Coqueluche em Ribeirão Preto: avanço da doença preocupa autoridades de saúde

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Casos de coqueluche em Ribeirão Preto causam preocupação; saiba como se proteger

São 23 confirmações da doença até agosto, segundo a Secretaria de Saúde. A vacinação incompleta em bebês e queda da imunização em adultos, principalmente gestantes, ajuda a explicar o avanço.

Casos de coqueluche em Ribeirão Preto causam preocupação após três anos sem infectados [https://s01.video.glbimg.com/x240/13925180.jpg]

Dados da Secretaria Municipal de Saúde mostram que Ribeirão Preto (SP) [https://de.de.globo.com/sp/ribeirao-preto-franca/cidade/ribeirao-preto/] registrou 23 casos de coqueluche até o início de agosto.

A situação acende um alerta para autoridades de saúde e especialistas, que apontam a queda nas coberturas vacinais como principal fator para a doença, que pode causar complicações graves, especialmente em bebês com menos de 1 ano.

Em 2024, a cidade voltou a registrar casos após três anos consecutivos sem nenhuma ocorrência. Foram 88 pessoas infectadas, o maior número dos últimos 10 anos.

CASOS ZERADOS POR TRÊS ANOS SEGUIDOS

A coqueluche voltou a aparecer de forma expressiva após um período de controle eficaz graças à vacinação. De acordo com a Vigilância em Saúde de Ribeirão Preto, de 2021 a 2023, a cidade não registrou nenhum caso da doença. A médica pediatra e infectologista Silvia Fonseca, que tem acompanhado a evolução da doença no município e o avanço das ocorrências após anos de estabilidade, vê os casos com preocupação.

“A gente já tinha conseguido controlar a coqueluche. Zerar os casos por três anos foi uma conquista importante, graças a vacinação. Ver esses números voltando a subir, é frustrante, especialmente porque temos vacina e sabemos que ela funciona” — Silvia Fonseca, médica pediatra e infectologista

O cenário de estabilidade por três anos foi resultado direto da ampla cobertura vacinal, especialmente após a inclusão da vacina dTpa (tríplice bacteriana acelular do tipo adulto) para gestantes, implantada em 2014.

Essa vacina tem o objetivo de transferir anticorpos da mãe para o bebê durante a gestação, protegendo a criança nos primeiros meses de vida, período em que ela ainda não completou o esquema vacinal. Desde então, com o avanço da imunização, os números vinham diminuindo gradualmente. De acordo com a especialista, doenças como a coqueluche são altamente transmissíveis e precisam de uma cobertura vacinal próxima de 95% para se manter sob controle. Quando a imunização cai, os casos reaparecem.

A vacina é o principal meio de prevenção da coqueluche — Foto: TOMAZ SILVA/AGÊNCIA BRASIL via BBC

CASOS DA COQUELUCHE EM RIBEIRÃO PRETO

Segundo dados da Vigilância Epidemiológica, o maior pico de coqueluche em Ribeirão Preto ocorreu em 2013, com 90 casos confirmados. Foi justamente naquele ano que o município, alinhado às diretrizes do Ministério da Saúde, passou a reforçar as ações de imunização, sobretudo com a introdução da vacina dTpa para gestantes. De acordo com dados do Ministério da Saúde, a taxa de cobertura da dTpa até junho deste ano era de 19,66%. No ano todo de 2024, o índice foi de 89,89%. O gráfico abaixo mostra a queda expressiva após 2013, seguida por um período de estabilidade sem casos, e, agora, uma nova ascensão em 2024 e 2025.

Veja casos de coqueluche em Ribeirão Preto, SP O ano de 2025 é o 2º com maior número de ocorrências da doença em 10 anos Fonte: Secretaria de Saúde de Ribeirão Preto

Silvia explica que esse padrão é típico de doenças com alta transmissibilidade e dependentes de cobertura vacinal elevada para se manterem sob controle.

