Pianista brasileiro Tenório Jr. identificado após 50 anos na ditadura argentina

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De: Tenório Jr.: quem foi o pianista, parceiro de Vinicius de Moraes, sumido na ditadura argentina e identificado morto 50 anos depois

O músico foi um importante nome da bossa nova e do samba-jazz. O corpo de Tenório foi identificado na Argentina quase cinco décadas após seu desaparecimento, que ocorreu às vésperas do golpe militar no país vizinho.

A Argentina identifica os restos do pianista brasileiro Tenório Jr. O corpo do pianista brasileiro Francisco Tenório Cerqueira Júnior foi identificado oficialmente neste sábado (13), após 49 anos de seu desaparecimento em Buenos Aires. A confirmação veio por meio de exames de impressões digitais realizados com apoio da Justiça argentina e da Embaixada do Brasil.

Tenório Jr. desapareceu em março de 1976, às vésperas do golpe militar argentino, em um contexto de repressão coordenada pelas ditaduras sul-americanas, conhecido como Operação Condor.

Considerado um dos grandes nomes da música instrumental brasileira da época, Tenório Jr. foi referência no samba-jazz e na bossa nova. Com carreira marcada por parcerias com Vinicius de Moraes, Toquinho e Leny Andrade, Tenório deixou sua marca em álbuns antológicos e festivais nacionais e internacionais.

Francisco Tenório Cerqueira Júnior nasceu em 4 de julho de 1940, no bairro das Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Ele começou sua formação musical aos 15 anos, estudando acordeão e violão, até se dedicou ao piano — instrumento que o consagraria como um dos maiores nomes do samba-jazz. Na década de 1970, tornou-se figura central no Beco das Garrafas, reduto da bossa nova em Copacabana, na Zona Sul.

Ao longo da carreira, Tenório Jr. colaborou com grandes nomes da música brasileira, como Vinicius de Moraes, Toquinho, Wanda Sá, Leny Andrade e Edson Machado, entre outros. Sua atuação como músico de apoio em shows e gravações contribuiu para consolidar o estilo sofisticado da bossa nova e do samba-jazz.

Em março de 1976, Tenório Jr. embarcou em uma turnê pela Argentina e Uruguai ao lado de Vinicius de Moraes, Toquinho, Mutinho e Azeitona. O grupo se apresentou em Buenos Aires, Punta del Este e Montevidéu. Após um show no Teatro Gran Rex, o pianista saiu do hotel Normandie, onde estava hospedado e nunca mais voltou.

Segundo investigações, Tenório Jr. foi confundido com um militante político e detido por agentes do serviço secreto da Marinha argentina. Ele teria sido levado para a Escola de Mecânica da Armada (ESMA), centro clandestino de detenção e tortura, onde foi mantido por nove dias antes de ser executado. Seu corpo foi encontrado em 20 de março de 1976 em um terreno baldio próximo a Buenos Aires e enterrado como indigente no Cemitério de Benavídez. Na época, o desaparecimento teve pouca repercussão no Brasil, devido à censura imposta pela ditadura militar.

A confirmação da identidade de Tenório Jr. só veio em 2025, após quase cinco décadas de buscas. A Equipe Argentina de Antropologia Forense realizou exames de RH digital e impressões digitais que permitiram identificar os restos mortais. A Embaixada do Brasil agradeceu às autoridades argentinas pelos esforços na busca por memória, verdade e justiça. A morte de Tenório Jr. se tornou símbolo da violência das ditaduras latino-americanas contra civis inocentes. Ele deixou esposa e cinco filhos, incluindo um bebê de três meses à época do desaparecimento. Seu legado musical permanece vivo entre músicos e admiradores da música instrumental brasileira.

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