpir animais. Na avaliação dos especialistas, as estátuas de maior porte podem valer entre R$ 3 mil e R$ 8 mil.

O processo de autenticação é minucioso e envolve diferentes etapas, que permitem determinar não apenas a autoria, mas também o período em que a obra foi criada e os materiais empregados. Entre as principais análises estão: Análise organoléptica: avaliação feita visualmente com diversos tipos de luzes, como UV, rasante, direta; Microscopia da pincelada: análise do verso da obra para identificar o suporte (tecido, papel, madeira, etc) e da identificação do chassis; Análise de pigmentos: revela a composição química dos materiais usando técnicas como fluorescência de raios-x e espectroscopia Raman.

As apreensões foram feitas em endereços ligados ao advogado Nelson Wilians e ao empresário Maurício Camisotti, que foi preso na ação. Wilians é acusado de ter ligação com Camisotti e com a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec) — uma das principais entidades investigadas ao esquema de fraudes no INSS. Camisotti, que foi preso em São Paulo, é apontado como sócio oculto de uma entidade e beneficiário das fraudes na Previdência. A defesa do empresário disse não haver “qualquer motivo que justifique sua prisão no âmbito da operação relacionada à investigação de fraudes no INSS”. A defesa do advogado Nelson Wilians esclareceu que ele “tem colaborado integralmente com as autoridades e confia que a apuração demonstrará sua total inocência”.

Segundo a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU), as entidades investigadas ofereciam pagamento de propina a servidores do INSS para obter dados de beneficiários; usavam assinaturas falsas para autorizar descontos; criavam associações de fachada, muitas vezes presididas por idosos, pessoas de baixa renda ou aposentados por incapacidade. A investigação começou em 2023 na CGU, no âmbito administrativo. Em 2024, após a CGU encontrar indícios de crimes, a Polícia Federal foi acionada.

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