“A gente observa surtos cíclicos da coqueluche quando a vacinação cai. Não é uma surpresa epidemiológica. O que surpreende é que, mesmo com vacina disponível, a gente ainda veja crianças adoecendo gravemente”, afirma. Ela alerta que a queda na imunização de bebês, adultos e gestantes durante a pandemia pode ter favorecido o retorno da doença. Durante a pandemia, muita gente deixou de vacinar. As gestantes pararam de ir ao pré-natal com frequência. Crianças perderam doses do calendário. E mesmo os adultos, que deveriam receber reforço com a dTpa, não procuraram a vacina. O vírus da Covid tirou o foco de todo o resto” — Silvia Fonseca, médica pediatra e infectologista

BEBÊS SÃO OS MAIS VULNERÁVEIS

A coqueluche costuma ser mais grave em bebês com menos de 1 ano, principalmente nos menores de 2 meses, que ainda não iniciaram ou não completaram o esquema vacinal. É justamente essa faixa etária que mais preocupa os especialistas.

A doutora lembra que, em casos mais severos, a coqueluche pode levar à internação em UTI, complicações pulmonares e até à morte.

“O bebê pequeno não tem defesa. Ele depende da mãe vacinada para receber anticorpos durante a gestação. Se a mãe não toma a dTpa, ele nasce desprotegido e pode evoluir rapidamente para um quadro grave. A bactéria da coqueluche produz uma toxina que paralisa os cílios das vias respiratórias. O bebê não consegue eliminar o muco e começa a se afogar na própria secreção. É muito angustiante”. Além da vulnerabilidade dos bebês, a volta da doença acende outro alerta: a população adulta também pode se infectar e transmitir, muitas vezes sem saber que está contaminada.

“Um adulto com coqueluche pode não ter os sintomas clássicos. Ele vai achar que está com uma tosse prolongada, uma virose comum, e vai conviver com um bebê em casa, sem saber que está passando a bactéria”, afirma Silvia.

Principal prevenção contra a coqueluche é a imunização — Foto: Divulgação/Semcom

O QUE É A COQUELUCHE?

A coqueluche, também conhecida como “tosse comprida”, é uma doença infecciosa que afeta as vias respiratórias, causa crises de tosse seca e falta de ar. A doença atinge principalmente bebês e crianças. É altamente transmissível, já que o contaminado pode infectar outras pessoas através de gotículas da tosse, espirros ou mesmo ao falar. Segundo o Ministério da Saúde, em alguns casos, a transmissão pode ocorrer por objetos recentemente contaminados com secreções de pessoas doentes, mas isso é pouco frequente. A coqueluche pode ser tratada com antibióticos, principalmente no início do quadro. No entanto, o medicamento tem efeito limitado sobre os sintomas mais avançados, como a tosse. Por isso, além do tratamento, é fundamental o isolamento do paciente infectado para evitar surtos, especialmente em ambientes escolares ou domiciliares com crianças pequenas.

> “O antibiótico interrompe a transmissão da bactéria, mas a toxina já produzida continua agindo no organismo. A pessoa pode continuar tossindo por semanas. Um caso confirmado deve ficar afastado por pelo menos cinco dias após o início do antibiótico. Se não houver tratamento, o isolamento precisa durar até 21 dias após o início da tosse”, explica Silvia.

COMO PREVENIR?

A principal forma de prevenção é a vacina, oferecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para crianças de até 6 anos, gestantes e profissionais da área da saúde. Adultos também podem se proteger com a dose de reforço, que deve ser aplicada a cada 10 anos. No primeiro ano de vida, os bebês recebem a vacina pentavalente em três etapas: aos 2, 4 e 6 meses. Depois, são recomendadas doses de reforço aos 15 meses e novamente aos 4 anos. A pentavalente protege contra cinco doenças: difteria, tétano, coqueluche, hepatite B e influenza tipo B.

‘MORRER POR COQUELUCHE EM 2025 É INADMISSÍVEL’

Para Silvia Fonseca, a atual situação exige uma resposta imediata das autoridades de saúde, das famílias e da sociedade. Ela reforça que a imunização é a única forma eficaz de interromper o ciclo de transmissão da doença.

É como andar de carro sem cinto e com o motorista bêbado. A gente tem o recurso, tem a vacina, sabe como funciona. Morrer por coqueluche em 2025 é inadmissível. A gente precisa vacinar os bebês, os adultos, os adolescentes, as gestantes. Só assim a gente quebra essa cadeia. Não dá para esperar a próxima onda — Silvia Fonseca, médica pediatra e infectologista

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